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JUSTIÇA - “Se não fosse a minha filha já me tinha matado”



O madeireiro acusado de três crimes de incêndio florestal em Penacova, em Agosto de 2015, ouviu ontem o Ministério Público (MP) pedir ao Tribunal de Coimbra pena de prisão efectiva nas alegações finais do julgamento. Visivelmente instável a nível emocional, o arguido, que se encontra em prisão preventiva, afirmou perante o colectivo de juízes a vontade de colocar termo à sua vida, algo que ainda não fez pelo facto de ter uma filha de 11 anos.

«Se não fosse a minha filha já me tinha matado. Não fiz aquilo por mal, a minha cabeça já não andava bem», frisou, com um timbre de voz “entremelado”.

Nas suas alegações, a procuradora do MP sublinhou que o arguido, ao longo das sessões de julgamento, «não contribuiu em nada para a descoberta da verdade, nem demonstrou arrependimento», apesar de «estar consciente da ilicitude» dos actos de que é acusado.

Para a advogada de defesa, que diz conhecer o arguido «há 20 anos», este sempre demonstrou ser «uma pessoa cor recta, íntegra e trabalhadora». Todavia, acrescentaria a causídica, o madeireiro «sofria de uma depressão que se alastrava desde 2013», frisando que o «tratamento não estaria a resultar» em virtude de o arguido ter continuado num quadro de alcoolismo, e que o próprio «não teria consciência do perigo que estava a causar». Perante este factos, a defesa pediu ao Tribunal «suspensão da pena, sujeita a tratamento médico».

O MP acusa o madeireiro, de 49 anos, de três crimes de incêndio florestal: um deles chegou a ter três frentes activas, consumindo cerca de 130 hectares de área florestal, entre 10 e 12 de Agosto de 2015 (dia em que o fogo foi declarado extinto) e mobilizou 38 corporações de bombeiros, num total de 231 homens e 74 meios de apoio terrestre e aéreo.

O indivíduo, residente na povoação de Paredes, na freguesia de Oliveira do Mondego (Penacova), situada muito perto dos focos de incêndio, acabou por negar duas ocorrências, nomeadamente a que levou à detenção, por volta das 22h00 do dia 10. Aprofundado o interrogatório, verificou-se que o homem estava a ser acompanhado no Hospital Psiquiátrico Sobral Cid há cerca de um ano, tomava a medicação, mas omitia um problema com a bebida.

Aliás, o arguido, acabaria mesmo por confessar que tinha perdido 100 mil euros para um empreiteiro que lhe estava a construir uma casa e que faliu. Nesse período de depressão acabaria por se tentar suicidar por duas vezes.


Ricardo Busano – Diário de Coimbra