OPINIÃO - As expectativas sobre Mário Centeno
Mário Centeno é o novo governador do Banco de Portugal (BdP).
O ex-Ministro das Finanças traz consigo uma imagem de competência e
credibilidade de que o BdP bem precisa, depois de dez anos de Carlos Costa, o
homem que tudo viu e nada podia fazer.
A expectativa é que Centeno tenha a coragem para fazer o que
o seu antecessor não fez e ponha de vez uma rolha no sugadouro que tem sido a
banca portuguesa. Será certamente um caminho difícil. Mas, antes de atacar as
grandes questões, Centeno poderia concentrar-se em resolver algumas mais
pequenas, mas com grande impacto nos nossos bolsos: as comissões.
Sejamos francos: as comissões bancárias são exercícios de
imaginação pagos a peso de ouro aplicados a serviços prestados que, por vezes,
nem existem. À cabeça, as comissões de manutenção da conta e ao processamento
da prestação serão as maiores bizarrias, às quais se acrescentam as comissões
sobre transferências no homebanking, o MB Way e o distrate de hipoteca.
De facto, que sentido faz o cliente pagar para lhe ser
cobrada uma prestação de um crédito? Em que realidade alternativa é que um
documento que comprova a extinção da hipoteca após saldada a dívida, pode
variar entre os 100€ e os 200€? E no caso do MB Way, se é verdade que há um
serviço prestado, como é que se justifica a taxa fixa de 1,20€ praticada pelo
BPI e pelo BCP quando grande parte das transferências feitas através da
aplicação são iguais ou inferiores a 10€ (25%, segundo dados da SIBS)?
Não devemos esquecer que, quando abrimos uma conta e pomos
lá o nosso dinheiro, estamos a efetuar um depósito. Isto quer dizer que entregamos
o nosso dinheiro ao banco para que ele o guarde e o restitua quando tal for
pedido, mas também para que o possa usar para diferentes fins, como vender esse
dinheiro a outras pessoas, normalmente através do crédito, e lucrar com isso.
Com o fim das recompensas financeiras, ou seja, dos juros que os bancos pagam sobre
esses depósitos, a relação deixou de ter o benefício mútuo que caracteriza o
depósito e com o advento da transferência da atividade bancária da
intermediação financeira para uma atividade baseada em comissões, a situação
agravou-se, deixando de ter o mesmo valor para o depositante que teve outrora.
Perante as falhas da autorregulação, da legislação vigente e
da concorrência de mercado, espera-se que, com Mário Centeno ao leme, o BdP
tome uma postura mais interventiva. Propor uma definição de serviço bancário
que tenha impacto na sua definição jurídica, a criação de uma conta à ordem sem
custos e sem as restrições dos serviços mínimos bancários e a definição de
comissões razoáveis aos clientes bancários seriam um bom começo. O verdadeiro
desafio está na reposição da confiança no relacionamento entre clientes e
bancos, e isso só poderá ser alcançado com um regulador atento e com a coragem
para intervir quando necessário.
Rui Sancho
Sem comentários
Leia as regras:
1 - Os comentários ofensivos não serão publicados.
2 - Os comentários apenas refletem a opinião dos seus autores.