RECADOS DO PATRMÓNIO - Órgão do Lorvão “falou” às Santas Infantas *
A comunidade lorvanense no pretérito fim de semana (18/19 de Outubro) louvou com a devida pompa as Santas Infantas (Sancha, Teresa e Mafalda), cujos restos mortais (Teresa e Sancha) moram em belíssimas arcas prateadas dos altares laterais da igreja monasterial.
E desta, promoveu-se um memorável concerto musical de órgão (um dos ex-líbris do Mosteiro) em honra das Infantas. O órgão “falou” ou melhor fez-se falar/comunicar através das mãos, pés e cabeça/inteligência do mui e conceituado mestre organista Rui César Vilão, que ao movimentar teclados e controlar pisantes possibilitou a emanação de sons advindos dos 4.000 tubos a cinestesiar na plenitude durante hora e meia as três centenas de pessoas condignamente sentadas no cadeiral do coro ou bancos da Igreja. Rui César interpretou músicas de Johan Sebastian Bach, Carlos Seixas, Philipe Bach, César Frank, André de Solis, Juan Cabanilles e Fr. Diogo da Conceição em 3 partes com mestria e saber a merecer o entusiasmo e aplausos da assistência.
Tratou-se de um fim de tarde animado e concorrido das gentes do Lorvão (e não só) a provar que o investimento e recuperação do órgão foi bem aplicado e a oferecer todas as condições para a sua maximização em outros momentos, que não apenas em situações pontuais, pode muito bem figurar em roteiro de concertos de órgão a nível nacional e internacional
O regresso à Lusa-Atenas, marcado pela ambiência e fruição musical de parte da tarde domingueira justifica o “recado” e convite a leitores do DC a visitarem o Lorvão. Porém, o pesadelo e temor dum mosteiro e sítio que visitamos com frequência motiva reservas preocupantes em relação ao seu futuro. O Lorvão, depois da saída do Hospital, entrou em ritmo de desertificação e o mosteiro sofreu por arrastamento. A questão que se coloca é o de saber-se como inverter a situação? É tempo das agências de viagens e turismo descobrirem os Lorvão, as autarquias promoverem encontros musicais e visitas (obrigatórias/posturas) ao Lorvão e talvez a Universidade de Coimbra a fazer alho mais? Não é aceitável que um diplomado em Humanidades apesar dos contactos literários com o dito Mosteiro nunca tenha visitado o sítio, o que não será estranho pois “um doutor do copo e fitado em dia de latada sentado no Largo da Portagem teimava em afirmar a Portagem ser na estação dos combóios”.
Acontece, não deve acontecer. Neste entendimento, convidam-se todos os lorvanenses e não lorvanenses a repensar e a criar soluções de forma a não deixar entrar o mosteiro em situação moribunda.
*Artigo de opinião originalmente publicado na edição impressa do Diário de Coimbra de 26.10.2014