LITERATURA - Luís Pais Amante lança livro "Conexões"
Em Agosto de 1973,
quando deixei a casa dos meus Pais, em Penacova, no Cruzeiro e fui para Lisboa,
onde ainda resido, levava a certeza de querer evoluir como homem e de manter
bem presentes, sempre, as bases e os ensinamentos da minha educação, da nossa
simplicidade e da sua honestidade intrínseca.
Eram tempos de grandes
dificuldades, há que admiti‑lo sem vergonhas!
Ao longo destes anos
que, entretanto se passaram – e são os anos de uma vida – tive a felicidade de
ter um percurso ascendente e fui sendo titular de cargos de alguma
responsabilidade.
Modestamente, embora,
sei que construí coisas importantes e que me dediquei a causas interessantes.
Principalmente, sei que
ajudei a consolidar uma Família e um grupo de empresas tradicionais, coesas e
fraternas e solidárias e dedicadas, como as nossas, felizmente, são.
Mas continuei – ou
tentei continuar – a ser a mesma pessoa humilde que nasceu numa terra do
interior, gratificado pelo esforço que fizeram por si, dedicada aos seus
amigos de infância, sem nunca esquecer as suas raízes.
E uma pessoa
firme, por vezes dura, como somos quase todos por aqui, na Beira.
Corri mundo na
minha profissão de consultor e conheci por dentro a problemática das empresas e
as vicissitudes do desenvolvimento, em situações complexas e em países de onde
saí chocado.
Mas sempre aproveitei,
nos tempos livres que se me ofereciam, os ares puros da minha terra, o
acolhimento das suas gentes, a bondade dos meus amigos e o prazer da sua boa
comida, da minha pesca e das minhas caminhadas, que sempre me deliciaram, tudo
servido num prato de beleza natural incomparável.
Ir à minha terra, ao
fim de tantos anos, continua a ser uma gratificante (re)descoberta!
Participar, tanto
quanto possível, nas questões da minha terra, constitui‑se para mim como
imperativo de consciência.
E não ter terra, no
sentido bem português de não ter – e manter –raízes no país profundo, tantas
vezes esquecido, seria para mim um drama, na justa medida em que é aí que
encontro a amizade desinteressada e a genuinidade do povo, essa instituição na
qual tantos dizem ter a razão do seu desígnio, mas que, na realidade vão
esquecendo a cada passo... Da evolução dos seus interesses particulares.
Em boa verdade, vai
sendo a problemática de todo um Povo causticado – tendo como expoente os
indefesos – que se torna a minha fonte privilegiada de preocupação actual, confesso.
Tenho, aliás, a
sensação triste de que a minha geração das liberdades falhou completamente
quando se tratou de proteger, como se lhe impunha, os mais desprotegidos de
hoje: doentes, reformados, idosos, deficientes, sós, desempregados... E demais
pessoas que já não têm tempo para reagir às vicissitudes do País.
Entretanto fui fazendo
poesia – a minha poesia – e fui guardando ou oferecendo, ou dedicando o
meu hobby e passando para as folhas brancas dos livros que fui lendo
todos os meus sentimentos, todos os meus pensamentos, todas as minhas
impressões e todas as minhas apreensões.
Nesses livros encontra‑se,
pois, o meu património literário, parte do qual constitui este livro que eu
agora vos dou.
Sensível aos
argumentos das pessoas mais próximos e, principalmente, da minha mulher,
aquiesci à presente publicação que é despretensiosa e não quer mais do que dar
a conhecer o meu trabalho para além do trabalho.
Sabendo que vou
espantar muita gente que ao longo dos tempos se cruzou comigo (colegas,
colaboradores, amigos, clientes, parceiros, fornecedores, professores) o certo
é que admiti chegado o momento de me revelar a todos nesta faceta singular, que
admito me completa como ser humano e que agora me tempera a idade,
sobremaneira.
O resto, fica sujeito
ao critério a que sempre estive sujeito nas minhas múltiplas actividades
profissionais e ao qual sempre, também, me submeti por inteiro: o do
contraditório e da crítica.
O título Conexões foi
escolhido por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e
interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão
deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos
continentes onde eles se localizaram.
Conectado com a minha
terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde
passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração
para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.
Quase sempre
quando escrevi nas folhas brancas dos tais livros, registei o local e, muitas
vezes, a própria hora. Tal facto pretende transportar‑me para a vivência
concreta daquele momento, ainda hoje quando os releio. Os poemas aqui colocados
neste livro, estando sequenciados no tempo – datados – podem não ser seguidos,
por esses que se lhes seguiram não terem sido para aqui seleccionados.
Dito tudo isto devo
agradecer às minhas fontes de inspiração, em primeiro lugar, a minha mulher,
Ana Marques Lito, a Margarida Ferreira, que me assistiu na compilação, ao
Fernando Mão de Ferro, meu Editor e sua equipa da Colibri (Helena e Raquel) e à
minha sempre amiga Maria José Vera (filha do saudoso poeta António Vera), que
aqui faz o favor de me anunciar ao mundo enquanto poeta, com toda a sua bondade
e conhecimento.
Bem hajam todos.
Aos meus leitores, bom
proveito.
A Penacova e aos meus
conterrâneos, muito obrigado!
Do amigo, Luís Pais Amante