INVESTIGAÇÃO - EQUI-X, um programa inovador para prevenir a violência baseada no género
Vai ser
lançado, na próxima sexta-feira, dia 13
de dezembro, em Lisboa, o EQUI-X
- um manual de ação que pretende
transformar normas rígidas de género, fornecendo novas abordagens para prevenir a violência e promover a igualdade entre
jovens de diferentes idades através da discussão de feminilidades e de
modelos não violentos e equitativos de masculinidade.
O
lançamento terá lugar no Centro de
Informação Urbana de Lisboa (CIUL), pelas 17 horas, com a presença da Secretária
de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, e de outras
individualidades.
Inspirado
nos programas H (Homem) e M (Mulher) da organização não-governamental
internacional Promundo, este programa
resulta de um projeto de investigação que juntou 15 investigadores/as e
ativistas de cinco países – Portugal, Alemanha, Bélgica, Croácia e Espanha – e
foi financiado com cerca de meio milhão de euros pelo programa “Direitos,
igualdades e cidadania” da União Europeia.
Os
programas H e M do Promundo,
reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como programas de boas
práticas, baseiam-se em evidências alicerçadas em abordagens pedagógicas
transformadoras de género, que questionam papeis, identidades e normas de
género entre meninas e meninos, mulheres e homens de várias idades.
Em
Portugal, o projeto foi desenvolvido por uma equipa de investigadores do Centro
de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (UC) e do Promundo Portugal e implementado em três
centros educativos (Olivais, em Coimbra; Navarro de Paiva, em Lisboa; Santa
Clara, em Vila do Conde) e em três escolas do ensino básico e secundário
(Infanta Dona Maria, Coimbra; EB Marquês de Pombal; Escola Secundária de
Pombal).
A
equipa trabalhou diretamente com 122
jovens de ambos os sexos (63 rapazes e 59 raparigas), com idades
compreendidas entre os 12 e os 18 anos. Ao longo dos últimos dois anos, foram
realizadas 52 sessões educativas dinâmicas, colocando em prática 34 oficinas
(das 39 que constituem o EQUI-X) em torno de seis temas principais: relações de
género; masculinidades; masculinidades e media;
saúde sexual e reprodutiva, violência e diversidades; paternidade e cuidados.
Para avaliar o impacto do programa, isto é, verificar se houve mudanças de
atitude com a implementação do EQUI-X, foi aplicado a cada jovem um pré e pós
teste.
De uma forma geral, nota Tatiana Moura, coordenadora do estudo português, todos os jovens que participaram na implementação do EQUI-X mostraram mudanças em termos de atitudes, valores, comportamentos e aprendizagem esperados. O programa conseguiu proporcionar reflexões sobre algumas atitudes e comportamentos em relação às normas de género, às expectativas sociais estereotipadas de género, em relação à igualdade e corresponsabilidade, entre outras, que foram a bússola desta intervenção.
Por
exemplo, nas questões de igualdade de género, tanto os meninos como as meninas
partilharam atitudes positivas desde o princípio da intervenção em questões
objetivas (divisão de tarefas domésticas, decisão sobre ter filhos, uso de
preservativos, etc.), melhorando em atitudes subjetivas: um homem precisa ser
“duro” (passou de 61,1% para 80,6% nos meninos e de 74,1% para 92,6% nas
meninas); meninos que se comportam como meninas são “fracos” (de 63,9% para
83,3% nos meninos e de 88,9% para 100% nas meninas).
Comparando
os resultados obtidos nas escolas com os dos centros educativos, verificou-se
que, de modo geral, «as atitudes dos
jovens nos centros educativos são menos equitativas do que nas escolas em geral
e refletem uma desigualdade também no acesso aos direitos e de uma vida sem violência.
Sobretudo os meninos nos centros educativos têm atitudes marcadamente menos
igualitárias», afirmam os investigadores Rita Santos e Tiago Rolino, embora
se tenham observado algumas exceções: «por
exemplo, nas questões: para ser um homem, é preciso ser “duro”, que evoluiu de
18,2% para 36,4%; o casal deve decidir junto que tipo de contracetivo usar,
passando de 54,5% para 81,8%».
As
meninas, pelo contrário, «são mais
reflexivas em questões como: ambos os parceiros devem ter responsabilidade para
evitar a gravidez (evoluiu de 46,2% para 84,6%), um verdadeiro homem somente
tem sexo com mulheres (alterou de 69,2% para 84,6%) e não é só responsabilidade
da mulher evitar a gravidez (de 7,7% para 69,2%)», explicam.
Além do
programa de intervenção adaptado à realidade e cultura de cada um dos cinco
países participantes no projeto, foi também desenvolvido um manual europeu onde
são expostas algumas reflexões pertinentes sobre temas que foram identificados
como fundamentais nas práticas de trabalho quotidiano dos parceiros, com o
objetivo de alcançar a equidade de género e prevenir a violência nas suas
múltiplas formas.
«Pretendemos desconstruir a caixa rígida de
masculinidades que contribui para a perpetuação das desigualdades de género»,
afirma Tatiana Moura. Este projeto chama ainda a atenção «para os desafios das mudanças políticas e das clivagens à direita
conservadora e o retrocesso que isso pode significar na agenda da igualdade de
género e na implementação de metodologias deste tipo», conclui.
A
equipa espera agora que o EQUI-X seja útil como ferramenta de trabalho em
escolas e centros educativos do país, bem como em outros contextos de educação
não formal.
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