SOCIEDADE - Dificuldades económicas refletem-se nos resultados escolares e na ambição académica
As dificuldades económicas continuam a ter efeitos negativos
nos resultados escolares dos alunos portugueses, mas também nas suas
expectativas, com 25% dos estudantes desfavorecidos e bons desempenhos sem
perspetivas de concluir um curso superior, revela hoje a OCDE.
A origem socioeconómica dos alunos é um “forte indicador” dos resultados dos
alunos portugueses na leitura, matemática e ciências, defende a OCDE no
relatório PISA de 2018, hoje divulgado.
O PISA é um relatório da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE), elaborado de três em três anos e que mede o
desempenho dos alunos de 15 anos em competências como leitura, matemática e
ciências, avaliando ainda outras questões como o ambiente escolar e as
condições de equidade na aprendizagem.
Os resultados no PISA são contabilizados em pontos. Nas
competências de leitura, por exemplo, os alunos portugueses registaram um
resultado global de 492 pontos, alinhado com a média dos países da OCDE.
No entanto, o relatório indica que os resultados dos alunos
de origem socioeconómica mais favorecida ficam 95 pontos acima dos que têm
maiores dificuldades económica.
Este diferencial é superior à média da OCDE nesta
comparação, que é de 89 pontos.
Em 2009, o diferencial resultante da origem socioeconómica
dos alunos era de 87 pontos, em linha com a média da OCDE.
Entre os alunos com desempenho de topo nas competências de
leitura, 16% são de classes mais altas e apenas 2% de origem desfavorecida.
Ainda assim, o PISA 2018 aponta 10% de alunos de baixa
condição socioeconómica que conseguiram resultados entre os 25% mais elevados
obtidos pelos alunos portugueses em leitura, o que para a OCDE significa que a
pobreza não tem que ser uma fatalidade.
Os resultados indicam ainda que um quarto dos alunos mais
pobres, ainda que com bom desempenho académico, não perspetivam concluir um
curso superior, o que entre os alunos mais favorecidos é um objetivo declarado
pela quase totalidade.
Em termos de resultados, mas também de expectativas de
carreira, continua a haver um “eles” e um “elas”.
As raparigas superam os rapazes na leitura, mas eles são
melhores a matemática do que elas. Em ciências não há diferenças de género
assinaláveis, aponta o relatório.
O diferencial de género nas competências de leitura
decresceu, ainda assim, ao longo de uma década: era de 38 pontos em 2009 e em
2018 baixou para os 24 pontos.
Já no que diz respeito a carreiras, engenharia e ciências
continuam a ser áreas de formação preferenciais para os rapazes e as profissões
ligadas à saúde a opção primordial das raparigas.
Carreiras na área das
tecnologias de informação atraem menos de 10% dos estudantes portugueses, com
primazia para os rapazes.
O relatório aponta ainda que a segregação de alunos com
piores resultados tem o mesmo peso em Portugal do que na generalidade dos
países da OCDE, com uma média igual de colocação dos alunos com pior desempenho
em determinadas escolas.
Ainda assim, a probabilidade de um aluno mais pobre
frequentar a mesma escola com outro com bons resultados escolares é superior em
Portugal à média da OCDE: 22% de hipóteses em Portugal contra 17% de média da
OCDE.
Ainda que as escolas portuguesas reportem uma maior falta de
recursos do que a média da OCDE, o relatório indica que não há diferenças
significativas entre escolas de meios favorecidos e as de meios desfavorecidos.
O PISA 2018 analisa ainda a equidade para alunos imigrantes,
uma realidade que cresceu em Portugal dos 5% em 2009 para os 7% em 2018.
Um em cada quatro alunos de origem estrangeira tem
dificuldades económicas, mas ainda assim, 17% dos alunos com um ‘background’
imigrante conseguiram resultados entre os 25% mais elevados.
O ambiente escolar continua a não ser completamente seguro:
14% dos alunos indicaram ter sido vítimas de ‘bullying’, “pelo menos, algumas
vezes por mês” e 10% afirmaram sentir-se sozinhos na escola.
Os alunos portugueses reconhecem ainda que o mau
comportamento se reflete nos resultados: aqueles que admitem que os professores
têm que esperar muito até que a turma sossegue para poder começar uma aula
registaram resultados em leitura 17 pontos abaixo dos que afirmam que isso
nunca acontece na sua turma.
A maioria dos estudantes portugueses (69% contra 67% de
média da OCDE) afirmam ainda que estão satisfeitos com as suas vidas. Apenas 3%
indicaram sentir-se sempre tristes.
A escola é também percecionada pela maioria como um espaço
de crescimento: 66% dos alunos nacionais discordaram da afirmação “A tua inteligência é algo sobre ti que não
podes mudar muito”.
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