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OBSERVATÓRIO DA SAÚDE - Médicos de família vão sinalizar risco de violência

Observatório da Saúde para a Violência entre Parceiros Íntimos avança, no início de 2015, com questionários nos centros de saúde da região Centro


As notícias de mulheres mortas às mãos de maridos ou ex-companheiros repetem-se. Elas são as principais vítimas de violência doméstica e este ano contam-se já 37 assassinatos. Conhecer o contexto de risco da região Centro - quebrando o silêncio, questionando mulheres, sinalizando potenciais vítimas - e actuar, numa rede multidisciplinar, para que o desfecho não seja, mais uma vez, título de jornal.

São estes os objectivos por detrás da criação do Observatório da Saúde para a Violência entre Parceiros Íntimos, ontem apresentado no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

Experiência piloto da Unidade de Violência Familiar do Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do CHUC e da Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC) - em articulação com o Programa Nacional de Saúde Mental da Direcção-Geral de Saúde -, este projecto de prevenção passa, já no início de 2015, pela realização de um “screening” do risco de violência nos centros de saúde. Segundo João Redondo, coordenador do Centro de Prevenção e Tratamento do Trauma Psicogénico do CHUC e um dos responsáveis do Observatório, «são quatro perguntas, que levam cerca de cinco minutos a ser colocadas, e que devem passar a integrar a história clínica das utentes dos cuidados primários de saúde da região», na primeira consulta e anualmente.

O psiquiatra acredita que «perguntar e oferecer apoio é uma forma de quebrar o silêncio» e que os profissionais de saúde têm aqui um papel a desempenhar. Uma «escala de avaliação de perigo» no contexto de violência entre parceiros íntimos vai depois permitir «sinalizar e responder precocemente a problemas de violência».

O sistema informático usado pelos médicos e enfermeiros dos centros de saúde - o SAM - vai passar a emitir um alerta para o preenchimento do “screening”. Ressalvando que «a intenção não é sobrecarregar estes profissionais», João Redondo explica que as situações são encaminhadas para os elementos que, dentro do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES), fazem parte deste projecto de intervenção em rede ou, caso necessário, para a Unidade de Violência Familiar no CHUC que desde 2005 já acompanhou 1071 pessoas (mulheres vítimas e também homens agressores).

Traçando o retrato da região, o Observatório contribuirá ainda para definir políticas e estratégias mais adequadas às necessidades da população.

Região do interior com mais queixas

A ARSC associou ao trauma psicológico oito registos clínicos (entre os quais a reacção aguda a stress, problema relacional com parceiro e acto violento) de centros de saúde nos últimos quatro anos e verificou que ocorrem mais em mulheres e nas regiões do interior, referiu João Pedro Pimentel, do Departamento de Saúde Pública da ARSC. 

Andrea Trindade - Diário de Coimbra