ILUSTRES [DES]CONHECIDOS - Amândio dos Santos Cabral (1884-1952)
Amândio dos Santos Cabral (Penacova 1884 - Brasil 1952) |
Na sua passagem meteórica por Penacova - nos dez anos que aqui
viveu de 1907 a 1917 - deixou marcas da sua juventude, irreverência, capacidade empreendedora, audácia
política e, em especial, do seu grande fervor republicano.
Amândio dos Santos Cabral nasceu em Penacova no dia 3 de Maio
de 1884. Filho de Joaquim dos Santos Cabral, carpinteiro, natural da Galiana, e
de Maria Augusta, fiadeira, natural da vila. Seu irmão, também de nome Amândio,
falecera com um mês de idade em 1881. Os padrinhos serão os mesmos: Joaquim
Augusto, escrivão da Fazenda e Maria Altina Mendes. Oficiou a cerimónia de
baptismo o prior José Maria da Conceição Leite.
Amândio Cabral, segundo registos autobiográficos
recolhidos no Jornal de Penacova, emigrou
para o Brasil por volta de 1900. Em 1907, regressou a Penacova e, logo nesse
ano, comprou o Jornal de Penacova,
passando a ser também o seu editor, substituindo Joaquim Correia de Almeida Leitão.
Ingressou na política local, sendo um dos membros da Comissão
Municipal Republicana organizada em 1908. Do seu carácter combativo, dele dirá Joaquim Pita de Eça Aguiar: ''como jornalista reconhecemo-lo como enérgico e desabrido
e, como político, apaixonado e cioso das suas convicções''.
Amândio Cabral foi sócio-gerente
da Fábrica de Cal Gorda[1],
pertencente à Empresa Industrial de Penacova, situada nos Penedos Negros (Galiana).
Uma fábrica apetrechada "com sistema de altos-fornos a gás'', instalados
sob orientação de engenheiros franceses (Jornal
de Penacova, 22 de Julho de 1916).
Amândio Cabral foi uma das figuras que a nível local mais
se empenhou na implantação da República. Em carta publicada no Jornal de Penacova, quando se
completaram três anos sobre a data em que este "adquiriu a propriedade do
jornal'', António Carlos Pereira Montenegro acentua que fora ele quem fizera
deste semanário um vigoroso órgão do Partido Republicano, considerando que
haviam sido "três anos em luta aberta contra a monarquia decaída''.
Montenegro congratula-se por tudo isso e regozija-se por
Amândio Cabral ter realizado o seu grande sonho de ver no seu "torrão
natal implantada a República''.
Foi ele que em 6 de Outubro, juntamente com Rodolfo Pedro
da Silva, mobilizou os penacovenses para a manifestação no Largo Alberto Leitão.
Ele próprio subiu por uma escada,
colocada exteriormente, ao telhado da Câmara e hasteou a bandeira verde-rubra.
Presidiu à Direcção
do Centro Democrático António José de Almeida, em Penacova, inaugurado oficialmente
no 1.º de Dezembro de 1910. Amândio Cabral privou de perto com António José de
Almeida, participando em eventos e deslocando-se a Lisboa por diversas vezes.
De 1910 a 1917 exerceu funções de Administrador Concelhio,
de Presidente do Senado Municipal e de Presidente da Comissão Executiva da Câmara.
Em 1915
ficou viúvo de Lydionetta de Morais Cabral
(de quem nascera em 1910 o filho Joaquim) com quem casara em 1905, filha do Major José
Jacintho de Moraes que foi industrial, banqueiro e Prefeito em Rio Claro - S.
Paulo.
Regressou ao Brasil em 1917, "para tratar de negócios
de propriedades" e também para exercer as funções de ''guarda-livros"
de uma propriedade dos Condes de Prates'', na região de S. Paulo, onde já tinha
estado antes de vir para Portugal, conforme escreveu no Jornal de Penacova, que
dirigia.
Convidou Alberto de Castro Pita, advogado, ligado ao
Partido Democrático, para dar continuidade àquele periódico, mantendo-se proprietário do mesmo por mais alguns anos.
Terá permanecido em Rio Claro, no Brasil, durante o resto
da sua vida, onde morreu no dia 10 de Abril de 1952.
David Gonçalves de Almeida
[1]
Ainda há poucos anos era visível a chaminé daquela unidade
industrial. Lamentavelmente, foi entretanto demolida.
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