TRAGÉDIA - Dois irmãos morrem a tentar salvar os bens


Alfredo e Américo Simões foram com a melhor das intenções mas acabaram por perder a vida. Este domingo deram tudo para ajudar a salvar os bens agrícolas da família, mas o fogo que lavrava em Vale Maior e em todo o Alto Concelho de Penacova foi mais forte do que eles. Morreram carbonizados a tentar, sem sucesso, apagar o fogo com mangueiras de água.

Os dois irmãos de 41 e 30 anos, residentes em Coimbra mas com casa em Vale Maior, na União de Freguesias de Friúmes e Paradela da Cortiça, deslocaram-se à aldeia na tentativa de ajudar a salvar a lenha e o material de apicultura do pai guardado no barracão, numa zona ao fundo de Vale Maior. Mas o fogo subiu demasiado depressa. «Sabe o que é o inferno? Só se vê chamas no preto. Fui à varanda e só vi chamas à minha volta», contou uma das moradoras de Vale Maior, que ontem foi visitar o local onde os dois de quatro irmãos viriam a falecer.

«Foi trágico», comentava uma outra moradora, com casa mesmo junto ao barracão dos pais dos irmãos Alfredo e Américo Simões, que este domingo teve as chamas a escassos metros da casa. Ambos casados, contou a moradora, Américo tem dois filhos, o irmão Alfredo três. Têm ainda dois outros irmãos, mais novos, um deles médico, a outra dentista. A vida deles é feita em Coimbra, explicou ainda, contando que o pai vai quase diariamente a Vale Maior, onde se dedica à apicultura, e os filhos vão dando uma ajuda, mais ao fim-de-semana. Além dos irmãos que faleceram carbonizados no barracão em Vale Maior, há mais duas vítimas mortais no concelho. Segundo o presidente da Câmara de Penacova, Humberto Oliveira, uma mulher de 65 anos que estava dada como desaparecida em Lagares, Travanca do Mondego, foi ontem encontrada sem vida. Uma outra, de 85 anos, segundo o autarca, faleceu vítima de queda em casa, na sequência do fogo. Os pais dos irmãos de Vale Maior, ao que o jornal apurou, foram ambos hospitalizados.

O presidente da Câmara de Penacova decretou ontem três dias de luto municipal (ontem, hoje e amanhã). Ao jornal, Humberto Oliveira dizia ontem à noite que o fogo no concelho estava controlado e procedia-se ao levantamento dos prejuízos. Num primeiro balanço, e segundo Humberto Oliveira, há 40 habitações destruídas pelo fogo, entre primeira e segunda habitação. Há ainda, segundo o autarca, um posto de combustível destruído no Silveirinho, bem como uma empresa de transportes de Paredes, uma empresa de azeites e uma outra empresa de Outeiro Longo.

O incêndio que deflagrou este domingo na Lousã e percorreu os concelhos vizinhos, atingiu, no município de Penacova, a zona do Alto Concelho, destruindo tudo à sua passagem, sobretudo nas freguesias de Friúmes e Paradela da Cortiça, S. Pedro de Alva e S. Paio de Mondego e Oliveira do Mondego e Travanca do Mondego. Durante o dia de ontem, não havia em muitos locais telecomunicações, electricidade ou mesmo água.

«Esta é uma casa de primeira habitação nova. Tem dois anos no máximo e está completamente destruída por dentro», contava Luís Correia, de S. Pedro de Alva, dando conta de outras zonas muito afectadas na freguesia, como Lufreu e mesmo o centro da vila de S. Pedro de Alva. «Foi o pânico, o descontrolo total», comentava um jovem de Friúmes que andou a pé toda a noite a tentar impedir que as chamas progredissem aldeia dentro.

Deslocados e desalojados já regressaram a casa

Os seniores e desalojados que passaram a noite de domingo no Pavilhão Municipal de Penacova já puderam ontem regressar a casa.

No pavilhão tinham ficado cerca de uma centena de pessoas, entre utentes do lar do Grupo de Solidariedade Social, Desportivo, Cultural e Recreativo de Miro, que teve de ser evacuado, e algumas famílias que ficaram desalojadas e que já regressaram ou a casa ou a casa de familiares. O presidente do grupo de Miro, Manuel Nogueira, destacou ontem a onda de solidariedade da população que rapidamente fez chegar todos os bens necessários – desde alimentos a roupas – ao pavilhão para acudir aos mais necessitados. 

Margarida Alvarinhas - Diário de Coimbra

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