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ESTRADA DA MORTE - IP3 registou 19 mortos e 48 acidentes graves desde 2010























Penacova marcada por muitos acidentes 


No distrito de Coimbra, o concelho de Penacova foi dos mais fustigados com acidentes mortais no IP 3. Chegou mesmo a ser ali criada a Comissão de Utentes e Sobreviventes do IP3. 

Apelidada de “estrada da morte” pela Liga dos Bombeiros Portugueses, o Itinerário Principal 3 (IP3), que liga Coimbra a Viseu, registou na semana passada mais uma morte, uma mulher de 33 anos, residente no concelho de Viseu. Esta foi a terceira vítima mortal em acidentes no IP3 este ano, segundo dados da Guarda Nacional Republicana (GNR). 

De acordo com a mesma fonte, desde 2010, o IP3 foi palco de 48 acidentes graves (com pelo menos um ferido grave) dos quais resultaram 19 mortos, 54 feridos graves e 41 feridos ligeiros. De fora desta contagem estão todos os outros acidentes em que houve apenas feridos ligeiros, e que deverão ser centenas nestes sete anos em análise. 

Este ano, a GNR já registou 10 acidentes graves, com três vítimas mortais, 15 feridos graves e oito feridos ligeiros. O ano ainda não terminou e 2016 já teve mais acidentes graves e mais pessoas feridas com gravidade do que os restantes anos. 

De 2010 a 2015, os acidentes graves variaram entre os três e os oito, e os feridos graves entre três e nove. Também o número de mortos foi variável: tanto em 2011 como em 2013 houve uma vítima a lamentar, em 2014 duas vítimas, em 2010 três vítimas, em 2012 quatro e, em 2015, cinco vítimas mortais. 









É um susto ver os nossos ali"

Em conversa com o nosso jornal, o comandante dos Bombeiros Voluntários de Santa Comba Dão lembrou alguns acidentes que o marcaram desde que o IP3 foi concluído, na década de 1990. Hélder Mota recordou especialmente aquele em que o filho esteve envolvido, em Novembro do ano passado, cuja viatura foi “abalroada” depois do cruzamento para o Cunhedo (concelho de Penacova, distrito de Coimbra). «Não houve mortes e o João foi o único ferido grave desse acidente», contou, acrescentando que o filho ainda não está completamente recuperado, pois teve de voltar a ser operado na semana passada. 

Hélder Mota foi para o local apenas como pai e não como comandante dos bombeiros e só no final dos trabalhos de desencarceramento é que revelou o seu cargo. «Até lá chegar foi uma ansiedade enorme mas o facto de ter falado com ele já me deixou mais descansado. Mas é uma ansiedade, um susto, é ver um dos nossos ali», confessou. Como viu que o trabalho de desencarceramento estava a ser «bem feito» pelos bombeiros de Penacova, não interferiu. «A qualidade dos meus homens, dos de Penacova, de Mortágua, com quem tenho trabalhado em acidentes, no primeiro socorro, é muito boa. Temos voluntários altamente profissionais e isso deixa-nos descansados», elogiou. Na opinião do comandante, o que, por vezes, dificulta o trabalho dos bombeiros são os equipamentos e materiais de desencarceramento das corporações que não conseguem acompanhar a constante evolução tecnológica dos carros. 

Largas dezenas de acidentes 

Hélder Mota recordou outros acidentes ocorridos no IP3, principalmente na sua área de intervenção, como o de 24 de Março de 2001, dia em que um autocarro se despistou junto ao nó do Vimieiro (Santa Comba Dão) provocando a morte a 14 pessoas, todas residentes em Travassós de Cima (Viseu), que regressavam de um passeio a Fátima. No mesmo local, quatro jovens de Nagosela (Santa Comba Dão) perderam a vida quando se despistaram na viatura em que seguiam. 

«A ausência de separador e o cruzamento que havia na altura para o Vimieiro, que não era como agora, deram origem a muitos acidentes e muitas mortes. Não quero exagerar mas, entre as duas pontes – na descida por trás da Escola Cantina Salazar e o fim da ponte sobre o Dão -, já morreram 50 pessoas, e não era considerado um ponto negro”, evidenciou. O comandante fala em «largas dezenas», senão «centenas», de acidentes que aconteceram no IP3 desde que começou a funcionar em pleno entre Coimbra e Viseu. Um dos pontos mais críticos era a zona da antiga ponte do Chamadouro. 



Um rasto de morte e destruição na albufeira da Aguieira em Abril de 2012 

Há quatro anos, o acidente mais grave, registado desde 2010 no IP3, aconteceu na manhã de 10 de Abril de 2012 e causou três mortos e um ferido grave. Aconteceu a escassos metros da estação de serviço do Chamadouro (Santa Comba Dão) e resultou do despiste de uma viatura ligeira, que circulava no sentido Viseu- -Coimbra, e que foi colidir com um camião TIR que ia em sentido contrário. A violência do embate partiu ao meio o carro onde seguiam as vítimas mortais, que foram “cuspidas” para o asfalto. 

Nesse dia, as condições climatéricas eram adversas, tendo esse facto sido mesmo apontado pelas autoridades policiais para a causa provável do despiste. As vítimas mortais, recorde-se, eram naturais da Guarda e deslocavam-se a Coimbra para tratamentos oncológicos. 

Segundo o Comando Distrital de Operações de Socorro de Viseu, o acidente ocorreu às 9h47, ao quilómetro 75 do IP3, obrigando ao corte do trânsito nos dois sentidos. A circulação só foi reposta cinco horas após o acidente, depois de feita a limpeza da via e da remoção dos destroços deixados no local pelo veículo ligeiro. 

A culpa é da estrada ou dos condutores? 

O piso molhado ou as condições da estrada poderão ter estado na origem de muitos acidentes no IP3, mas será que são as únicas causas? Para o comandante dos Bombeiros de Santa Comba Dão, Hélder Mota, são dois os problemas: “A estrada tem um perfil que não é perfeito, embora o escoamento de águas tenha melhorado com as últimas intervenções, e o condutor nem sempre adapta a velocidade às condições do piso e às condições meteorológicas”. Na sua opinião, os separadores vieram diminuir os acidentes e a sua gravidade, pois os casos mais críticos em que há registo de mortes são os choques frontais em locais sem separadores. “Devia haver um estudo para perceber como é que acontecem acidentes com bom tempo, em zonas com bom piso e boa visibilidade porque há acidentes em rectas que não se percebe como é que acontecem”, concluiu. Hélder Mota deu como exemplo o acidente da semana passada, em Tondela 




“Via dos Duques” ficou na gaveta 

A 7 de Agosto de 2015, o então primeiro-ministro Pedro Passos Coelho esteve junto à nova ponte sobre a foz do Rio Dão, entre Mortágua e Santa Comba Dão, para participar na sessão de apresentação da nova ligação Coimbra-Viseu, um estudo levado a cabo pela Infraestruturas de Portugal (IP) que previa a ligação entre as duas capitais de distrito em perfil de auto-estrada, com o aproveitamento de itinerários já existentes e mantendo o IP3 sem portagens. 

A infra-estrutura, baptizada de “Via dos Duques”, seria construída por “etapas”: uma primeira, com novo troço, entre Ceira (Coimbra) - aproveitando a A13 -, e a zona Aguieira; uma segunda, com duplicação de vias do actual IP3 entre a Aguieira e Santa Comba Dão; e uma terceira que aproveita o IC12 – que passaria a ser portajado -, de Santa Comba Dão até à ligação à A25, em Mangualde. Na ocasião, o então presidente da IP, António Ramalho, avançava números que atestavam a “saturação” do IP3: «(...) é um importante eixo de ligação entre quatro auto-estradas, com uma média de 18 mil veículos/dia, em que 15% são pesados». Passos Coelho lembraria ainda que a auto-estrada seria inteiramente suportada por privados, havendo mesmo já interessados. 

Com a mudança de Governo, o projecto parou. E não se sabe se passará do papel. No conselho regional realizado em Fevereiro último, em Castelo Branco, o secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme d’Oliveira Martins, disse que «não há condições financeiras» para avançar com o projecto da Via dos Duques, esclarecendo que os projectos que o anterior Governo anunciara «não tinham financiamento garantido» 


Pormenores IP3 concluído em 1998 


O IP3 é um troço em perfil de via rápida, com uma extensão de 77 km entre Viseu e Coimbra. Foi concluído em 1998. 

Separador até Penacova 

O concelho de Penacova era, porventura, em toda a extensão do IP3, palco dos acidentes mais graves. E só a pressão das populações e das autoridades levou, no início do novo milénio, à colocação de um separador central em toda a extensão do troço compreendido entre Oliveira do Mondego e Coimbra. O número de mortes baixou consideravelmente. 

Locais que pedem atenção 

No sentido Coimbra-Viseu, é a partir de Santa Comba Dão que o traçado se torna menos sinuoso, mas não deixa de ter locais que requerem especial atenção: são os casos da ponte em curva do Faíl, já no concelho de Viseu, ao km 114, e antes desta, a descida com uma inclinação de 7%. Isto apesar de existir separador central. 

Nova ponte no ano passado 

No início de Agosto de 2015, foi aberta uma nova ponte sobre o rio Dão, localizada ao km 75 do IP3, na zona da Aguieira, na fronteira entre os municípios de Mortágua e Santa Comba Dão. Simultaneamente, a ponte original, que fora construída em inícios da década de 1980, foi encerrada. 


Catarina Tomás Ferreira - Diário de Coimbra