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OPINIÃO - O sonho de recuperar o Hotel Penacova foi (de novo) adiado


O Hotel Palacete do Mondego ardeu, tal como se esperava que acontecesse um dia e tal como acaba sempre por acontecer aos imóveis que ficam abandonados durante o tempo suficiente até se tornarem locais desprezados pelos proprietários, que mais não fazem do que se reclamarem como tal.

Era de prever que o abandono a que foi votado, desde que em 2007 foi definitivamente esquecido por todos os penacovenses, não só por aqueles que são os seus efectivos donos, mas também por todos aqueles que se esqueceram da sua curta existência e se demitiram de reclamar a dignidade que ele merecia, como unidade hoteleira que era e poderia ter sido.

Por mero acaso foram uns jovens que (descuidadamente) atearam o fogo aos colchões que equipavam uma das principais suítes do Hotel Penacova e que, estranhamente, ainda permaneciam no local, como se não tivessem dono ou como se não tivessem outra utilidade que não a de equipar as camas do hotel. O fogo, esse ladrão, de imediato se propagou à zona mais nobre o hotel, aquela onde as madeiras mais bem cuidadas acolhiam confortavelmente os hóspedes e que, tal como o resto, se encontrava abandonada, à mercê dos desejos mais ou menos obscuros de quem por lá queria passar ou pernoitar, sem ter que se confrontar com algum obstáculo imposto pelos que se suponham ser diligentes proprietários.

Mas o fogo, esse ladrão, apenas veio pôr a nu uma realidade que todos conheciam e que poucos ousavam denunciar. As imagens de quem teve a oportunidade de gravar o incidente demostram, tão só, o estado de degradação a que chegou o hotel, não só no interior, como também no exterior.

Sucedem-se os conselhos de administração, as promessas de resolução, mas não se assiste a qualquer intervenção. Aquele “mamarracho”, que outrora foi a “menina dos olhos” dos penacovenses, jaz agora nas cinzas, sem que para ele se augure algo de bom e vem hipotecar uma venda que se pretendia rápida e despercebida, já que, pelo preço a pagar, só vem dar razão àqueles que sempre consideram exorbitante o preço das rendas que se pediam pela sua exploração e que a impossibilitavam, afastando qualquer potencial investidor.

E agora, como ficarão os responsáveis pelo incêndio? Obviamente que se vão ver a braços com a justiça. Se forem menores e irresponsáveis pouco lhes deverá acontecer, mas se forem juridicamente responsáveis, sofrerão uma pena que lhes irá servir de emenda.

Mas não deveriam ser só eles a serem responsabilizados pelo ocorrido. Também aqueles que, durante todos estes anos, permitiram que se praticassem inúmeros atos de vandalismos contra um património único e inconfundível, deveriam ser chamados a assumir para da responsabilidade pelo sucedido, pois também eles descuraram as mais elementares normas de segurança, ao permitirem o acesso, sem qualquer restrição ou condição, ao interior do hotel e não cuidando de o manter funcional e em bom estado de conservação, como aliás seria lógico e expectável que acontecesse por parte de quem tem alguma coisa de que gosta e se sinta (moralmente) obrigado a preservar.

Pedro Viseu

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