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HORIZONTE - Ruizinho de Penacova na Casa dos Pobres

Chama-se Rui Ferreira da Costa, tem 30 anos, e as suas origens assentam num misto compreendido entre a região centro e a encantadora região do Minho. O pai, carpinteiro de profissão, nasceu no lugar de Vila Nova, bem pertinho da sede do concelho de Penacova, beijado pela doçura do Mondego que mostra as suas bem conhecidas “livrarias”, um prodigioso encanto da natureza com “lombadas” feitas de pedra. Devido à escassez de emprego na terça-berço, bem cedo demandou outras terras, em busca de trabalho que garantisse a subsistência na alvorada de uma vida humilde. Foi parar a Monção, onde assentou arrais e onde cruzou olhares para as almas logo se beijarem em silencio, com a mulher que haveria de levá-lo ao altar para receber a mensagem de S. Paulo, que abriria o caminho para uma vida nova, com a determinação da força anímica, da fé e da esperança. Para além da arte de carpintejar, sentiu-se atraído pelo folclore, o que não seria difícil naquela zona de Portugal, onde a ciência de costumes, crenças e tradições se cultiva no gregário empenho a dar brilho e beleza às coloridas romarias minhotas, em florilégios de alegria contagiante. Santa Marta, Santoínho e outros locais de animação popular foram ponto de encontro deste beirão de Penacova, que cimentou hábitos minhotos herdados pelo filho que haveria de fazer da música do povo o seu ganha-pão, tocando e cantando nos arraiais, e a oportunidade de ser útil a alguém, praticando solidariedade. Foi o que aconteceu no dia primeiro deste Dezembro em agonia outonal, que os registos da História marcam como Dia da Restauração, assinalando o patriótico feito do duque de Bragança, depois monarca D. João IV, da libertação do jugo de régio filipino.


Foi a meio da tarde daquele dia que o jovem cantor Ruizinho de Penacova, simples, afável se deslocou à Casa dos Pobres, para dar a conhecer pormenores da sua vida artística, enriquecida com actuações no Canadá, América do Norte, África do Sul, bem como em várias terras de Portugal, e cantar para a população que a Instituição tem à sua guarda. Já a tarde caía, pardacenta e triste, arrastando a hora crepuscular, quando o nosso visitante deixou a Casa dos Pobres, rumo à sua residência constituída por casa própria que comprou no lugar de Fala, freguesia de S. Martinho do Bispo, a pouca distância do lar, local que privilegiou para viver com a família. Para trás ficava, como que num painel votivo de ternura, a alegria acumulada pelos agradáveis momentos passados por toda aquela comunidade, que vibrou com as cantigas à desgarrada, viras do Minho e cantares brejeiros e de improviso, ao jeito do Quim Barreiros, de quem é amigo e se considera discípulo.

Encantado com a instituição, prometeu voltar com alguma regularidade, porque mora perto e sente-se feliz de dar largas aos seus dotes de amor ao próximo, cantando para a Casa dos Pobres, abrilhantado pelo acordeão ou pela concertina, e também pelo característico chapéu, a adornar o seu esperado talento.

Texto de opinião, originalmente publicado na edição impressa do Diário de Coimbra de 09.12.2014