PATRIMÓNIO - Fornos voltam a cozer cal em Casal de Santo Amaro
Filmagens de documentário ditaram reconstrução do forno, que na sexta-feira volta a cozer cal, após 30 anos de interregno
Trinta anos
depois, a actividade mais emblemática de Casal de Santo Amaro está de volta.
Com efeito, o
forno de cal vai voltar a funcionar, sexta-feira, dia 24 prevendo-se que a
cozedura esteja terminada ao final da tarde de sábado.
Em causa está
um momento histórico se prende com a realização de filmagens para o
documentário “Memórias de pedra e cal”, actualmente em curso. Um projecto que o
município de Penacova abraçou e, apesar de os fornos de cal do Casal de Santo
Amaro terem terminado a sua actividade na década de 80, uniram-se esforços para
os colocar de novo em funcionamento.
Uma tarefa
que, para além do município, juntou o Grupo Recreativo do Casal de Santo Amaro
e a Junta de Freguesia de Penacova. «Ao longo desta semana estão a decorrer os trabalhos
preparatórios para que se volte a cozer cal no Casal de Santo Amaro», sublinha a
vereadora da Cultura A autarca
esclarece que aos trabalhadores da autarquia se juntaram muitos voluntários que «estão a
proceder ao emparedamento de um forno com pedra calcária, proveniente das pedreiras
daquela localidade e ao transporte de material lenhoso para junto do forno». O
grande objectivo, sintetiza, é que esteja tudo pronto para, no dia 24, às 8h00,
«pela primeira vez, após 30 anos de interregno, acender um forno de cal». A vereadora
não esconde as expectativas com esta prova de fogo, que se prolonga até ao final
da tarde de sábado, altura em que se
prevê que a «cozedura da pedra esteja terminada».
A equipa
responsável pelo projecto, que inclui o sociólogo Paulo Peixoto, o arquitecto
Pedro Providência,
ambos portugueses e os brasileiros Regina Abreu e Noilton Nunes, ela antropóloga
e ele realizador, vai acompanhar todo o processo e colher as imagens. O documentário
quer dar testemunho sobre o modo como o Mondego e a sua geologia influenciaram as
técnicas de construção de edifícios, bem como as actividades económicas nos 14
concelhos por onde o rio passa.
Os trabalhos
começaram em Outubro e a estreia está prevista para 24 de Janeiro de 2013, em
Portugal e no Brasil.
No nosso país
a apresentação realiza-se no âmbito de um seminário resultante de uma parceria
entre o Centro de Estudos Sociais da UC, Mosteiro de Santa Clara, Direcção Regional
da Cultura do Centro, entre outros parceiros.
Métodos construtivos nos 14 concelhos
ao longo do Mondego filmados por realizador brasileiro
Um pequeno pedaço de revestimento do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha
poderá ser o ponto de partida para descobrir as técnicas utilizadas no
passado na construção de edifícios e para perceber como utilizá-las na
reabilitação e valorização do património?
Responder à questão é o desafio de uma equipa composta por
um sociólogo e um arquitecto portugueses e uma antropóloga e um realizador
brasileiros que, desde Outubro, está empenhada em realizar um documentário sobre
o modo como o Mondego e a sua geologia influenciam as técnicas utilizadas na
construção de edifícios e o desenvolvimento das actividades económicas nos 14
concelhos por onde o rio passa.
Imagens de 19 centros históricos, dos processos de
extracção de matérias primas, assim como da produção de cal, em Cantanhede e
Penacova farão parte de “Memórias de Pedra e Cal”, documentário que estará
terminado em Dezembro e será apresentado a 24 de Janeiro em Portugal e no Brasil, no “Seminário Património
Cultural - Portugal e Brasil: Para onde vamos?” que decorrerá em Coimbra. «Queremos
que seja um filme popular, que chegue aos estudantes, professores, de grande
abrangência e comunicabilidade », afirmou Noilton Nunes, realizador brasileiro
responsável pelo documentário que ontem visitou, com Regina Abreu, antropóloga,
o Centro Interpretativo do Mosteiro de Santa Clara-a-aVelha, onde está patente uma
exposição sobre as técnicas da construção ao longo do rio Mondego. A
«comunicabilidade» é de tal forma importante para Noilton Nunes que quer tornar
públicas imagens do filme, ao longo do processo de produção, e aceita sugestões
que possam enriquecer o seu trabalho. Estas poderão ser transmitidas num canal que
será criado, em breve, no site do Centro de Estudos Sociais (CES) da UC, com
informação sobre o projecto.
Integram o projecto o arquitecto Pedro Providência e o
sociólogo Paulo Peixoto, do CES, que realçaram a importância do conhecimento
destas técnicas para a reabilitação dos centros históricos e para valorização
do património, em detrimento das tecnologias mais modernas que são
«incompatíveis com a preservação de edifícios históricos».
O trabalho é uma parceria entre o CES, a Direcção Regional
da Cultura, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Produtora Imagine
Filmes.
Jornalista Manuel Ventura