OPINIÃO - Novo traçado (ou não) do IP3
Com um tráfego rodoviário de
cerca de 18 mil veículos/dia e uma elevada percentagem de veículos pesados, o
atual eixo do IP3, está hoje entre as estradas mais movimentadas do nosso País
e constitui um dos trajetos essenciais para o transporte de mercadorias para
exportação.
O IP3 e o IC6, conferem a
Penacova uma centralidade ímpar no traçado rodoviário importantíssimo, Coimbra Viseu-interior
norte e a ligação privilegiada à A25, como porta de acesso a Espanha e à
Europa, ao interior e ao litoral.
Contrariamente a muitas outras
vozes, tenho sempre defendido um reforço de investimento no atual traçado,
transformando-o em perfil de autoestrada, em detrimento da construção de uma
nova via alternativa, muito mais cara e portajada.
Porém, as soluções, recentemente
mais faladas, passam pela construção de uma estrada na margem esquerda do
Mondego, que beneficie sobretudo os concelhos servidos pela Estrada da Beira,
com os respetivos Autarcas a lutarem por esta opção, ou, então, pela chamada
Via dos Duques, com ligação da A13 desde Vila Nova de Ceira ao IP3, aos nós de
Coimbra e Souselas, e depois uma nova via a passar pela orla da Serra do Buçaco
em direção à Aguieira sem ligação direta a Penacova. Esta é solução defendida
pelos Autarcas a norte, que veem com bons olhos uma distância um pouco mais
curta entre as cidades de Coimbra e Viseu.
Penacova tem estado no meio deste
jogo de interesses locais, e arrisca-se a ficar fora da discussão a assistir ao
nascimento de uma nova via rápida, com o IP3 a transformar-se progressivamente
numa estrada local, sem a importância estratégica que tem hoje, porventura,
votada ainda mais ao abandono, com consequências necessariamente negativas para
o concelho.
Mas não é apenas por Penacova que
defendo a manutenção e reconversão do atual traçado. A construção de uma nova
autoestrada tem associados custos enormes, não só do ponto de vista financeiro,
e não me digam que são investimentos privados porque já todos sabemos como isso
funciona, mas também, e, sobretudo, do ponto de vista social e ambiental.
A construção de uma nova estrada
implica seguramente o esventrar de uma serra, de uma paisagem que deveríamos
preservar, implica uma alteração profunda do ecossistema existente, e provoca
inevitavelmente alterações sociais, sem que os ganhos de eficácia sejam assim
tão significativos.
Sou dos que defendo que não
precisamos de mais autoestradas, precisamos, isso sim, de melhorar as que
temos, adaptando-as progressivamente às novas realidades, sem onerar ainda mais
as gerações futuras.
Reitero o que escrevi em 15 de
Fevereiro e 18 de Dezembro de 2014, e continuo a entender que Penacova, a sua
população e os seus responsáveis, deviam, isso sim, defender, “com unhas e
dentes”, não a construção de uma nova estrada, mas antes a requalificação da
existente. Saúdo, por isso, a Associação dos Utentes e Sobreviventes do IP3,
que se tem vindo a afirmar como movimento de reflexão e discussão pública e
faço votos para que este movimento se multiplique e consiga, acima de qualquer
ideologia, mobilizar os cidadãos.
António Simões
Presidente da Federação Distrital de Coimbra dos Bombeiros
Artigo de opinião originalmente publicado na edição impressa do Jornal As Beiras de 18.11.2015