INCÊNDIOS - Autarcas alertam para limpeza das matas e falam em empreitada impossível
Autarcas dos distritos de
Coimbra e Viseu consideram que a limpeza dos terrenos nos prazos estipulados é
uma "empreitada impossível" e optam por priorizar as intervenções nas
zonas industriais nas aldeias.
Até dia 15, o município de
Tondela, afetado pelo incêndio de outubro de 2017, espera limpar os terrenos da
autarquia que estejam nas faixas de gestão que integrem os limites dos
perímetros urbanos ou envolventes a casas isoladas.
"De igual forma, pretende garantir que o perímetro da faixa de gestão
envolvente às zonas industriais esteja executado", disse à agência
Lusa o presidente da autarquia, José António Jesus, acrescentando que estão a
ser envolvidas diferentes equipas de sapadores e que o município recorreu a
serviços contratados.
O autarca prevê que possam
também ocorrer limpezas de bermas de estradas localizadas nas freguesias
consideradas prioritárias, recordando igualmente que "é fundamental o empenho e envolvimento de todos".
No entanto, José António Jesus
tem "a perfeita consciência de que,
em muitas destas áreas, pode não ser possível concretizar a limpeza até ao dia
15 de março".
"Além de garantirmos que se concretize a definição das primeiras
prioridades, estimamos investir perto de 500 mil euros, nesta fase. Depois,
veremos qual o montante necessário para resolver aquilo que os privados não
façam, ainda que da sua responsabilidade", explicou.
Em Vouzela, também no distrito
de Viseu, o presidente de Câmara, Rui Ladeira, afirmou à Lusa que no concelho
há "cerca de 35 quilómetros de rede
viária que têm de ser intervencionados no quadro da legislação em vigor".
Ou seja, cerca de 70 hectares
que têm de ser limpos, aos quais se juntam mais 200 hectares "de dez povoados que estão referenciados
como áreas prioritárias", explicou.
Rui Ladeira estima que seria
necessário um investimento na ordem dos 500 a 600 mil euros, esperando que, até
ao final de maio, se possa "fazer
50 a 60 hectares de faixas na rede viária e também naquilo que sejam as áreas
mais urgentes nos aglomerados populacionais".
"É impensável e é impossível querer fazer em três meses o que não se fez
em décadas", frisou.
"Tem de haver uma partilha de responsabilidades tripartida: privados,
autarquias e Estado. Não pode haver aqui ninguém a assobiar para o lado, porque
está em causa o interesse público, a segurança de pessoas e bens",
acrescentou.
Nos últimos dois anos, a
Câmara de Góis, no distrito de Coimbra, investiu 90 mil euros em limpezas de
terrenos sendo que, com a nova legislação, surge um "paradigma diferente, uma pressão diferente de prazos",
sublinha a líder da autarquia, Lurdes Castanheira.
Neste momento, a autarquia
está concentrada no trabalho em torno das propriedades municipais, que estão
muito próximas de aglomerados habitacionais, por forma a "garantir um anel
de segurança dentro da vila".
O município espera também que
o facto de limpar as suas propriedades possa também funcionar como "um exemplo para os privados" e ter
"um efeito contagiante".
No entanto, sublinhou Lurdes
Castanheira, "os prazos não são
curtos, são extremamente curtos", referindo que a autarquia está a
analisar o mercado para contratualizar serviços.
Os trabalhos acabam por estar
concentrados nas áreas prioritárias, até porque os recursos são poucos, notou.
Também
no distrito de Coimbra, em Penacova, espera-se um reforço do investimento na
limpeza dos terrenos, referiu o presidente da Câmara, Humberto Oliveira.
Neste momento, a autarquia
gasta 80 mil euros por ano em cada uma das três equipas de sapadores florestais
que tem disponíveis para trabalhar no concelho, sendo que está agora também em
execução um projeto apoiado por fundos comunitários, de 150 mil euros, para
gestão de combustíveis.
Apesar disso, Humberto
Oliveira recorda que, se agora há "dinheiro
para todas as equipas de sapadores florestais", no passado o município
e uma associação local viram negadas candidaturas para a constituição de mais
equipas.
De acordo com o autarca, a
empreitada que os municípios têm pela frente "é uma empreitada
impossível" e, portanto, optou por definir prioridades.
"As prioridades são as propriedades do município, depois os parques
industriais nos quais temos responsabilidade e, em terceiro, as aldeias. Essas
têm que ser as nossas prioridades", frisou.
Apesar das dificuldades
sentidas no terreno, Humberto Oliveira congratula-se com o facto de o assunto
estar na ordem do dia.
"Já é uma batalha ganha, porque nunca nenhum presidente de Câmara,
político ou particular pensou tanto neste assunto como hoje",
sublinhou.
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