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OPINIÃO - Brincar à política


Coimbra está no centro das atenções, e não é pelos melhores motivos

Há alguns dias o aceso debate sobre a Garraiada como parte integrante da festa da Queima das Fitas traduziu-se num referendo aberto a todos os alunos da Universidade de Coimbra, que resultou numa participação massiva dos estudantes e numa tomada de posição inequívoca, com mais de 70% a dizer não à Garraiada.

Chamado a ratificar a decisão, o Conselho de Veteranos, órgão máximo da Praxe em Coimbra e proponente do referendo, surpreendeu tudo e todos ao decidir manter o evento tauromáquico, invertendo a decisão da larga maioria dos estudantes.

Como era espectável, a revolta fez-se sentir na comunidade estudantil, originando reacções de todos os quadrantes. Sobre este assunto já muito foi dito e outros com maior capacidade e conhecimento que eu já deram a sua visão. No entanto, escrevo porque acredito que tenho algo de novo a acrescentar, nomeadamente, aquela que eu acredito ser a real razão pela qual Coimbra deveria estar sobre o olhar atento de todos os Portugueses neste momento.

Logo a seguir à publicação dos resultados, a principal página de Facebook de apoio à manutenção da Garraiada fez uma publicação em que afirmava categoricamente “A Garraiada vai continuar”, que foi recebida pela comunidade, especialmente entre aqueles que se manifestaram contra a Garraiada, com o escárnio que tal demonstração de falta de espírito democrático – e porque não dizê-lo, ressabianço – justificava.

No auge do gozo ninguém percebeu a ameaça.

Quando se tornou pública a decisão do Conselho de Veteranos de manter a Garraiada, a raiva colectiva teve como alvos preferenciais o próprio Conselho de Veteranos e o seu líder, o Dux Veteranorum. Na passada sexta-feira, o Dux emitiu um comunicado declarando a nulidade desta última votação, por nela ter participado alguém que não estava habilitado para tal, de acordo com os regulamentos em vigor. Mas o mal estava feito.

Pelas redes sociais, o populismo tomou conta das operações e se já antes se lia que o Conselho de Veteranos não faz sentido, que é a antítese de meritocracia, que os veteranos são burros, que o Dux é o maior deles e o clássico “vá mas é trabalhar”; agora lê-se também – e com razão – que ficou demonstrada profunda incompetência.

No entanto, a tempestade está a passar ao lado dos verdadeiros culpados.

Não pretendo aqui discutir a relevância do órgão em questão. Aquilo que prende a minha atenção neste caso é o facto de que um grupo de pessoas procurou subverter a própria democracia. E não foi num país do terceiro mundo ou num Estado longínquo no tempo ou no espaço. Foi aqui, em Coimbra, nos dias de hoje. Alguém acreditou que podia desrespeitar o voto de milhares de pessoas forçando a sua presença num órgão com poder de decisão.

O Dux, o Conselho de Veteranos e a Garraiada tornam-se agora elementos secundários perante aquilo que foi um ataque ao próprio sistema democrático, e que segundo os próprios autores foi em nome da Liberdade!

Não me interpretem mal: a presença e a participação na votação na reunião do Conselho de Veteranos de pessoas que não estavam habilitadas para isso de acordo com os estatutos, é razão suficiente para o Dux Veteranorum apresentar a demissão de um cargo que ocupa há demasiado tempo, mas eu considero que deveríamos voltar o foco da atenção para aqueles que procuraram impor a sua visão à maioria independentemente de leis e regulamentos.

Estamos na presença de verdadeiros inimigos da Democracia.

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