ANIVERSÁRIO - Utente da Fundação Mário da Cunha Brito celebra 107 anos de idade
A
vida dura e difícil enrijeceu-a, deu-lhe forças para lutar contra as
adversidades e, até hoje, sempre foi vencedora. Emília Correia é uma “jovem”
prestes a celebrar 107 anos e, apesar da longa vida, mantém-se firme,
independente e bastante lúdica. Curiosa, habituada a liderar, mantém viva a
chama de querer saber tudo e «adora conversar», salienta Ana Paula Martins,
directora técnica da Fundação Mário da Cunha Brito, onde Emília reside desde 2002.
Neta
da aniversariante, que amanhã completa 107 anos, Ana Paula Martins fala com ternura
da vida difícil da avó. Natural de Colmeal da Torre, concelho de Belmonte,
filha mais nova de uma família com quatro irmãos, Emília Correia ficou viúva
com 37 anos. Um acidente “levou-lhe” o marido, José Dias, deixando-a com quatro
filhos, todos pequenos, nos braços e grávida do mais novo. «Fez-se à vida, teve
de lutar para criar os filhos», recorda a neta, lembrando que nessa altura os
tempos eram outros e a ajuda da família não podia ir «por aí além».
O
trabalho na terra, cultivando os campos, sempre foi a sua ocupação e hoje,
rodeada de conforto e cuidados, lembra com alguma nostalgia esses outros
tempos, «de grande carência», onde «não havia abundância» de nada. Emília
Correia conseguiu, com muito esforço e trabalho, criar os filhos, mas nenhum lhe
seguiu o exemplo de longevidade.
Dois
morreram, diz Ana Paula, na casa dos 45 anos e só o mais velho dos rapazes resistiu
até aos 70 anos. Viva, está apenas uma filha, mãe de Ana Paula, Maria Ilda
Correia, com 77 anos, que vive, com o marido, em Colmeal da Torre, depois de
uma vida de emigração na Alemanha.
De
resto, foi essa ausência que criou uma maior proximidade entre Ana Paula e a avó,
de tal forma que numa altura em que os pais estiveram um mês fora, foi para o
centro de dia da Fundação Mário da Cunha Brito, onde Ana Paula trabalha há 20
anos, que a avó veio. «Adaptou-se muito bem, gostou muito de cá estar». De tal
forma que, de quando em vez falava em regressar, o que viria a acontecer em
2002. «Veio por vontade própria e integrou-se na perfeição», diz a neta,
sublinhando que a avó é «muito sociável, adora conversar» e, como tal, depressa
encontrou o seu espaço próprio.
No
dia-a-dia, Emília Correia é bastante autónoma, faz a sua higiene, “sob
vigilância” e move-se com a ajuda de um andarilho. «Mantém uma conversa muito
coerente», apesar de «algumas falhas de memória, absolutamente normais», adianta.
O espírito de liderança, de se “impor", continua intacto, apesar dos quase
107 anos e habitualmente reza o terço, com que anda sempre no bolso.
Há
dois anos esteve mal, apanhou uma pneumonia que a debilitou bastante. «Disse-me
que ia partir», mas «acabou por «perder o comboio», diz a neta, a brincar.
Raramente toma qualquer medicamento, a não ser que lhe doa a cabeça ou esteja
constipada.
Amanhã é dia de festa
Amanhã
é dia de festa Amanhã, à hora do lanche, há festa na Fundação Mário da Cunha
Brito, em São Pedro de Alva, concelho de Penacova. Emília Correia vai apagar 107
velas do bolo de aniversário, um momento a que não vão faltar outros “mimos”,
nem os utentes da instituição, bem como alguns familiares (embora muitos
estejam radicados em França e também na Alemanha). E não vão faltar as
lembranças para celebrar este exemplo de vida, força e coragem.
Manuela Ventura - Diário de Coimbra
Manuela Ventura - Diário de Coimbra