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ULTRAMAR - Os «Panteras Negras» vieram a Penacova realizar o seu almoço anual

Em mais uma missão de solidariedade e amizade, fomos a Penacova, na manhã do passado sábado, dia 17, acompa­nhar por momentos a Companhia de Artilharia «Os Panteras Negras», que estiveram em missão de soberania no Leste de Angola. A sua primeira missão, chegados a Penacova, ao seu coração comunitário – Largo Alberto Leitão – foi de homenagear os mortos que morreram em combate, depositando uma linda coroa de flores no memorial que ali se encontra, no qual estão inscritos os seus nomes. 


O nosso colaborador Alfredo Santos Fonseca, de S. Pedro de Alva, um combatente também e fundador da Associação de Combatentes do Concelho de Penacova, acompanhou a Companhia no restante itinerário e relata-nos o que aconteceu a partir daquele momento, que foi aproveitado para cumprir um minuto de silêncio:

Toda a comitiva dos «Panteras Negras» seguiu em coluna-auto para o cimo da Serra da Portela de Oliveira. Daquele ponto, alto e magnífico, vislumbraram não só vestígios de bases do inimigo, como caixinhas de recordações daquelas magníficas paisagens que dali é possível desfrutar, não sendo raro ouvir-se a alguns dos visitantes, naturais e residentes em localidades bem diferentes, os seguintes comentários: «que pena não haver alguém com boas ideias e capacidades financeiras para tirar partido desta riqueza que a natureza dotou este concelho».

Todos ficaram maravilhados na visita guiada pelo vice-presidente da Câmara, Dr. João Azadinho e uma sua assessora, ao Museu do Moinho e ainda a um moinho de vento recuperado, que para muitos foi uma novidade nunca vista.

É caso para dizer que é assim se faz publicidade, com divulgação barata, das potencialidades e belezas inexploradas do nosso concelho.
E lá no alto da serra, de onde se avista o belíssimo «refeitório» onde nos ia ser servido um esplêndido almoço (Quinta da Nora, em Miro), que parecia chegar um cheirinho ao maravilhoso bacalhau, a belíssima chanfana e o magnífico leitão, três iguarias (entre outras), bem tradicionais da nossa região, acompanhadas de bom vinho, que no final, aqueles menos coxos, ainda mostraram como se dava ao pé nos bailaricos, nos anos 60 e 70 do século passado.

Todos animados, não faltou um «pantera» cantar o Fado de Coimbra (Samaritana) o Hino dos «Panteras Negras» e ainda a canção de saudação aos «Maçaricos» que os renderam, cantado em coro por todos os artilheiros em uníssono. Depois, passou-se à parte sentida dos discursos, tendo usado da palavra, em primeiro lugar, o dedicado e esforçado organizador deste convívio, António Serafim Oliveira Gonçalves, que em palavras ternas e simples agradeceu a presença de todos, fazendo votos para que todos levem deste acontecimento as mais gratas recordações.

O nosso colaborador, convidado e co-fundador da Associação de Combatentes do Concelho de Penacova, e convidado especial, disse que apesar de não ter pertencido ao grupo dos «Panteras Negras» também tinha comido o pão que o diabo amassou, mas na outra costa de África, mais propriamente no distrito do Niassa, no norte de Moçambique. Aconselhou os presentes a voltarem a estas terras montanhosas, mas com gente hospitaleira, onde se respira ar puro, a par de uma rica gastronomia. Pois, como disse, «isto que aqui degustastes, foi só uma pequena amostra do que temos». Alfredo Fonseca prestou uma sentida e merecida homenagem às mulheres portuguesas, especialmente às presentes, que na altura da guerra eram namoradas dos combatentes, por se terem mantido fieis e acreditando num futuro que era incerto, salvo raras excepções, mas se fosse hoje ainda seria pior.

O ex-capitão Crisóstomo, que comandou aquela companhia no Leste de Angola, manifestou a sua alegria por se ver rodeado por aqueles então adolescentes, que na flor da idade comandou no Leste de Angola; e ao recordar dois companheiros que lá morreram por acidente, o seu coração sobrepôs-se à sua voz que, emocionado, terminou assim a sua intervenção.

O vice-presidente da Câmara, acompanhado pelo vereador do Desporto, Ricardo Simões, em palavras fluídas, referiu que era filho de um combatente, por sinal presidente da assembleia-geral da Associação de Penacova, e por vezes se detinha vendo as fotografias que seu pai trouxera como recordação e por elas se habituou a avaliar o sofrimento que a juventude portuguesa da altura sofreu no Ultramar. Solicitou aos presentes que visitem mais vezes o concelho de Penacova e se detenham a descobrir, em cada canto, belezas ímpares que detém.

Depois de tiradas as fotos de família, e oferecidas lembranças, houve ordem de destroçar.

O próximo convívio, no ano que vem, dos «Panteras Negras», ficou marcado para Tomar.

José Travassos de Vasconcelos - A Comarca de Arganil