CRÓNICA - “ Vivências felizes numa Estrutura Residencial Para Idosos – O meu testemunho”
Passado
quase dois anos do falecimento da minha mãe, da minha “patroazinha” como
carinhosamente a tratava…
De tanta saudade que tenho do seu amor, do seu
afecto, do seu colo e da sua presença…
E, porque sei que a minha mãe foi imensamente
feliz na Estrutura Residencial para Idosos do Centro Social Paroquial do
Sarzedo, impõe-se e tenho a certeza que lá do céu concordará comigo, uma
reflexão sobre as Estruturas Residenciais para Idosos e o meu testemunho, na
qualidade de familiar de residente e Assistente Social/Directora Técnica da
Instituição…
O
debate em torno do envelhecimento e das respostas sociais de apoio aos cidadãos
idosos tem adquirido, nos últimos anos, crescente actualidade e relevância, em
particular nas sociedades ocidentais, verificando-se uma preocupação central
com as questões ligadas à velhice e ao envelhecimento.
O
aumento da esperança média de vida trouxe consigo o aumento do número de
pessoas idosas e, com estas, várias necessidades sociais, que se colocam como
desafios nas modernas sociedades em que vivemos.
Neste
contexto e para responder a estes desafios foram surgindo, ao longo dos tempos,
diversas respostas sociais, tais como Centros de Dia, Serviços de Apoio
Domiciliário (SAD), Estruturas Residenciais para Idosos (ERPI), entre outras.
As
Estruturas Residenciais, outrora designadas por Lares, têm a sua origem
histórica nos Asilos, tendo surgido como alternativa aos idosos em situação de
maior risco ou de efetiva perda de independência e/ou autonomia. É a resposta
social mais antiga, cuja origem se perde nos tempos. A grande maioria dos Asilos
estava ao cuidado da Igreja.
Desde a década de 60 houve, contudo, uma
tentativa por parte da sociedade e do Estado de melhorar as condições de
acolhimento dos Asilos. E é nesta perspectiva de melhoria significativa das
casas de acolhimento aos mais velhos que vou centrar a minha abordagem.
O
Centro Social Paroquial do Sarzedo
tem
acompanhado a evolução da sociedade e desenvolvido, ao longo dos anos,
respostas específicas e adequadas para a população de idade maior, tendo sempre
em conta as diversas problemáticas associadas a esta, tais como o aumento do
número de pessoas com demência e a procura de espaços específicos, com
atividades direcionadas a esta população.
Sabemos
que quando não é a família que cuida, é uma Instituição que cumpre esse
desiderato.
Quando a institucionalização numa Estrutura Residencial
se torna inevitável e se afigura como a melhor resposta, o papel da família é
de grande importância na promoção de uma melhor e adequada integração dos
idosos nos equipamentos. A integração institucional passa, então, pela
manutenção das relações familiares, relações pessoais, participação em
atividades na instituição, com a comunidade, do sentimento de pertença e do
envolvimento. Todas as pessoas necessitam de se sentir amadas e de amar, de
estabelecer laços afetivos e de socializar.
No caso concreto da minha ”Patroazinha”, a
mesma depois de uma existência marcada por uma vida dura de trabalho, por
problemas pessoais difíceis e consequentes problemas graves de saúde; Considerando
que a minha mãe viveu sempre comigo e que fui sempre eu a sua cuidadora informal
até à entrada na ERPI;
Atendendo a que viveu sempre no seu cantinho,
na minha casa, dedicando-se totalmente à sua família (filha, neta e genro) que
foi sempre a sua grande prioridade;
A minha querida mãe foi confrontada pelo
agravamento da sua situação de saúde e de dependência com a minha incapacidade
enquanto filha para tê-la em casa, no seu meio familiar de vida e prestar-lhe
todos os cuidados que a mesma me merecia, mas que devido à minha vida
profissional, já não conseguia assegurar, com a imposição de cuidados que o seu
estado geral de saúde exigia para o seu bem-estar e felicidade nesta etapa da
vida.
A
primeira reacção à ida para a Estrutura Residencial foi um não que se transformou
de imediato num sim, porque a minha querida mãe que sempre toda a vida me
priorizou, compreendeu que eu não tinha condições para fazer o melhor por ela
em casa.
A
entrada na ERPI da minha “Patroazinha” foi um duplo desafio para mim, como
filha e como Assistente Social/ Directora Técnica da Instituição que a acolheu.
O duplo desafio foi superado, porque a integração da minha mãe no ambiente
institucional foi absolutamente positivo…criou boas relações com os seus pares,
com os colaboradores e conseguiu perceber cabalmente que a ERPI tinha sido a
melhor opção para as duas partes…e a minha querida mãe adorou viver na ERPI (até
participou em diversas actividades, algo que me surpreendeu e que não
imaginaria na minha mãe…) situação que
tenho documentada em vídeo aquando dos seus consecutivos internamentos nos HUC,
onde dizia frequentemente que tinha saudades dos colaboradores, dos seus pares(
mandava beijinhos para todos) e do seu quarto no espaço institucional. Sei que
a minha querida mãe foi feliz no pouco tempo que viveu na ERPI e mesmo
relativamente a mim, já muito doente mas sempre com aquele sorriso no rosto que
tão bem a caracterizava dizia que a Directora Técnica da ERPI era muito
exigente mas que tinha muito orgulho nela…depois, no papel de Directora Técnica
tive ainda a proeza de juntar duas bipolares no mesmo quarto (a minha mãe e
outra residente), o que não foi fácil de gerir, mas com estratégia e
colaboração de toda a equipa de trabalho, foi outro desafio superado e outro
crescimento para toda a equipa de trabalho. Sei que a D. Lourdes foi bem
cuidada, foi bem tratada e ao contrário de uma grande maioria de pessoas, tenho
para comigo que as Estruturas Residenciais constituem uma resposta completa,
adequada e humanizada na velhice e como filha, serei eternamente grata a todos
os profissionais que cuidaram da minha mãe e que o fizeram com tanta humanidade
e profissionalismo.
No
Centro Social Paroquial do Sarzedo,
os
desafios da preservação das capacidades funcionais, da manutenção da
independência para as atividades básicas e instrumentais de vida diária, a
prestação de uma panóplia de cuidados humanizados representam uma luta diária
de quem trabalha na área da gerontologia e em específico na nossa Estrutura
Residencial para Idosos.
Este
trabalho social desenvolvido na ERPI passa muitas das vezes despercebido aos
olhos até dos familiares e amigos mais presentes. Dia após dia, uma equipa de
profissionais capacitada, trabalha na aplicação e persecução dos Planos de
Desenvolvimento Individual (PDI’s) de cada idoso, onde são desenvolvidas
diversas técnicas e metodologias com vista à manutenção das capacidades
funcionais, do bem-estar e da qualidade de vida.
A
satisfação das necessidades e atividades básicas de vida diária não podem ser
as atividades principais de uma Estrutura Residencial, essas têm de estar, à
partida, garantidas. O desafio é criar condições e estratégias para que cada um
dos nossos residentes seja feliz na sua estadia entre nós.
No
Centro Social Paroquial do Sarzedo, tornar os outros felizes, é a nossa missão.
Trabalhamos para a felicidade dos nossos clientes.
A
nossa verdadeira missão enquanto equipa técnica multidisciplinar com formação e
preparação, com profissionais como Nutricionista, Médico, Enfermeiros, Fisioterapeuta,
Assistente social/ Directora Técnica, Professor de Educação Física, Administrativos,
Animador Sócio-cultural, Auxiliares, Cozinheiros, Ajudantes de Acção Directa, é
responsabilizar-se através das suas competências e facilitar todos os processos,
trabalhando para a promoção da autonomia, da vigilância de saúde, da
reabilitação, da prevenção de complicações, da garantia de bem-estar e da
qualidade de vida dos nossos residentes.
É
por demais evidente que os nossos residentes necessitam de cuidados especiais,
empenho e competência da resposta social Estrutura Residencial para idosos,
para que as dimensões física, psíquica, intelectual, espiritual, emocional,
cultural e social da vida de cada indivíduo possam por ele ser desenvolvidas
sem limitações dos seus direitos fundamentais à identidade e à autonomia.
Na verdade,
na Estrutura Residencial para Idosos do Centro Social Paroquial do Sarzedo,
procuramos lutar pela integridade e dignidade dos mais velhos com quem
trabalhamos diariamente e de preservar a sua identidade, num espaço humanizado,
personalizado, atentos às efetivas e específicas necessidades de cada situação,
sem perder de vista que é o cliente idoso, nas suas necessidades e desejos, com
suas vivências familiares e sociais, integradas no universo dos cuidados a
prestar, o foco centralizador de toda a nossa actuação. Tenho dito.
Rosário Pimentel
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