No próximo mês de janeiro, uma equipa de cientistas da
Universidade de Coimbra (UC) vai iniciar um conjunto de testes com colmeias
inteligentes de baixo custo, instaladas num apiário do norte do país (Douro),
no âmbito de um projeto europeu que visa dotar os apicultores de ferramentas de
monitorização remota em tempo real, quer em termos da avaliação da saúde das
colónias quer do potencial apícola de áreas ao nível de recursos para as
abelhas, para uma melhor gestão dos seus apiários.
Designado B-GOOD “Giving Beekeeping Guidance by Computational
Assisted Decision Making” (desenvolvimento de sistemas de decisão para uma
apicultura sustentável – novas ferramentas assistidas por computação), este
projeto reúne perto de 70 cientistas de 17 instituições de 13 países europeus,
bem como apicultores e especialistas em tecnologias informáticas, e tem um
financiamento global de mais de sete milhões de euros da União Europeia através
do Programa Horizonte 2020.
Estas colmeias inteligentes, que vão ser testadas
simultaneamente em mais sete países participantes no projeto, estão
instrumentadas com um conjunto de sensores que recolhem e monitorizam
continuamente vários parâmetros, tais como humidade, temperatura, vibração das
abelhas e peso da colmeia, entre outros, permitindo conhecer o estado da
colónia de acordo com o denominado índice do estado de saúde das abelhas (do
inglês Health Status Index - HSI), um índice desenvolvido pela Autoridade
Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla original).
Com estes estes dados, aliados a outras ferramentas,
explica José Paulo Sousa, vice-coordenador do projeto e docente da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), «vai ser possível
testar, padronizar e validar os métodos para medir e reportar os indicadores
selecionados que afetam a saúde das abelhas, através de uma simples aplicação
informática (app), permitindo que os apicultores tenham informação rápida e
fidedigna em tempo real sobre o estado de cada uma das suas colónias, podendo
detetar antecipadamente fenómenos de enxameamento e sintomas de diversas
doenças, evitando assim constantes monitorizações dos apiários e aplicando
tratamentos adequados quando necessário».
Numa segunda etapa do projeto, os cientistas vão também
desenvolver um modelo fenológico dos recursos alimentares para as abelhas, isto
é, «mapear as flores que são importantes para as abelhas sob o ponto de vista
nutricional, período de floração ao longo do ano e a quantidade de recursos que
podem providenciar». Será um trabalho de elevada complexidade, porque,
clarifica o docente da FCTUC, «implica trabalhar muita informação: trabalhar
dados ao nível das paisagens agrícolas, florestais e de áreas naturais e as
associações florísticas destes elementos da paisagem, e validar em campo o
modelo fenológico identificando as flores “amigas” das abelhas e avaliar o teor
de açúcar, néctar, pólen, etc.».
O objetivo final será «não apenas mapear os recursos
importantes para as abelhas à escala europeia, mas criar mapas dinâmicos de
adequação do habitat em termos de quantidade e qualidade de recursos que cada
zona geográfica pode providenciar por ano às abelhas, informação muito
relevante não só para os apicultores, como também para entidades estatais que
estabelecem os limites para o número de apiários que podem ser instalados em
cada zona do território», salienta o docente da FCTUC.
José Paulo Sousa sublinha que esta ferramenta de gestão
assume particular relevância: «devido às alterações climáticas, a
disponibilidade de recursos florais constitui um grave problema, pois pode
haver espécies que deixem de florir a determinada altura, o período de floração
pode variar, podendo causar um desfasamento entre o período de floração e as
necessidades nutricionais das abelhas e, consequentemente, originar uma
alteração do estado de saúde das colónias, com uma diminuição da capacidade de
reprodução e uma redução na resistência a diversas doenças».
é essencial uma gestão
adequada dos recursos ao nível da paisagem, adotando medidas que incentivem a
implementação de infraestruturas verdes em áreas agrícolas com misturas florais
ajustadas a cada região que permitam períodos de floração mais alargados
O B-GOOD «abre caminho para uma apicultura saudável e
sustentável na União Europeia, seguindo uma abordagem colaborativa e
interdisciplinar», afirma o também investigador do Centro de Ecologia Funcional
da FCTUC, realçando que o que torna único este projeto «é a utilização de uma
ampla rede espacial de recolha de dados em colónias de abelhas com estreita
ligação a dados apícolas já existentes, assim como o desenvolvimento de
tecnologias inovadoras e autónomas para a monotorização de colmeias».
Toda a tecnologia que suporta as colmeias inteligentes do
projeto B-GOOD, o que irá permitir a implementação de ações de mitigação
adaptáveis destinadas a minimizar o impacto de diferentes agentes de stresse
nas abelhas, deverá estar no mercado dentro de dois a três anos.
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