ESPAÇO DO LEITOR - Mensagem aos nossos políticos
Com o
decorrer do tempo vamos observando que a vila de Penacova e suas aldeias
vizinhas se encontram despovoadas e estagnadas de novas famílias. Esta triste
realidade não passa despercebida a ninguém, sejam estes da classe política ou
não. Qualquer cidadão comum que se desloque à nossa vila num domingo à tarde,
verifica que este magnifico espaço, em vez de ter pessoas a contemplarem a
natureza, tem pedras a serem contempladas pelos comerciantes em solidão.
Foram
muitos os jovens que concluíram os seus estudos secundários em Penacova, rumo
às cidades para tirar um curso superior. No final dos mesmos, tiveram a
desilusão de não poderem regressar. A falta de implementação de políticas de
fixação, apoio ao empreendedorismo, desenvolvimento de postos de trabalho ou
pequenos incentivos como fazem outras autarquias, contribuíram e contribuem
para a desertificação da nossa vila.
Tantas
são as famílias penacovenses que procuraram os concelhos vizinhos, para
adquirirem a sua habitação, por ser mais barata e de forma a ficarem mais
próximas dos seus postos de trabalho, situação que nos entristece a todos. Esta
realidade vem acontecendo ao longo dos anos, daí a culpa ser de todos aqueles
que se tem sentado nas cadeiras dos lugares públicos, da câmara e das juntas.
Nos dias
que correm é frequente encontrarmos casas vazias ou habitadas apenas por idosos
que perderam a oportunidade de transmitir o seu conhecimento, vivência familiar
aos seus descendentes. Estes tiveram de encontrar outros mundos, outros
espaços, outras raízes, deixando para trás a sua verdadeira identidade.
As suas
casas estão devolutas, a solidão inunda-as, as populações desertas. No futuro
quem vai habitar estas casas? Quem as vai comprar? Será que as pessoas destes
governos locais, ou outros, não mergulham neste problema grave, que é a
desertificação? Esquecem-se que foram eleitos para preservarem e protegerem
todos os eleitores? A política tem de ser uma prática cumprida com humildade,
lealdade e trabalho, pois já diziam os mais velhos “palavras levam-nas o
vento”.
Como
cidadã pagante de impostos, apelo conscientemente aos actuais candidatos
locais, câmara, juntas e outras entidades, que coloquem no seu programa de
trabalho e se esforcem para criar condições, de modo a fixar jovens e famílias
nas nossas aldeias, na nossa vila. Dêem oportunidades a todas as famílias, não
as limitem às “cores” ou só aos “desfavorecidos”, porque de uma forma ou de
outra todos os eleitores são desfavorecidos. Desenvolvam no concelho novas
iniciativas, promovam e facilitem o turismo, a agricultura biológica, a
floresta (façam contratos com as entidades competentes dos baldios e
reflorestem-na), e por que não organizar os espaços para a criação de gados e
outros. Penacova tem tudo para realizar estes e outros projectos, é abençoada por
Deus, em água, floresta, campos, vento e sol. Quem dera a muitos concelhos ter
esta diversidade de recursos naturais.
O
objectivo desta minha carta é assim apelar ao bom senso das entidades locais
para não deixarem esta vila, e as respectivas aldeias presas a um passado
promissor e cheio de juventude, descrentes num futuro de rejuvenescimento desta
terra. Esta terra que me viu crescer, que viu crescer meus filhos, mas que
dificilmente verá os meus netos e binestos e os de tantas outras famílias. Já
dizia a canção, “aquele parte, aqueles partem e todos se vão”, de José Niza e
Adriano Correia de Oliveira.
Saudade Lopes
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