JUSTIÇA - Três suspeitos do homícidio de Foz de Arouce ficaram em prisão preventiva
Será
um dos crimes mais bárbaros cometidos nos últimos tempos, com um registo de violência
extrema. Francisco Neto e Amélia Lima foram agredidos até à morte por um grupo
de quatro jovens, residentes na zona de Penacova, que a Polícia Judiciária (PJ)
deteve na quarta-feira. Um duplo homicídio registado na madrugada de 25 de
Junho deste ano, que chocou a região, particularmente a localidade de Foz de
Arouce, concelho da Lousã, onde residia o casal.
De
acordo com fonte ligada à investigação, da responsabilidade da Directoria do
Centro da PJ, os quatro jovens, dois homens e duas mulheres, com idades entre
os 22 e os 32 anos, «tinham como móbil o roubo, mas iam preparados para tudo».
Sem uma grande proximidade com o casal, conheciam, todavia, «o suficiente» da sua
vida para equacionarem e planearem o assalto à residência. Um registo em que
poderá ter desempenhado um papel relevante uma das mulheres, também ela
comerciante, que se terá cruzado frequentemente com o ourives em várias feiras.
Um
assalto planeado a preceito, tendo em conta o sistema de segurança reforçado que
o ourives ambulante tinha instalado em casa, onde, além do alarme, tinha um
portão blindado de forma a proteger o acesso à garagem e à habitação. O grupo
inteirou-se da “agenda” do ourives e preparou o assalto para um dia de feira, o
que significaria que Francisco Neto se iria levantar de madrugada, levando
consigo, a bordo da carrinha Renault Kangoo, o ouro que pretendia vender na
feira de Miranda do Corvo.
Terá
sido quando o ourives se preparava para sair de casa, já com a porta da garagem
aberta, que os assaltantes entraram em acção e, como este reagiu e lhes “fez
frente”, «actuaram para matar». De resto, seriam essas as “regras do jogo”
assumidas entre os quatro assaltantes. Francisco Neto foi o primeiro. Seguiu-se
Amélia Lima, que terá sido desperta pelo barulho resultante da luta entre os
quatro assaltantes e o marido. Veio ver o que se passava e também ela foi
violentamente agredida até à morte.
Os
dois corpos terão sido levados para o quarto-de-banho e a porta fechada, sendo
descobertos a meio da manhã por um sobrinho das vítimas.
Depois
de matarem Francisco Neto e Maria Amélia Pedroso de Lima, os assaltantes cumpriram
o desígnio que os levou a assaltar a residência, apoderando-se de ouro e
dinheiro pertencentes ao casal, na casa dos 55 anos. De acordo com fonte da PJ,
presume-se que «terão levado cinco a seis quilos de ouro», entre aquele que o
ourives tinha preparado, nas respectivas maletas, para levar para a feira de
Miranda do Corvo, e o que estava guardado no cofre existente em casa, que os
assaltantes arrombaram e esvaziaram. Além do ouro, sob a forma dos mais
diversos artigos comercializados por Francisco Neto, os assaltantes levaram
«uma quantidade muito significativa de dinheiro », adianta a PJ. Levaram, também,
a carrinha usada pelo ourives para se deslocar para as feiras. Renault Kangoo
que a PJ recuperou, segundo apurámos, recentemente, na albufeira da Barragem da
Aguieira.
Do
produto do roubo a Judiciária recuperou, agora, em poder do grupo, «cerca de
dois quilos de ouro», parte do qual parte estaria, segundo apurámos, «enterrado»
perto da residência de um dos assaltantes. Recuperou, ainda, «cerca de 10 mil
euros» que seria o que restava de «alguns milhares de euros» roubados em casa
do casal de Foz de Arouce. Os investigadores apreenderam, também «quatro
viaturas», pertencentes ao grupo, que terão sido «adquiridas com o produto dos
crimes cometidos » em Junho.
Um
dos suspeitos esteve envolvido no carjaking a Pedro Coimbra
O
elemento mais velho do grupo, de 32 anos, residente na localidade de Ribela,
Penacova, foi um dos protagonistas do carjaking de que foi vítima, em Abril do ano
passado, Pedro Coimbra, presidente da Federação Distrital de Coimbra. Um
assalto sob ameaça de arma de fogo, em Coimbra, quando o também, presidente da
Assembleia Municipal de Penacova se dirigia para casa. Ficou sem o BMW e sem
quase 6 mil euros resultantes de uma iniciativa do PS, que transportava na
viatura. Em Julho deste ano, o indivíduo, que de quando em vez fará uns “biscates”
na reparação de automóveis, foi condenado a uma pena de quatro anos, suspensa por
igual período. Todavia, não será este o único caso a constar do registo
criminal do suspeito, conotado
com crimes de furto, viciação e tráfico de veículos, bem como receptação.
Também
o segundo elemento masculino do grupo, de 22 anos, residente na localidade de
Riba de Baixo, igualmente no concelho de Penacova, tem antecedentes pelo mesmo
tipo de crimes.
Relativamente
aos elementos do sexo feminino, a mais jovem, de 23 anos, estudante, também
residente no concelho de Penacova e não tem antecedentes. Situação que também se
aplica à outra jovem, de 25 anos, residente em Olho Marinho ,
concelho de Poiares, que vende produtos têxteis nas feiras. A jovem mantém um
relacionamento amoroso com o mais novo dos dois homens e também seria ela quem
teria um conhecimento privilegiado sobre a vida e os haveres do ourives de Foz
de Arouce, com quem se cruzava habitualmente nas feiras. De resto, a PJ admite
que terá sido a feirante a “fonte de informação” que conduziu ao assalto.
Os
arguidos chegaram por volta das 16h00 ao Tribunal de Instrução Criminal, de
onde saíram já depois das 23h00. Os dois homens e a mulher mais velha estão em
prisão preventiva, a mais nova obrigada a apresentar-se três vezes por semana
às autoridades .
Manuela Ventura - Diário de Coimbra