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SAÚDE PÚBLICA - Fogos de outono também trouxeram pragas de ratos



A população da Região Centro afetada pelos incêndios de outubro de 2017 está desesperada com a praga de ratos que, nas últimas semanas, tem invadido casas, estragado culturas e prejudicado negócios. Há o receio de que venham a causar problemas de saúde pública e que o uso de veneno de forma desadequada gere novas adversidades.

Segundo Carlos Fonseca, especialista em vida selvagem, o problema terá sido causado por um desequilíbrio do ecossistema, pois os predadores naturais dos ratos - como águias e cobras - ainda não recuperaram dos fogos. 

Em Covas, Tábua, Ângela Leitão Santos apanhou "15 ratos em armadilhas num único fim de semana". Uma vez apanhou um "junto à cama". Nunca mais dormiu descansada. "São muito mais que o normal e estão em todo o lado", conta. Incluindo na exploração agrícola, onde teme que a praga destrua plantas e afete as culturas.

Venda de raticida dispara

Na mercearia da aldeia de Ponte das Três Entradas, em Oliveira do Hospital, Francisco Costa conta, ao jornal, que vendeu "mais raticida em dois meses do que nos últimos cinco anos". Foram cerca de 45 quilos de raticida granulado, a que se somam pastilhas e ratoeiras em menor quantidade. "Há escolas com ratos e também cafés e restaurantes a lutarem com o problema, que temem perder clientes", revela. Os ratos são "a conversa de todos os dias. As pessoas queixam-se de que estragam culturas, fazem buracos e roem coisas", diz.

Karin Hulsman, do parque de campismo em frente, desesperou. Por muitas "pastilhas, cola, armadilhas e gatos" que arranjasse, não conseguia travar o número crescente de roedores. "Apareceram à noite a hóspedes nos quartos e até no armário da cozinha ao pequeno-almoço", relata. Ouviu queixas e viu clientes irem embora mais cedo por não estarem satisfeitos. Acabou por fechar os bungalows e apartamentos. O "alerta de saúde pública" de Ângela Leitão Santos no Facebook mereceu uma centena de comentários, sobretudo de pessoas de outras localidades com os mesmos problemas: Avô, Moita da Serra, Loureiro, Serpins, Pomares, Penacova, São Martinho da Cortiça, Santo António do Alba.

A lista continua, por vezes com relatos específicos. Em Cunhedo, por exemplo, Luís Rodrigues diz que apanhou "mais de 50 ratos" com cola, em dois meses. Sónia Henriques apela a que o manuseamento de venenos seja feito "com cuidado" para não envenenar por acidente crianças e outros animais. Pedem intervenção das autoridades.

Delegado de saúde avalia

Queimadela Baptista, coordenador dos delegados de saúde do Pinhal Interior Norte, só tinha conhecimento de "um caso pontual" quando foi contactado pelo jornal, mas adiantou que irá aprofundar a questão. Também os autarcas dos concelhos onde o jornal ouviu testemunhos estão a analisar a situação. O jornal não conseguiu obter esclarecimentos do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.

Zulay Costa - Jornal de Notícias

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