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REFLEXÕES - Viagens em descoberta de mim



Há dias em que dou por mim a vaguear pela tempestuosidade da minha mente e perco-me, muitas vezes, sozinha nesta viagem. Dou por mim sentada à janela a olhar o horizonte… Os raios do sol a reconfortar a minha face e a leve brisa a acariciar-me os cabelos. Está agora tudo em tons dourados… O sol quer despedir-se por de trás do monte e deixar lugar ao silêncio da noite. Ouço o rio a correr lá em baixo e um ou outro pássaro num chilrear feliz. Voam inocentes, seguindo-se uns aos outros. Observo melancólica aquele tão apraz símbolo de liberdade… E começo a questionar-me como gostaria de, neste momento, ser também um pássaro. Segui-los em liberdade, voar por essas colinas e vales fora, cantar despreocupada… Ah… A felicidade está nas pequenas e mais simples coisas… Nunca fez tanto sentido isto, que me ecoa agora na mente. Ecoa até ao meu mais íntimo ser… Inspiro profunda e levemente, deixando que a lufada de ar fresco entre e me preencha… Talvez alivie o turbilhão de pensamentos e sentimentos que vagueiam em mim, nem sei muito bem onde. Talvez a frescura me dê mais leveza… Talvez me dê algum sossego. Assim espero. Já que aquilo que me resta é inquietação.
Permaneço na janela, durante longos momentos, tendo apenas por companhia eu própria. Ultimamente, tenho-me encontrado muito comigo mesma. Passo muito tempo a viajar pelo meu interior… Procurando conhecer-me melhor. Inspecionando os meus pensamentos e os meus sentimentos… Às vezes, nem sei reconhecer muito bem o que estou a sentir… Era suposto ser esperança e força para enfrentar um e outro dia… Porém, nada disso… Por mais que procure dentro de mim… Encontro algo aparentemente vazio… E tento escavar mais a fundo e acho que encontro medo… Angústia… Desorientação… Que me deixa inquietada. Estes sentimentos, à primeira vista, deixam-me assutada… Mas, depois, penso: “não será isto normal?”. Faz todo o sentido sentir-me assim… Pudera… Com tudo o que se passa lá fora e do qual nem tenho bem uma perceção real, já que apenas imagino como será, aqui no sossego de casa, enquanto estou sentada em silêncio à janela. Enfim… Suspiro, novamente. Esta é a minha nova realidade e por mais assustadora que me pareça terei de aprender a conviver com ela… Terei de aprender a conviver com o medo e com todos os outros sentimentos confusos, e até contraditórios, que insistem em tomar conta de mim. Aceitar que é normal sentir-me assim. Aceitar que há dias em que me vou sentir desolada e sem esperança. É normal. É perfeitamente compreensível, porque, afinal, tudo isto é confuso e assustador.
Observo uma última vez o horizonte e sorrio ao de leve, enquanto uma pequena lágrima me corre pela face e vem parar mesmo ao canto dos meus lábios. Sinto o seu sabor salgado e sorrio tristemente. Estranho seria se eu não chorasse… Sorrio, porque é normal. Sorrio, porque é sinal de que estou consciente de mim mesma. Sorrio, porque aceito isso. Um dia, voltarei aqui a esta janela, olhando o mesmo horizonte… Nesse dia, estarei a relembrar estas viagens em descoberta de mim própria e verei como realmente aprendi muito sobre mim!...

Mariana Assunção


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