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OPINIÃO - Envelhecimento e População




São inequívocos os dados reveladores de que a população mundial está a envelhecer. Contudo, este processo não se desenrola em todos os países do mundo da mesma forma, atingindo  valores percentuais dramáticos nos chamados países desenvolvidos, apesar da existência de um maior número de idosos nos países em vias de desenvolvimento. As causas deste envelhecimento são consensuais entre os especialistas e remetem para três factores, designadamente, a diminuição da fecundidade, a evolução tecnológica com o consequente aumento da esperança de vida e os saldos migratórios.

Neste envelhecimento populacional, há algumas particularidades que convém realçar, nomeadamente, o facto de se assistir a um envelhecimento da própria população das pessoas idosas, ou seja, que em termos percentuais, a faixa etária das pessoas com idade superior a 85 anos aumenta a um ritmo superior à das pessoas idosas com mais de 65 anos. De salientar ainda que existe uma predominância do sexo feminino, atendendo à sua maior longevidade.

Concretamente em Portugal, a situação não é muito diferente daquela que se verifica nos restantes países desenvolvidos, e embora o envelhecimento populacional tenha acontecido mais tardiamente, a sua evolução foi mais rápida. As previsões apontam para que Portugal em 2050, seja o quarto país com maior percentagem de idosos a nível da União Europeia.

Diremos pois que o século XXI se caracteriza pelo aumento da população idosa, pelo aumento da esperança de vida, com as conquistas sociais, económicas e de saúde e pelo envelhecimento demográfico, estimando-se um aumento da duração média de vida que poderá no futuro atingir os 122 anos.

Convém referir que, tal como habitualmente acontece em todas as grandes transformações que ocorrem a nível mundial, por vezes, a sociedade revela-se pouco preparada para as enfrentar, demorando algum tempo a encetar medidas tendentes a controlar e minimizar os efeitos provocados pelas alterações supra referidas. De facto, é do conhecimento geral a frequência com que se ouve falar de algumas dessas situações de difícil adaptação ou de difícil resposta às novas solicitações, que são disso três exemplos concretos que passo a enunciar: dificuldade a nível dos sistemas de saúde para suportar os encargos de uma população cada vez mais envelhecida e carente de cuidados; acumulação de patologias crónicas, devido ao facto dos idosos viverem cada vez mais tempo e a questão da viabilidade financeira dos sistemas de segurança social, no referente ao pagamento das pensões de reforma, pelo facto de serem cada vez menos os contribuintes.

Sabemos igualmente que, ao mesmo tempo que este envelhecimento populacional ocorria, a sociedade ia sofrendo outras transformações não menos preocupantes, sobretudo para a faixa etária dos mais velhos. A entrada das mulheres no mercado de trabalho, as migrações para locais capazes de oferecer melhores condições de emprego, as alterações a nível das dinâmicas familiares, entre outros, são factores que tiveram como consequência uma diminuição do apoio a esta faixa etária da nossa população.

Cabe, também, ter em atenção que a própria importância do idoso se alterou a nível social: se, anteriormente, era visto como um repositório do saber, hoje em dia, é encarado mais como um estorvo, como uma pessoa ultrapassada e que já cumpriu a sua função. Aliás, o enfoque que vem sendo dado pela comunicação social a esta problemática do envelhecimento da população, para sensibilizar a opinião pública, tem contribuído, de alguma forma, para que se possam desencadear mecanismos de resposta mais eficazes, objectivando um envelhecimento bem sucedido, isto é, que procure uma melhor integração e felicidade do idoso.

Preparar-se para uma vida melhor, mais longa e mais activa, trabalhar durante mais tempo, passar à reforma de um modo mais gradual e aproveitar as oportunidades de prestar uma contribuição activa após a reforma constituem as melhores vias para garantir o máximo grau de independência  e autodeterminação na velhice e isto aplica-se, mesmo quando as faculdades diminuem e a dependência aumenta.

É crucial que as políticas sociais para a terceira idade, sejam integradas e territorializadas, atentas às transformações familiares e sociais e que privilegiem as redes de suporte informal e formal,  no sentido de adaptarem medidas (acções, serviços e projectos) que dêem respostas às necessidades dos nossos mais velhos.
É um facto que a situação actual dos idosos ainda está longe do ideal, mas é igualmente um dado oficioso que as pessoas de idade começam a ser encaradas com um novo olhar, preconizando-se uma melhor qualidade de vida nesta etapa.

Realmente, seria incompreensível que, sendo o aumento da esperança de vida e da longevidade, um desiderato de todos os países do mundo, posteriormente não fossem envidados todos os esforços necessários para que o aumento do número de anos de vida não fosse acompanhado pelo objectivo de dar mais vida aos anos, mas vida com qualidade. Termino esta minha crónica com uma “mensagem à terceira idade” de Adélia Carepa que diz o seguinte:

A Velhice é Saudade
Do tempo que já passou
É lembrar a mocidade
Que fugiu e não voltou

É recordar o passado
Reviver o que morreu
É sempre ter a seu lado
A sombra do que perdeu

É aceitar a tristeza
É ver a vida a fugir
Mas em tudo ver beleza
E não deixar de sorrir

Nem sempre é triste a Velhice
Também nos dá alegria
Se acaso não existisse
Mais curta a vida seria.


1 comentário:

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