INCÊNDIOS - Motoristas da Transdev recebem homenagem por salvarem vidas
No
meio do pânico houve coragem que se impôs ao medo. Houve vontade de viver que
levou três motoristas da Transdev a tomarem decisões em situações críticas e
que se viriam a revelar fundamentais para salvar vidas. O “pior dia do ano” fica na retina destes três homens e na memória das
dezenas e dezenas de passageiros que transportavam e que, muitas horas depois,
conseguiam chegar ao seu destino. Sãos e salvos, depois de horas rodeados pelo
fogo.
Eduardo
Botto, Fernando Alves e António Castro foram os heróis que a Transdev ontem
quis reconhecer pela actuação nos trágicos incêndios de 15 e 16 de Outubro. «Sabemos hoje, através dos seus relatos e
principalmente das várias manifestações de louvor e gratidão que muitos
passageiros que seguiam com eles nos fizeram chegar, que estes três motoristas
demonstraram moral, abnegação e conhecimento pessoal, tendo assegurado a
protecção de todos os passageiros, muitos dos quais com dificuldades de
locomoção, quase todos assolados pelo pânico, e que acabaram por chegar sãos e
salvos aos seus destinos», disse ontem Pierre Jaffard, CEO da Transdev
Portugal, na cerimónia de homenagem aos motoristas, no Hotel Tivoli, em
Coimbra.
As
histórias destes três profissionais já foram contadas vezes sem conta, mas de
cada vez que sai mais um relato dos episódios vem ao de cima o medo sentido e a
sensação de missão cumprida.
Eduardo
Botto, um dos motoristas ontem homenageado, recorda as palavras que dirigiu aos
seus 48 passageiros encurralados no IP3, na zona da Aguieira (Penacova). «Posso morrer convosco, mas não vos abandono»,
disse então, naquele trágico 15 de Outubro, quando em pleno IP3 se viu rodeado
de chamas, que o impediam de progredir a marcha ou invertê-la. Tomou a decisão
de enfrentar as chamas e colocar a salvo os passageiros já mais à frente, em
Almaça. Aí, o fogo voltou a atacar e, já com os passageiros a caminhar estrada
fora, andou em contramão e apanhou-os todos, um por um, levando-os para local
mais seguro, em cima da ponte.
Num
outro ponto da região, era Fernando Alves que se via em aflição com 52
excursionistas de avançada idade que gritavam por socorro. Regressavam a casa
após visita a Canas de Senhorim, mas o percurso foi alterado por causa do fogo.
Andou em contramão, ultrapassou destroços na auto-estrada, chegou à área de serviço
de Vouzela, onde julgava estar seguro. Mas não estava. «O fogo saltou para a nossa área de serviço, as pessoas gritavam»,
recordou. Procurou novo destino, que encontrou no centro de Tondela, mas também
aí as chamas chegaram. Voltou a colocar os seus passageiros no autocarro e
procurou novo local seguro, que encontrou num grande jardim onde esteve até às
quatro da manhã. «Já era a terceira vez
que parávamos», recordou.
António
Castro fazia o percurso entre o Porto e Viseu, mas na A1 já não pôde passar. Meteu-se
pela A26, depois A25 onde foi novamente impedido de passar. «O fogo vinha na nossa direcção. Fomos para
a central de camionagem de Albergaria onde passámos a noite até às 9h30»,
contou. «É crucial reconhecer a forma
responsável e profissional como estes motoristas representaram a nossa empresa,
garantindo a segurança», elogiou Pierre Jaffard.
Margarida Alvarinhas - Diário de Coimbra
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