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OPINIÃO - Ainda o Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada


Os Bombeiros participam praticamente na totalidade dos acidentes rodoviários em Portugal. São os Bombeiros normalmente os primeiros a serem chamados, os primeiros a proceder à sinalização inicial das vias de comunicação, os que executam todas as operações de desencarceramento, que prestam os cuidados de emergência pré-hospitalar a mais de 60% das vitimas de acidentes, que efetuam o seu transporte para as unidades de cuidados de saúde. São os Bombeiros, que normalmente executam os trabalhos de limpeza e criam as condições para a reposição da normalidade da circulação rodoviária e são ainda os Bombeiros que garantem a maior parte das ações de formação e de sensibilização junto das populações e em particular das escolas, de que tanto se falou na cerimónia de abertura do Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada.

Curiosamente no passado domingo, dia em que se celebrou, em Coimbra, esta efeméride que é dedicada à memória, não apenas das muitas e muitas vitimas de desastres e acidentes de viação em todo o mundo, mas também que presta homenagem às equipas de emergência, aos Bombeiros, à polícia e a todos os que diariamente lidam com as consequências traumáticas da sinistralidade rodoviária, a Institituição Bombeiros foi quase esquecida e não teve o tratamento adequado ao volume do seu trabalho diário e mesmo à dimensão do seu envolvimento nestas jornadas.

Aliás, já no comunicado de imprensa emitido pela Estrada Viva, os Bombeiros foram omitidos: “A campanha nacional do Dia da Memória conta com o apoio institucional da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, da Direcção-Geral da Saúde, da Polícia de Segurança Pública e da Guarda Nacional Republicana, e tem o patrocínio da Liberty Seguros”.

Mas os Bombeiros não estiveram apenas presentes. Os Bombeiros, aliás, à semelhança dos “Motards”, foram os que disponibilizaram as suas viaturas para distinguir e dignificar o local da cerimónia. Apesar de tudo isto a Instituição Bombeiros não foi convidada a fazer parte das entidades oficiais que discursaram na já referida sessão de abertura. Todas estas entidades nos merecem o maior respeito e consideração, a todas gostámos de ouvir, mas pela dinâmica do nosso trabalho, pela globalidade da nossa participação e pelo envolvimento apaixonado, total e permanente com a sociedade de cada uma das localidades onde estamos inseridos, merecíamos um tratamento no mínimo igual.

Os Bombeiros, esses sim, participam de corpo e alma, ao vivo, assistem na primeira pessoa às tragédias na estrada e sofrem, Eles próprios, quantas vezes as consequências traumáticas dessas vivências.

Este é um tema particularmente caro para mim e para a maioria dos Bombeiros. Já vi sofrer e morrer amigos e conhecidos em centenas de acidentes no IP3 e IC6. Já sofri e já me emocionei com eles e por eles e daí, também e por isso, este meu lamento.

Acreditamos que apenas tenha sido por esquecimento e, porque sabemos o trabalho que tudo isto envolve, felicitamos a organização pela iniciativa e pelo programa, mas não podemos deixar de manifestar a nossa tristeza.

Porque esta data, pelo que significa, deverá ser para repetir, estou certo que para o ano cá estaremos de novo com a mesma convicção e entusiasmo.

Termino com a mensagem escrita, por Alice Pestana da Escola de Educação Sénior, numa flor que retirei do “Jardim Branco” construído no Pavilhão de Portugal: “Ao conduzires, proporciona uma grande felicidade à tua família – chega vivo a casa”.

António Simões - Presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Coimbra e Comandante dos Bombeiros Voluntários de Penacova

Artigo de opinião originalmente publicado na edição impressa do Diários As Beiras de 20.11.2014