CIÊNCIA VIVA - O céu de agosto de 2016
Este mês de agosto, tipicamente de férias para
uma boa parte dos portugueses, terá uma Lua Nova logo no dia 2. Dois dias
depois, um finíssimo crescente da Lua passará a apenas 3 graus de Vénus e no
dia 6, o nosso satélite estará quase colado ao planeta Júpiter. No dia 10, a Lua alcançará o quarto
crescente.
Entre a noite de dia 11 e a madrugada de dia
13, fiquem atentos aos meteoros das Perseidas, em especial depois da Lua se
pôr, lá para a uma da manhã.
O número de meteoros visível nestas “chuvas de
estrelas” é sempre difícil de prever, mas este ano a previsão é de um aumento
significativo – durante o pico, podem mesmo chegar aos 200 meteoros por hora
(em céus escuros), mais do dobro do que o normal. Isto significa que, mesmo
numa cidade, onde tipicamente se conseguem ver apenas cerca de 10% dos
meteoros, será um evento interessante.
A partir das 23:00 do dia 11 já se deve notar
um aumento do número de meteoros, mas o máximo está previsto entre a meia-noite
e as 4 da manhã já de dia 12. No entanto, relembro que as previsões do número
de meteoros, visível no pico destas chuvas, têm uma grande incerteza.
As Perseidas ocorrem quando a Terra cruza o
rasto de poeiras deixado pela passagem do cometa Swift-Tuttle, o maior objeto
celeste conhecido a passar nas proximidades da Terra (sem ser a Lua, claro).
Este cometa, com um núcleo de 26
km (por comparação, o meteorito que terá aniquilado os
dinossauros teria “apenas” 10
km ), passou pela última vez perto do nosso planeta em
1992, e voltará às redondezas lá para 2126.
O mais antigo registo das Perseidas chega-nos
da China, e remonta ao ano 36 d.C. Na mitologia grega, as Perseidas comemoram a
altura em que Zeus
visitou a princesa Dánae, com quem teve um filho – o herói Perseu, o mesmo da
constelação de onde parecem originar todos os meteoros.
No dia 12, a Lua passará a 4 graus de Saturno, e no
dia 18, o nosso satélite alcançará a Lua Cheia. Bem rente ao horizonte, e
apenas 2 dias depois, Júpiter, que se aproxima rapidamente de Vénus, passará a
4 graus de Mercúrio. Já no dia 25,
a Lua chegará ao quarto minguante.
No dia 27, mesmo ao anoitecer, Vénus e Júpiter
quase que se fundem no céu. A sua conjunção (ponto de maior aproximação) será
tão próxima, que a separação entre os dois astros (cerca de 7 minutos de arco,
ou 0,12 graus) será menor que a espessura de uma moeda de um euro, à distância
de um braço estendido. Por comparação, à distância do braço estendido, o dedo
mindinho ocupa 1 grau, ou o dobro do diâmetro aparente da Lua Cheia.
Apesar destas conjunções muito próximas não
serem algo que aconteça apenas uma vez na vida, ainda assim são raras o
suficiente para valer a pena vê-las.
Boas observações.
Ricardo Cardoso Reis (Planetário do Porto/Instituto
de Astrofísica e Ciências do Espaço)
© 2016 - Ciência na Imprensa
Regional/Ciência Viva
Fig1: O céu virado a Nordeste, à uma da manhã
do dia 12 de agosto 2016. Na imagem está indicado o radiante (ponto a partir do
qual parecem radiar todos os meteoros) da chuva de meteoros das Perseidas.
(Imagem: Stellarium/Ricardo Cardoso Reis)
Fig2: O céu a Oeste, ao anoitecer do dia 27 de
agosto 2016. A
conjunção Júpiter/Vénus colocará os dois planetas a apenas 0,12 graus um do
outro.
(Imagem: Stellarium/Ricardo Cardoso Reis)