SUSTENTABILIDADE - Incêndios e seca ameaçam população de lampreia nos rios
Investigador da
Universidade de Évora alertou hoje para os efeitos nefastos dos incêndios e da
seca prolongada nas populações de lampreia e diversos peixes que povoam o
Mondego e outros rios portugueses.
Para Pedro Raposo de Almeida, a diminuição acentuada dos caudais e a pouca ou nenhuma água existente
nos locais profundos dos rios, em cujos sedimentos as larvas de lampreia se
desenvolvem até poderem migrar para o oceano Atlântico, são actualmente uma
das maiores ameaças para este ciclóstomo do tempo dos dinossauros.
Responsável pela
monitorização da fauna piscícola das bacias hidrográficas do Mondego e do Vouga, entre outras, o docente universitário falava à agência Lusa sobre o
impacto dos fogos florestais de 2017 e das alterações climáticas,
designadamente da seca, no habitat das lampreias e na fauna piscícola dos rios
em geral.
"As larvas de lampreia movimentam-se" nas zonas lodosas, mas
"não fazem grandes jornadas",
ficando um "bocadinho à mercê das
variáveis ambientais", declarou.
A falta de água, associada
ao escorrimento de cinzas dos fogos para o leito dos rios e diversas formas de
poluição, doméstica ou industrial, matam um número elevado de larvas e
"muitas que conseguem atingir os estuários" acabam por sucumbir
devido à sua debilidade, sem chegarem a entrar no mar.
Por sua vez, os animais
adultos que, no inverno e em circunstâncias normais, demandam o interior das
bacias hidrográficas para desovar, acabam por não subir os rios.
"As lampreias detectam a presença das larvas" da sua
espécie a montante da foz, através das substâncias que estas libertam na água e
que funcionam como "sinais" para as adultas, que entram nas zonas
estuarinas, mas não chegam a prosseguir viagem para o interior, explicou à Lusa
Pedro Raposo de Almeida.
Este ser aquático cuja
sobrevivência remonta ao período dos dinossauros na Terra, há cerca de 300
milhões de anos, sabe descodificar os indícios químicos da presença, a
montante, de larvas mortas ou de outros animais vítimas da seca, concentração
excessiva de cinza dos incêndios e outros poluentes.
"A lampreia é um animal extremamente evoluído na capacidade de captar
pistas", salientou o investigador.
Sem larvas a montante, em
número e de boa saúde, que possam enviar "sinais" de vida para a foz, ou perante caudais reduzidos, as
lampreias adultas não ousam subir os rios.
Por essa razão, os
pescadores e as populações ribeirinhas associam geralmente a abundância de
lampreia às cheias e aos caudais impetuosos do Mondego e demais rios
portugueses.
Em 2017, apenas cerca de 400
lampreias subiram o Mondego, em Coimbra, através da escada de peixes do açude,
de acordo com o sistema de monitorização instalado pela equipa científica
coordenada por Pedro Raposo de Almeida.
"Num ano normal, passam ali à volta de nove mil lampreias",
enfatizou o investigador.
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