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REENCONTRO - Companhia de Artilharia 1542 “formou” em terras de Penacova

Só quem viveu a guerra do Ultramar, sobretudo nos teatros de operações mais difíceis e que tantas mortes e feridos causou entre os jovens portugueses, é que pode sentir o que representa, 50 anos depois, o reencontro de antigos militares em convívios (e tantos são, felizmente, um pouco por todo o país) que integraram Companhias e Batalhões do Exército Português, como aconteceu no passado sábado, durante o encontro de convívio da Companhia de Artilharia 1542, em terras de Penacova,



Organizado por Alfredo Santos Fonseca, de S. Pedro de Alva, este foi um encontro especial, porque este ano comemoravam-se as bodas de ouro da formação e embarque para Moçambique dos artilheiros que fizeram parte da Companhia. E de facto, à chegada a Penacova, era notada a alegria do reencontro, os abraços sentidos, a emoção e as lágrimas de todos aqueles que responderam à chamada e disseram “presente”. E foram bastantes, a maior parte acompanhados das famílias. As recordações das histórias e memórias dos dramas e angústias da guerra, mas também os bons momentos passados pelos então jovens militares em terras de Moçambique e que o organizador do encontro tão bem soube descrever, num dos seus livros, “Memórias do Sofrimento”. E que voltou a recordar durante o magnífico almoço, servido depois na Quinta da Nora, em Miro, às mais de 150 pessoas presentes e onde também esteve o presidente da Câmara Municipal, Humberto Oliveira.

“Ficou a amizade que andou no meio dessa guerra”, foram palavras do padre Aníbal Castelhano, durante a Eucaristia que, antes, foi celebrada na igreja matriz de Penacova, durante a qual foram sufragados (e chamados) os militares que, em combate ou já na vida civil, partiram e que fizeram parte da Companhia de Artilharia 1542, que serviu no norte da antiga província portuguesa de Moçambique. E como salientou ainda o celebrante, foi “esta gente que já partiu e que faz connosco uma ponte entre a terra e Deus” que foi recordada, exortando aos antigos militares para continuarem a sua missão, unidos cada vez mais, “a força que precisamos para continuar a caminhar”, terminando por considerar “importantes estes encontros para reactivar estes sentimentos de amizade que não se podem perder”. Porque “ninguém se faz sozinho”.

Terminada a Eucaristia e na presença dos antigos camaradas e das famílias, também dos representantes das Associações de Combatentes de Penacova e Arganil, respectivamente António de Miranda, António Vasconcelos e Artur Correia, o organizador do encontro não quis deixar de colocar uma coroa de flores junto ao monumento aos Combatentes do Concelho de Penacova “que esforçados em terra, mar e ar escreveram com honra páginas da História de Portugal”. E que nem sempre Portugal soube honrar ou esqueceu, como aconteceu com o cabo Manuel Joaquim Piedade de Sousa, também da Companhia de Artilharia 1542 que, não sendo reconhecido pelos seus feitos, Alfredo Fonseca não quis deixar de homenagear durante o almoço, salientando que com “a sua coragem debaixo de fogo” salvou “a vida dos seus companheiros, colocando a dele em risco”. E recordou muitas ou­tras situações passadas na guerra, interrogando mesmo: “quem sabe quantos de nós não estaríamos aqui agora se não fosses tu?”.

E perante os companheiros e porque, como disse Alfredo Fonseca, “a Pátria ingrata, ou as chefias militares não o fizeram, mas nós, aqueles a quem tu, num impulso de morrer ou vencer, defendestes com arrojo e valentia, estamos aqui a fazer o que já devia ter sido feito”, entregando ao cabo Piedade Sousa, em nome dos companheiros presentes, “não a medalha de serviços distintos com palma, como merecia, mas a medalha evocativa do nosso reconhecimento e louvor”.

Foi mais um momento emocionante do encontro, usando depois da palavra António Vasconcelos e António de Miranda para, em nome das Associações que representavam, se associarem àquele encontro de antigos militares e deixarem votos que “continuem com esta força”, enquanto o organizador voltou a recordar, com palavras carregadas de emoção, um pouco do muito que, desde a recruta até ao final da comissão, foi vivido pelos militares que integravam a Companhia. E agradeceu a presença dos que responderam à chamada “numa demonstração inequívoca de que estais apostados em fortalecer a amizade desta nossa segunda família, formada há 50 anos, em condições bem difíceis”, registando também com agrado a presença ao ex-alferes Romano Oliveira “que se deslocou da Ilha da Madeira”, do ex-furriel Manuel Veríssimo, que veio de Silves, e também de Artur Carvalho Martins que veio de Vila Nova de Cerveira, a tantos outros que também vieram de longe e de perto, bem como a presença de familiares “do nosso infeliz companheiro José Vaz Saleiro Lima, que deixámos enterrado à beira do rio Luatize”, terminando com agradecimentos e por deixar o repto, “preciso de algum de vós que se disponibilize a organizar o almoço de convívio de 2017” e, para o efeito, acabou por se oferecer Silvino Lourenço Ferreira, de Pataias.

E a “operação” estava terminar e mais uma vez com a consciência de “missão” cumprida, nem sem que antes fosse cortado e distribuído o bolo comemorativo, para depois começarem as despedidas, os abraços de um “até para o ano” e, como referiu ainda o organizador, os votos de que todos “leveis deste acontecimento as mais gratas impressões e desta terra as melhores recordações”.

J. M. Castanheira - A Comarca de Arganil