CIÊNCIA VIVA | Equinócio de Outono: quando a noite e o dia se encontram
O Equinócio de Outono deste ano ocorre nesta quinta-feira,
pelas 15h21 (hora continental). Este dia é mais conhecido por marcar o início
da estação do ano do que, propriamente, pelo fenómeno astronómico que a
justifica. Na realidade, esse fenómeno passa completamente desapercebido já que
pouco ou nada tem de espectacular, quando comparado com um eclipse do Sol ou da
Lua, um trânsito planetário ou uma passagem de um cometa. A esta data associamos
o início das agruras do tempo. Tal como diz Almeida Garrett nas suas viagens “… e mandava aquela solitária e remota cela do convento uns ecos surdos,
como os do mar ao longe quando se retira da praia no murmurar melancólico que
precede uma temporal de equinócio.”
Mas porque temos, afinal, equinócios? O movimento da Terra em
torno do Sol “desenha” uma órbita (a Eclíptica) que é inclinada relativamente
ao Equador Terrestre. Diga-se desde já que é por esta razão que os globos
didácticos usados nas escolas são, frequentemente, construídos tendo o eixo de
rotação inclinado relativamente à vertical (a esta inclinação dá-se o nome de
Obliquidade da Eclíptica e o respectivo ângulo tem o valor de 23,5 graus).
Acontece que o Equador Terrestre intersecta a Eclíptica duas vezes por ano: em
Março, originando o Equinócio da Primavera, e em Setembro, dando lugar ao
Equinócio de Outono. Estes dias marcam, respectivamente, o início das estações
do ano e a duração do dia é igual à da noite: 12 horas de Sol e 12 horas sem
ele. Esta constatação milenar está na origem da própria palavra “Equinócio” que
vem do latim aequinoctium: aequus (igual) e nox (noite).
Decorre do que a cima se diz, que o início das estações do
ano têm a sua causa na inclinação do eixo de rotação da Terra e não (como
vulgarmente se pensa) com o facto de a Terra não estar sempre à mesma distância
do Sol. É uma realidade que a distância entre a Terra e o Sol varia, pelo facto
da órbita terrestre ser uma elipse (tal como descobriu Johannes Kepler em 1610)
mas este facto não justifica, por si só, o aparecimento das estações, embora
tenha um efeito na sua duração: o Verão demora 94 dias e o Inverno apenas 89.
Outro aspecto, curioso relacionado com o equinócio de Outono,
é o facto de não ocorrer sempre à mesma hora e dia de Setembro: no ano de 2008
ocorreu no dia 22 pelas 16h44; em 2009 foi também no dia 22 mas às 22h18; em
contrapartida, no ano de 2010 foi no dia 23 pelas 4h09. A razão principal para
esta diferença (que é de aproximadamente 6h entre anos consecutivos) decorre do
facto do ano não ter exactamente 365 dias, mas 365 dias mais 6h. A compensação
desta diferença, como se sabe, só é feita de 4 em 4 anos (com a introdução do
ano bissexto). Porém, a Terra nada sabe destes artifícios humanos pelo que
continua o seu perene movimento em torno do Sol, de acordo com a sua própria “vontade”.
E quanto a nós, fica a certeza que, depois de quinta-feira, a Noite vai
ganhando ao Dia … até que venha a Primavera
João Fernandes - Director Observatório Astronómico Universidade de Coimbra
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