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OPINIÃO - 30 anos de atentados



Existe um projeto para a construção de uma mini hídrica de 9 MW de potência, no Mondego, a jusante de Penacova, junto a uma localidade chamada Foz do Caneiro. Segundo o projeto, parece que o paredão terá cerca de dez metros de altura e a albufeira uma extensão de cerca de quatro quilómetros. Acontece que a construção desta obra foi concessionada à Empresa Mota-Engil, salvo o erro, por valores próximos de quatro milhões de euros. Ainda este ano, foi construída uma escada de peixe, que custou perto de 3,5 milhões €, junto a uma outra barreira artificial, o açude-ponte em Coimbra, escassos quilómetros a jusante do local onde se prevê a construção da mini-hídrica, pelos vistos, para nada.

Existe já uma exploração turística direta do rio, por empresas ligadas a atividades de lazer como a canoagem, precisamente naquele troço, com um movimento de capital, se não estou enganado, a rondar um milhão de euros anuais. Há que referir ainda que a construção da mini hídrica está prevista para um local que se situa aproximadamente a meio do percurso das descidas de canoa. Aquela região  é visitada anualmente por cerca de 30 mil pessoas. Tudo isso gera receitas para o Estado, cria cerca de 40 empregos diretos que são funcionários das empresas ligadas aos desportos radicais e gera grandes receitas para a hotelaria, restauração, artesanato, etc.

Há ainda outra questão bem mais grave que diz respeito à destruição dos habitats fluviais, que são ainda o garante da permanência no Mondego da lampreia-de-rio, que procura estas águas para a desova e devido à grande sensibilidade na fase larvar, vai ser com certeza posta em causa. Tanto a lampreia como várias espécies de peixe são utilizadas na gastronomia regional de Penacova.

Ao longo dos últimos trinta anos, o Mondego tem sido alvo de vários atentados. Não esquecendo a construção das barragens da Agueira e da Raiva e o IP3, a exploração exaustiva dos inertes na região de Penacova foi o exemplo maior e talvez o que criou modificações de paisagem mais acentuadas, neste troço entre Penacova e Coimbra, e o impacto maior no ecossistema do rio. Julgo que tudo isto aconteceu com grande promiscuidade entre as autarquias, poder central e as empresas de extracção. Tenho acompanhado de perto o excelente trabalho da Plataforma Mondego Vivo na denúncia destes casos mais recentes. Chegou o momento de dizer: basta! Eu quero falar em nome das pessoas daquela região, os diretamente e indiretamente lesados e em nome daqueles que gostam do Mondego e de Penacova. Não teremos nós legitimidade para acionar a via judicial neste caso de agressão a um património que pertence a todos e não apenas àqueles que se sentem mais poderosos?

Ulisses Baptista


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