PENACOVENSES PELO MUNDO - Alípio Alberto levou a cozinha portuguesa até Moçambique
A vida pessoal não lhe correu de feição. Emprego - o que
a maioria busca no estrangeiro - havia (tinha um restaurante em Mortágua), mas
faltava o resto, tão ou mais importante. Por isso Alípio Alberto Henriques, natural de Penacova, nascido na localidade de Santo Amaro, decidiu fazer as malas e partir rumo ao desconhecido. Garantiu emprego na área
da restauração com um amigo em Benguela, Angola, onde aterrou em 2009, mas mal
chegou a aquecer o lugar. Teve proposta para ir para um restaurante em
Moçambique e foi para lá que seguiu e é lá que continua, mas agora por conta
própria, com um grande negócio que tem tanto de padaria, como de restaurante ou
mesmo de bar, mas tem acima de tudo muito de Portugal.
«Temos o pão que
as nossas avós amassavam antigamente», começa por explicar Alípio Alberto
Henriques, mais conhecido por Beto, para em seguida enumerar uma extensa lista
de tudo aquilo que tem para oferecer no Burako da Velha, o espaço de 1800
metros quadrados que ergueu na cidade de Matola, mesmo à beira de uma estrada
que «parece o IP3», tão perto da
capital Maputo como do país vizinho da África do Sul.
«Tudo aqui é
português, fazemos tudo», garante o empresário, que dá emprego a 64 pessoas,
falando da diversidade de padaria, do pão de água à broa, passando pela
pastelaria variada, onde não faltam os pastéis de nata, ao restaurante, que
serve desde bacalhau à lagareiro à carne de porco à alentejana e onde até há
leitão da Bairrada, assado no local em fornos próprios que Beto mandou
construir para essa finalidade.
«Há quatro ou
cinco anos, tinha 70 a 80% dos clientes portugueses, mas agora é ao contrário,
são mais moçambicanos», afirma. «Eles
gostam da comida portuguesa», garante ainda o empresário que quase não tem
tempo para dormir mas que aprecia a vida em Moçambique que lhe dá retorno. «Quando chegas ao fim do mês e vês fruto do
trabalho vale a pena», admite.
O Burako da Velha funciona 24 horas por dia. Na verdade,
quando estão a sair os últimos clientes do bar - onde há música ao vivo ao
fim-de-semana - já a padaria está a “bombar” no fabrico do pão. Beto entra às
12h00 e sai à hora que for possível. «Uma
ou duas da manhã, às vezes três e quatro ao fim-de-semana», conta. O tempo
que sobra, por isso, não é muito mas visto noutro prisma «é bom sinal», é sinal que o negócio corre bem.
Para Beto, o que existe é um “querido mês de... Setembro”, o mês de encerramento do Burako da
Velha, em que faz as malas e ruma, com a família, a Portugal. «Família, família, família; casa, casa, casa»,
assim define o tempo no «país do coração»,
onde conta um dia regressar até porque, admite, viver em Moçambique «não é fácil» e ambiciona passar a
velhice com qualidade de vida. «Falta
aqui algum desenvolvimento», explica, falando sobretudo de áreas como a
saúde em que «quem quer tem de pagar».
E falta também ainda alguma «segurança»,
de tal modo que é obrigado a ter um empregado à porta «de shot gun 24 horas por dia». «De outra forma é arriscado», comenta.
Recomeçar
do zero depois do incêndio
Quando Portugal vivia o drama dos incêndios do Outubro de
2017, Alípio Alberto Henriques acabava também de viver o drama do incêndio que
destruiu por completo o seu negócio. «Foi
a 10 de Outubro», conta, recordando «clientes
e empregados a fugir». Do que existia, apenas sobraram algumas cadeiras e
mesas que se encontravam no exterior e o prejuízo contabilizado andou «entre os 250 e os 300 mil euros». Foi o
recomeço «do zero», sem qualquer
ajuda e logo nas horas seguintes. «No
dia a seguir estávamos a reconstruir o espaço, nós mesmo, nós família»,
conta, recordando que um mês e meio depois da tragédia, o Burako da Velha
estava «aberto novamente»
Margarida
Alvarinhas – Diário de Coimbra
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