TRADIÇÕES - Lembrar a vida das lavadeiras do Mondego
Embora
hoje esses dias já pareçam longínquos, não foi assim há tanto tempo que as
margens do Mondego eram local de trabalho duro, mas também de encontro e convívio
para quase todas as mulheres que viviam nas margens do rio, entre Coimbra e
Penacova. As lavadeiras são agora lembradas e homenageadas na iniciativa que, desde há
cinco anos, preserva a memória da “barrela” no Mondego.
Foi
exatamente o que aconteceu este fim-de-semana, com uma recriação tão genuína que
até S. Pedro colaborou, enviando uma chuvada a fazer lembrar os tempos mais
difíceis e a vida muito dura das mulheres que lavavam a roupa no rio há 40 ou 50
anos. O encontro juntou antigas lavadeiras e todos os que quiseram participar,
na margem do rio, junto à Praia Fluvial de Palheiros e Zorro, numa iniciativa
da Associação Desportiva e Recreativa de Casal da Misarela, Misarela, Ribeira,
Barca e Vale de Canas.
Ao DIÁRIO
AS BEIRAS, Isabel Batista, presidente da Associação Desportiva e Recreativa (ADR)
de Casal da Misarela, Misarela, Ribeira, Barca e Vale de Canas, adiantou que
esta é uma iniciativa para continuar.
“Este é o
quinto ano em que se celebra a lavadeira, com uma homenagem merecida a muitas
mulheres da nossa freguesia e de todos os lugares aqui à volta”, onde quase todas
as mulheres eram lavadeiras, explicou.
Lavavam
e, à segunda-feira, entregavam a roupa às suas clientes em Coimbra. Roupa e
lenha – para os fornos das padarias da cidade – eram transportadas pelos
barqueiros do Mondego, nas suas barcas serranas [de que existe uma réplica no
Parque Dr. Manuel Braga, junto ao Museu da Água] até Coimbra. O facto é que, há
40, 50 anos, “a maior parte das pessoas faziam a sua vida aqui no rio”. As
lavadeiras tinham os seus sítios (mais próximos das suas casas): nos Palheiros,
na Barca, no Bico da Areia (Casal da Misarela, Ribeira e Misarela). E,
amigavelmente, dividiam o areal por lotes para fazerem todas as operações –
lavagem, barrela, coragem e seca – que a limpeza da roupa exigia.
E,
recordaram ontem antigas lavadeiras, esta atividade das mulheres das margens do
Mondego manteve-se até há cerca de 30 anos, altura em que as máquinas de lavar roupa
começaram a fazer parte dos eletrodomésticos habituais em grande parte das
famílias, sobretudo na cidade. Mas ainda há muita gente que continua a lavar a sua
roupa no rio.
Jornalista Lídia Pereira