COVID 19 - Aulas a vários ritmos. Notas do 2º período devem ser as últimas
Ponto prévio: 107 países têm neste momento a totalidade das
suas escolas encerradas e outros 12 apenas uma parte, fazendo com que um milhão
de alunos esteja impedido de ir às aulas, de acordo com a UNESCO. Portugal é,
desde segunda-feira, apenas mais um desta enorme lista. E, tal como em todos os
outros, tenta-se, na medida do possível e limitado pelo recursos disponíveis,
ensinar à distância.
Isabel Leiria – Jornalista do Expresso
O desafio é dos professores, dos estudantes e também de pais
e mães, que se dividem nestes dias entre os e-mails para o trabalho e a
videoconferência, as refeições diárias que é preciso cozinhar e o apoio às
atividades escolares. Quando podem, e quem consegue. Num país muito desigual,
os constrangimentos agora vividos deixam ainda mais visíveis as disparidades.
Nem todas as famílias têm um PC e internet em casa, muito menos impressora, a
banda larga não chega a todo o lado, o apoio familiar depende muito da educação
que os pais tiveram. E nas escolas, com um dos corpos docentes mais
envelhecidos da Europa, nem todos estão à vontade com chats, plataformas
digitais e aulas virtuais.
“O ensino à distância não é para todos. É claramente
discriminatório. Mas não há que atacar, porque não há alternativa neste
momento”, diz o presidente do Conselho de Escolas, José Lemos de Sousa. Várias
editoras e empresas abriram o acesso às suas plataformas e o Ministério da
Educação montou em tempo recorde um site de apoio às escolas, e não só
(apoioescolas.dge.mec.pt), com informações sobre métodos de ensino à distâncias
e recursos existentes.
Os diretores garantem que a disponibilidade dos professores
é total, mas nas escolas avança-se a ritmos diferentes, de acordo com os muitos
relatos recolhidos pelo Expresso. E há até quem já peça contenção na avalancha
de trabalhos enviados para casa: “Parem de disputar quem manda mais fichas e
melhor domina as ferramentas digitais [...] Sejam a voz amiga que não abandona
o aluno e a família e não o mestre a exigir o conhecimento académico diário. Se
contribuírem para que crianças e jovens cumpram as recomendações da DGS, terão
feito um excelente de trabalho”, escreveu uma encarregada de educação e
professora no blogue mais visto nesta área (DeArLindo).
Mas também há escolas onde ainda se estão a preparar
recursos e a definir estratégias a seguir por todos num 3º período que, indicam
todas as previsões de evolução da epidemia, recomeçará a 14 de abril ainda com
as atividades letivas presenciais suspensas. Noutros agrupamentos há docentes
em plena atividade. “A Inês até se queixa de que recebe muito mais coisas para
fazer do que quando está nas aulas”, relata uma mãe de uma aluna de uma escola
pública do centro de Lisboa. Mas outros professores da mesma turma ainda não
indicaram quaisquer trabalhos. “Também não houve qualquer tentativa de fazer
aulas online, o que seria bastante plausível no 10º ano, uma vez que os miúdos
passam o tempo a fazer videochamadas coletivas através dos vários programas que
existem”, sugere.
E é por o ensino à distância não ser comparável ao
presencial — em que todos os alunos estão em igualdade de condições — e pelo
facto de o 3º período ir ficar ainda mais curto com um prolongamento da
suspensão, que o mais provável é as classificações que forem atribuídas no 2º
período sejam mesmo as finais do ano letivo. Pelo menos nos níveis em que não
há exames (ver P&R).
FLEXÕES VIA FACETIME
Maria, 8º ano, frequenta o Colégio de São José — Ramalhão,
em Sintra, e a ‘chamada’ continua a ser feita diariamente. As aulas, com horas
variáveis, programadas ao dia, são dadas por videochamada, e o professor
verifica quem está. Neste caso, não na sala mas ligado ao Teams, a solução de
ensino à distância da Microsoft. Há trabalhos de casa, testes à distância e até
esquemas de Educação Física. “Hoje foram abdominais e flexões, que fez com uma
colega em FaceTime (sistema de videochamada da Apple)”, relata a mãe. O irmão
mais novo, aluno do 1º, não tem aulas mas recebe propostas de trabalhos de casa
e até um vídeo para o ajudar a fazer a prenda do Dia do Pai. Num colégio
católico, não falta a oração da manhã em formato vídeo.
Em casa de Sandra, que está em teletrabalho, a mesa da sala
foi dividida ao meio, para que mãe e filho pudessem ter os seus papéis e espaço
de trabalho. “Desde que entrámos em quarentena, ando a acompanhar a escola
virtual, que é um site para alunos e professores estudarem e trabalharem. É um
pouco diferente da escola. porque lá tenho os meus colegas. E se tiver dúvidas
o professor esclarece, e em casa não. Já aconteceu”, conta Rodrigo, aluno do 5º
ano na Escola Básica Vasco da Gama, em Lisboa. Estuda das 9h às 13h, mas o
momento preferido são as sessões diárias de cinema, planeadas em família.
Para Madalena, seis anos, o ponto alto acontece depois do
almoço, quando professora e ‘coleguinhas’ se encontram no Zoom. É por esta
plataforma, que permite videoconferências, que todos os dias fala com a turma
do 1º ano da Voz do Operário, em Lisboa. “Ela adora aqueles momentos, que
acabam por dar a isto um ar de normalidade, como se a rotina se mantivesse. E
as crianças adoram rotinas”, lembra a mãe. De resto, e no espírito da corrente
pedagógica Escola Moderna seguida pela escola, todas as atividades são
incentivadas como forma de aprender. Fazer um bolo deve ajudar no Português,
Matemática e Inglês. “Quanto à ginástica, temos apostado no ioga”, conta a mãe.
P&R
QUANDO IRÃO REABRIR AS ESCOLAS?
Vai depender da evolução do surto em Portugal. António Costa
já disse que a epidemia terá “um pico em meados de abril e só poderá ter um
termo, no melhor dos cenários, em finais de maio”. Se a decisão for de reabrir
só quando a situação estiver sob controlo, não sobrará muito tempo para aulas
nas escolas. O calendário letivo em vigor determina o fim do 3º período entre 4
e 9 de junho para a maioria dos anos (a exceção é o 1º ciclo, que vai até 19).
Na China, só agora, quase três meses depois do início do surto, começaram a
reabrir algumas escolas. Na região de Macau a suspensão já vai em dois meses e
continuará até maio para os mais novos.
QUANDO SERÁ DECIDIDO?
O Governo reavaliará a suspensão de atividades letivas a 9
de abril. Tudo indica que as escolas irão manter-se fechadas depois disso.
SE NÃO HOUVER AULAS, PELO MENOS EM NÚMERO SUFICIENTE, COMO
VÃO SER AS NOTAS?
Um dos cenários possível e que é admitido como o mais
realista por vários diretores de escolas é assumir as notas do 2º período, que
vão mesmo ser dadas agora, na Páscoa, como as notas finais. Ou seja, a
ponderação será feita olhando já para todo o percurso do aluno até agora,
pensando se está ou não em condições de transitar. Como não se sabe se haverá
mais avaliações, é arriscado dar notas mais baixas no 2º período como um alerta
para o aluno, prática às vezes usada pelos professores. Outra possibilidade é
admitir, pelo menos em alguns anos de escolaridade, passagens administrativas.
Em relação às provas de aferição, que não contam para a nota e que se iniciam
em maio, o mais provável é não se realizarem.
E NOS ANOS SUJEITOS A EXAME NACIONAL?
Se a suspensão de aulas se estender até maio, o presidente
da Associação de Diretores de Agrupamentos Escolares, Filinto Lima, considera
que no caso do 9º ano não haveria grandes problemas em não se fazerem exames
este ano (estão marcados para 19 e 26 de junho), já que o seu impacto nas
classificações finais é reduzido. Já nos 11º e 12º, as implicações são muito
maiores, tanto nas notas como depois no acesso ao ensino superior. Mas também
aqui há soluções que podem ser pensadas. À partida, as provas deste ano até já
estão desenhadas pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), mas para um ano
letivo normal. Se for determinado aulas de compensação para estudantes destes
anos, as datas podem ser revistas. Ou pode assumir-se que só se realizam na 2ª
fase (em finais de julho). Ou até mais tarde, em setembro. Em 1989, uma greve
dos professores do ensino superior obrigou ao adiamento das provas específicas
de acesso e os alunos só começaram as aulas nas universidades em janeiro do ano
seguinte. Quanto ao conteúdo das provas, o ex-diretor do IAVE Hélder Sousa
lembra que, caso os programas não sejam cumpridos, pode-se eliminar a
classificação dos itens relativos a essa matéria.
O QUE DIZ O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO?
“Não está prevista qualquer alteração do calendário”, nem
alterações nos planos curriculares, lê-se no documento com as medidas
excecionais aprovadas pelo Governo esta semana. “Em função da evolução da
situação, bem como do período de suspensão das atividades letivas presenciais,
poderão ser definidas medidas de recuperação das aprendizagens”, acrescenta-se.
Também foi decidido que as inscrições para os exames, que estão a decorrer, são
feitas online.
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