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ILUSTRES [DES]CONHECIDOS - Manuel Ferreira Sales Guedes (1893 - 1948)

Entrevista a Sales Guedes no "Notícias de Penacova" em Abril de 1932
Manuel Ferreira Sales Guedes nasceu no dia 23 de Fevereiro de 1893, em Poiares (Peso da Régua), onde também foi baptizado a 28 de Julho do mesmo ano, tendo como padrinho o Doutor Manuel Vieira de Mattos[1], cónego da Sé de Viseu, que viria a ser uma figura de alto destaque durante a “Guerra Religiosa” da I República.

Filho de Leonel do Nascimento Guedes, natural de Alvações do Corgo, e de Maria de Jesus Ferreira Salles Guedes, natural de Cambres, proprietários. Neto paterno de Joaquim do Nascimento Guedes e de Rita de Jesus e materno de Francisco Ferreira Salles e de Ana Pires.

Começou por estudar Medicina Veterinária em Lisboa, área na qual se licenciou mas, alguns anos mais tarde, também cursou e concluiu a licenciatura em Medicina.

Casou em Lisboa, a 3 de Junho de 1918, com Sara de Jesus Bastos. Poucos anos depois, já com duas filhas, veio para  Penacova na qualidade de Médico Municipal. De acordo com a opinião de seu neto, Dr. Artur Coimbra, “terá escolhido Penacova, pela sua proximidade à cidade de Coimbra e por esta região sempre lhe parecer parecida com o seu Peso da Régua.”

Manuel Ferreira Sales Guedes teve um papel decisivo no lançamento dos alicerces do Hospital e do Preventório bem como na sua concretização. Em finais da década de vinte, a Irmandade de N. S. da Guia alterou os estatutos e converteu-se em Misericórdia. Pela acção do Dr. Sales Guedes, que era Mesário (sendo Provedor Luís Duarte Sereno) avançou-se com a criação do Hospital, há alguns anos desejado. Foi na fase inicial das obras que Sales Guedes convidou Bissaya Barreto para vir a Penacova. Dado que este tinha em mente construir na região uma casa para acolher crianças e achou a localização ideal para esse efeito, propôs à Misericórdia a cedência (à Junta Distrital, de que era presidente) do edifício em construção e também do largo adjacente. A Junta Distrital ficaria com o compromisso de apoiar a construção e o funcionamento de um novo edifício hospitalar nas imediações. Assim nasceu o Hospital da Misericórdia e o Preventório, “dois padrões de glória que falam bem alto do altruísmo dos seus realizadores” – no dizer da imprensa local.

Sobre o papel de Sales Guedes escreveu Lúcia Namorado[2], em 1933, numa revista de âmbito nacional : “Vem isto a propósito do Preventório de Penacova que, se figura como obra da Junta, verdadeiramente se deve em grande parte ao Dr. Sales Guedes, que dia a dia lhe tem dado o melhor da sua inteligência, da sua actividade e do seu carinho: falando no Preventório de Penacova justo é que se faça referência a este médico distinto que tão bem sabe amar a sua nobre profissão e se preste homenagem ao seu espírito empreendedor e generoso. Pelos relevantes serviços "em prol da Assistência" será condecorado com a Ordem de Benemerência. 

Alguns anos depois, Manuel Ferreira Sales Guedes foi também Presidente da Câmara. Exerceu o cargo, para o qual fora nomeado pelo Governo, de 23 de Outubro de 1936 a 29 de Dezembro de 1937. Em Fevereiro deste ano fora, em acumulação, nomeado Presidente do Conselho Municipal. Por força de uma lei que entretanto foi publicada e que proibia que qualquer funcionário da Câmara, neste caso médico municipal, estivesse à frente da mesma, viu-se obrigado a renunciar. Neste curto espaço de tempo pugnou pela conclusão das obras do actual Edifício dos Paços do Concelho, que inicialmente se destinava a Casa do Povo. A ele, e ao seu antecessor, José de Gouveia Leitão, se ficou a dever a electrificação de parte do concelho. Ainda, neste cargo, ergueu a voz contra as altíssimas taxas de mortalidade infantil (dos óbitos ocorridos no concelho em 1936,  32% eram crianças  até aos 4 anos) devido à falta de cuidados médicos na gravidez e nos primeiros anos de vida.

Ainda no campo político há notícia de que em 1938 ocupava o cargo de Presidente da Comissão Concelhia da União Nacional, destacando-se como fervoroso defensor de Salazar e do Estado Novo, de acordo com as transcrições de muitos dos seus discursos e alguns artigos de opinião publicados nos periódicos locais da época.

Dotado de veia musical a ele se ficaram a dever inúmeras composições feitas propositadamente para diversos ranchos que naqueles tempos se foram formando na vila.

“No final da sua vida, já com pouca saúde, optou por dias mais calmos numa posição mais prestigiante, entregou Penacova a um dos seus genros e rumou a Viseu dedicando-se, até á sua morte, às funções de Delegado da Saúde distrital .”- podemos ler  no historial da Clínica Médica Artur Coimbra.

Teve uma vida mais curta que a de seu irmão Francisco (1894-1964), que foi Tesoureiro da Câmara  e morreu em Penacova com 70 anos. Com apenas 55 anos, Manuel Ferreira Sales Guedes faleceu em 1948.



> David Gonçalves de Almeida



[2] Maria Lúcia Vassalo Namorado Silva Rosa, sobrinha de Maria Lamas, viveu em Penacova nos inícios da década de trinta. Jornalista e escritora de craveira nacional esteve ligada pelo casamento a Lorvão.

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