CIÊNCIA - Investigadores da UC descobrem potencial marcador para Hipertensão Arterial Pulmonar
Uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de
Coimbra (FMUC) e do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) descobriu que a molécula MicroRNA-424(322),
presente na circulação sanguínea, tem
potencial para vir a ser usada como marcador de diagnóstico e prognóstico da
hipertensão arterial pulmonar.
A hipertensão arterial pulmonar é uma doença rara que, se não for
diagnosticada e tratada atempadamente, pode levar à morte dos doentes, em menos
de três anos.
O estudo, já publicado na revista “Cardiovascular Research”, foi realizado
em duas fases. Primeiro em contexto clínico, envolvendo perto de uma centena de
doentes e um grupo de pessoas saudáveis (para efeitos de controlo), e
posteriormente em laboratório, com recurso a modelos animais de hipertensão
pulmonar.
Henrique Girão, investigador da FMUC e coordenador do estudo, explica que a
hipertensão arterial pulmonar é uma doença em que há uma disfunção ao nível da
vasculatura pulmonar, com consequências no coração, «e o que o Rui Baptista, médico e primeiro autor deste estudo,
identificou na componente clínica deste trabalho, utilizando doentes com
hipertensão arterial pulmonar, foi uma molécula - MicroRNA-424(322) - que está
presente em maiores quantidades no sangue dos doentes quando comparado com
pessoas saudáveis».
Após o estudo das alterações observadas nos doentes, a equipa prosseguiu o
trabalho em laboratório, para investigar as causas e implicações do aumento da
MicroRNA-424(322) na doença. Os resultados obtidos permitiram identificar a
forma como as alterações iniciais, ao nível do pulmão, são transmitidas ao
coração.
A compreensão dos mecanismos de comunicação entre órgãos, neste caso entre
o pulmão e o coração, «é muito
importante para se poder ter uma visão mais integrada da doença. Assim, foi
possível conhecer melhor como é que as modificações ao nível dos vasos do
pulmão, que estão normalmente na base da doença, são transmitidas ao coração,
em particular ao ventrículo direito, cujas paredes começam a ficar mais grossas
e menos elásticas», sublinha Henrique Girão.
Este fenómeno, denominado hipertrofia, faz com que «o coração perca alguma da sua capacidade de contração, levando ao
falecimento dos doentes por insuficiência cardíaca», prossegue o
investigador da FMUC.
O passo seguinte da investigação passa por aumentar o número de amostras de
doentes, para haver uma validação consistente com vista a uma utilização
clínica do marcador agora descoberto. «A
ideia poderá ser, num futuro próximo, por exemplo num contexto de diagnóstico
clínico, fazer a recolha de sangue, ir à procura deste MicroRNA e, consoante os
níveis detetados, podermos antecipar e prever de que forma é que a doença vai
evoluir», sugere.
Além da importância clínica e qualidade científica da descoberta agora
publicada, Henrique Girão destaca ainda o facto de «este trabalho ter contado com a participação ativa, na componente de
natureza laboratorial, de um clínico, o que é fundamental para o sucesso do
estabelecimento da ponte entre a investigação fundamental e a investigação
clínica».
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