OPINIÃO | O triste ano de 2016
Dois mil e dezasseis tem sido um ano triste. A perda de várias figuras das Artes como Allan Rickman, David Bowie ou Umberto Eco tem contribuído muito para essa tristeza a nível mundial.
Mas a Europa em particular têm
tido um ano triste, e é a crise dos refugiados a maior fonte da nossa tristeza.
Nos corredores de Bruxelas, há
mais urgência em fechar fronteiras e construir vedações do que impedir o
progresso do mórbido espetáculo nas costas Gregas. Os milhares de mortos são já
uma trágica rotina, e os que têm a sorte de cá chegar são vistos com
desconfiança e cara de poucos amigos.
Para isso muito contribuíram os
tristes eventos da noite de Ano Novo em Colónia, na Alemanha. No dia seguinte,
os Europeus acordaram para o terror dos violentos assaltos e agressões sexuais
de que mais de 100 (ou seriam 1000?) mulheres foram alvo no centro da cidade
durante as celebrações.
Foi amplamente
divulgado que a maioria dos suspeitos se tratavam de refugiados com pedidos de
asilo pendentes.
As repercussões não se fizeram
esperar: o chefe da polícia local foi demitido, nova legislação específica para
requerentes de asilo político foi aprovada numa questão de dias, centenas de
artigos de opinião e milhares de partilhas no facebook soaram os alarmes.
Das palavras às acções: um grupo
asqueroso que dá pelo nome de PEGIDA não demorou a organizar “passeios” pelas
ruas da cidade, com o intuito expresso de “atacar pessoas não alemãs”. Ocorrências
que tiveram eco noutras cidades alemãs e europeias.
Hoje mesmo deparei-me com a
notícia de que as autoridades concluíram que a maioria dos
atacantes são estrangeiros que já vivem no país há vários anos e que menos
de metade das denúncias estão relacionadas com crimes sexuais.
Mais: apenas 3 dos 58 detidos
por envolvimento nos ataques realizados contra mulheres durante a passagem de
ano em Colónia são refugiados.
É espantoso perceber como durante
dias a fio se deu cobertura a estes incidentes e as consequências políticas e
sociais a que deram origem. Não é exagero dizer que estas notícias tiveram
influência directa nas políticas externas de vários Estados-Membros, bem como
no crescimento dos movimentos nacionalistas e até nos ataques a centros de
refugiados e populações estrangeiras em geral.
Estou há horas com a tv ligada
num canal de notícias e neste espaço de tempo, houve uma única curta menção a
estes novos dados.
Dá que pensar, não dá?
Rui Sancho