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LORVÃO - Grupo Etnográfico realiza XVII Encontro de Cantares do Ciclo Natalício


No âmbito do XVII Encontro de Cantares do Ciclo Natalício, que se realiza no Mosteiro Santa Maria de Lorvão no dia 28 de Dezembro de 2014, pelas 15h30, e aproveitando o convite feito pelo Penacova Actual*, os responsáveis pelo Grupo Etnográfico de Lorvão efectuaram uma recolha junto de pessoas fidedignas, com muitos anos de história, capazes de reproduzir com credibilidade as tradições desta época natalícia.

Através dessa recolha, foi possível elaborar um texto, integralmente transcrito das palavras da Sr.ª Maria Prazeres Simões, que aqui se reproduz com o objectivo de divulgar e preservar uma tradição de séculos.

Resta-me agradecer a colaboração e a disponibilidade de imediato prestadas pelos responsáveis do Grupo Etnográfico de Lorvão, e desejar a todos uma Quadra Feliz, como muito sucesso para mais um "Encontro de Cantares do Ciclo Natalício".

Logo que começava Dezembro ouviam-se nas ruas as pessoas que estavam nas suascasas a fazer os palitos e a cantarem os cânticos ao menino, fazendo lembrar que o natal vinha perto.

Na véspera de natal as pessoas faziam “filhoses”, que normalmente só se faziam nessa época. Não havia mais doces além destas.

No que diz respeito às árvores de natal só existiam nas casas de baile porque nas casas onde se vivia não havia.

Mais tarde quando se começou a ouvir falar do sapatinho na lareira, como não havia o que dar, as mães punham num paninho uma filhós e colocavam-na no sapato.

Se havia uma galinha muito bem. Se não, era toucinho, às vezes dado por alguém que tinha um porquito, para se fazer uma sopa de grão, isto para os mais pobres.

O fatinho novo não faltava no dia de natal, tudo primava em ter um fato novo e os xailes bonitos para ir “estriar” à missa. Podia não haver para comer, mas para um fato novo ou um fio de ouro, as pessoas de Lorvão passavam sacrifícios… Em Lorvão, havia pessoas mais abastadas, é certo, mas, as mais pobres eram também vaidosas e alegres.

À noite ia tudo para a bailação, divertir-se tanto quanto possível, até altas horas da manhã.

Os cânticos natalícios têm séculos de história em Lorvão. Eram cantados nas novenas que se faziam ao menino Jesus e às quais acorriam muita gente, para rezar e cantar ao menino, durante nove dias antes do Natal, junto ao altar da Sagrada Família, no mosteiro de Lorvão.

Nos dias de Natal, Ano Novo e Reis fazia-se o cortejo das oferendas (fogaças) ao menino Jesus, vindo do “coro” (Cadeiral do Mosteiro) até ao presépio, indo beijar o menino no fim da celebração da missa.

Eram leiloadas as ofertas ao menino Jesus, no largo do mosteiro, cujos valores dessas oferendas revertiam a favor da igreja.

O “cantar as janeiras” ou “tirar as janeiras” como se dizia em Lorvão, eram cantadas de 31 para 1 de Janeiro, de porta em porta, dando os vivas às pessoas de cada casa.

Levavam candeias e lampiões, para poderem ver o caminho, dado que antigamente não havia luz nas ruas.

Às costas um saco, onde colocavam as dádivas recebidas, nomeadamente, toucinho, chouriço e morcelas. De quando em quando, lá iam “caindo” também uns tostõezitos, que no fim eram divididos por todos.

Havia casas que não tinham nada para dar. Apagavam a luz para pensarem que já dormiam…então, os cantadores “mandavam” estas quadras:

“Esta casa cheira ao alho, aqui mora algum bandalho”

“Esta casa cheira ao unto, mora aqui algum defunto”.´


Grupo Etnográfico de Lorvão


*Este texto foi inicialmente publicado neste site a propósito do XII Encontro de Cantares do Ciclo Natalício, que se realizou no Mosteiro Santa Maria de Lorvão no dia 27 de Dezembro de 2009