VINHARIA DO MONDEGO - Castas e mais castas
Durante esta semana um grande amigo fez-me a seguinte
pergunta: “Estou a beber um vinho que diz Sousão no rótulo, isso é uma casta?”.
Esta pergunta despertou-me para o tema desta semana, as castas. Sousão é, de
facto, uma casta. Típica no Douro, também conhecida por Vinhão na região dos
Vinhos Verdes. É lá que produz os tradicionais tintos que se bebem da malga e
pintam a boca, dado ser conhecida como uma casta “tintureira”. Outro exemplo de
uma casta com esta característica, mais a sul, é a Alicante Bouschet, que tem
dominado o panorama no Alentejo.
Como qualquer fruta, a uva tem as suas variedades, cada uma
com as suas características. Tal como Bravo-de-Esmolfe, Reineta e Verde são
tipos de maçã, Baga, Alfrocheiro e Touriga Nacional são tipos de uva. Tenha
atenção porque a mesma casta pode ter sinónimos dependendo da zona onde se
encontra plantada. Fernão Pires na Bairrada é Maria Gomes, Arinto nos Vinhos
Verdes é Pedernã, Tinta Roriz no Alentejo é Aragonês.
Ao todo, são cerca de 250 castas nativas em Portugal. Apesar
de ser um país de dimensão reduzida, é onde se encontra a maior variedade de uvas
do mundo. O maior exemplo desta diversidade é o vinho do Porto, onde são
permitidas 115 castas na sua produção. Ainda assim, também se plantam uvas estrangeiras,
como Pinot Noir, Chardonnay, Cabernet Sauvignon, entre outras. Há muitos bons
vinhos com estas castas e o mercado assim o exige. Apesar disso, esta questão
traz alguns problemas. Muitas vezes para se plantarem estas castas são
arrancadas vinhas antigas, perdendo-se património. Deixo-lhe um excerto de um
texto do Prof. Virgílio Loureiro que aborda esta questão:
Nas “Adegas Beira-Mar” não se faz vinho. Apenas se loteiam e estagiam vinhos comprados a pequenos produtores de toda a Estremadura (e um pouco no Ribatejo). Paulo da Silva conhece-os todos há muitas décadas e já sabe como deve fazer as misturas para limar as imperfeições que todos os componentes do lote têm. Há tempos dizia-me, com a mágoa estampada no rosto, que cada vez é mais difícil arranjar os vinhos que precisa, pois além do abandono de muita vinha agora usam-se muitas castas estrangeiras. É com imensa saudade que me diz que já não há os grandes vinhos de Carvalhal de Cheleiros, produzidos com uvas das vinhas em socalcos, a pedir meças às do Douro.
Ainda assim, há casos onde se tem feito um trabalho louvável
com o objetivo de recuperar vinhas antigas e castas que se encontravam quase
extintas. Em Carcavelos, devido à urbanização, a área de vinha diminuiu
consideravelmente ao longo dos anos. Aqui, a Câmara Municipal de Oeiras assumiu
a produção criando a marca Villa Oeiras e fez com que se recuperasse parte da
tradição deste vinho e castas como Ratinho e Galego Dourado ganharam força. Outros
produtores também já começaram a voltar para esta região para produzir novos
vinhos, alguns deles até com algumas novidades, como vinhos brancos secos
tranquilos e não o típico licoroso. Outro caso de sucesso é nos Açores. Graças
ao esforço e interesse de alguns enólogos/produtores, castas como o Arinto dos
Açores e Terrantez do Pico têm vindo a ganhar notoriedade pelos excelentes
vinhos brancos que produzem.
Há, em Portugal, uma infindável variedade de vinhos para
descobrir. Deixo-lhe um desafio: na sua próxima visita a um restaurante ou
garrafeira não peça aquela garrafa de vinho de sempre da marca de renome e peça
algo completamente diferente que não conheça. Estará a abrir horizontes e a
ajudar pessoas que lutam por um património natural que é nosso.


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