OPINIÃO - De novo, o novo Ténis
Aproveitando o mote do Luís Amante, e uma vez que se
avizinha a inauguração da requalificação do Parque Municipal, ou Ténis, para
quem é de Penacova, também decidi escrever sobre aquele espaço, que sempre
considerei “nobre” porque era ali que os maiores (e melhores) eventos de
Penacova se realizavam. Não me posso esquecer da festa anual dos bombeiros, que
aguardava com grande ansiedade, das várias atuações que lá ocorriam (das Marias
Albertinas de que falava o Luís) e que traziam à nossa vila as multidões que
enchiam os patamares do Ténis e, claro, do único espaço disponível, em terra
batida é certo, que tínhamos para jogarmos à bola na vila de Penacova, ainda
antes de ter sido transformado em campo de jogos o recinto da escola primária
“Maria Máxima” e quando ainda por lá existiam as tais oliveiras, com as raízes
expostas, que tantas esfoladelas nos joelhos me causaram.
Recordo com saudade, as várias partidas de futebol que se
prolongavam durante a tarde e até à quase noite, com o Chico, o Miro, o
Fernando Rara, o João Carlos, o Zé Cirilo e com tantos outros que, durantes as
férias, ou até mesmo em tempo de aulas, procuravam naquele único e mais bem
localizado espaço, a oportunidade para “exibirem” os seus “dotes”
futebolísticos, numa altura em que, entre nós, ainda não se falava em equipas
de futebol organizado, como hoje as conhecemos. Era por amizade e por
necessidade, estranha a outros vícios, que nos reuníamos e nos divertíamos por
ali. Tudo isto sem esquecer as laranjas do Sr. Silvino, da “Quinta de
Carrazedos", umas vezes doces outras vezes amargas, sobretudo quando éramos “corridos
à pedrada”, por aquele bom homem.
Apesar de não ter conhecido o “ténis” na fase em que serviu
para a prática que lhe deu o nome, e que o Luís Amante tão bem descreveu, e de
considerar que naquela altura seria um extraordinário equipamento que
complementava o todo que constituía a “Penacova dos Aristas”, o Ténis não foi
assim tão mal aproveitado naqueles anos pós-revolucionários em que tudo aquilo
que até ali tinha sido bom, não poderia (ou deveria) continuar a sê-lo.
Mas pronto, o espaço existia, não se podia ignorar, era
necessário mantê-lo utilizável e foi o que se fez durante muitos anos, com as
limitações impostas por uma época de grandes mudanças, na sociedade livre de então.
Era lá que, por exemplo, se vacinavam os cães, muito longe das normas hoje
exigidas. Cada um levava o seu, preso por um cordel, e esperava pela sua vez,
rezando para que os donos daqueles rafeiros mais enraivecidos, tivessem “mão no
bicho” e que a corda não partisse, o que seria uma grande inquietação com tudo
a fugir por aqueles degraus acima, ou abaixo, em alvoroço.
Também foi lá que o
Estado democrático, imbuído pelos ideais de uma escola pública para todos,
decidiu implantar dois dos pavilhões pré-fabricados que faziam parte da escola
secundária de então, os quais, em conjunto com outros dois que se encontravam
junto à palmeira, compunham um centro escolar do secundário, que se confundia
com a vila e que lhe dava a alma que hoje não tem, nem pode, pois o “epicentro”
estudantil de Penacova foi concentrada (e bem) num espaço próprio da “Quinta do
Codessal”. Mas pegando na escola daquela altura, e fugindo um pouco ao tema
que me aqui trouxe, não posso deixar de referir que Penacova, naquela época foi,
talvez, um dos maiores centros escolares a céu aberto do distrito. Toda a vila,
desde o fundo ao cimo, tinha edifícios adaptados a estabelecimentos escolares. Os pavilhões junto aos
correios, a casa do Dr. Homero, já desaparecida para dar lugar a um melhor
acesso ao Hotel Penacova, o edifício onde atualmente se encontra instalada a
Escola Beira Aguieira, constituíam o ciclo preparatório. Assistia-se
diariamente a uma enorme concentração de jovens naquela zona da vila. Então, se
imaginarmos que a feira mensal se realizava, ora no Terreiro, ora pela Vila
abaixo, dá para imaginar o fervilhar de gente que Penacova tinha naquela
altura, sempre em perfeita harmonia.
Voltando ao parque municipal, ou ao Ténis da minha
adolescência. As associações foram-se afirmando, foram melhorando as suas
infraestruturas e os seus equipamentos e, aos poucos o Ténis foi perdendo a
importância que até ali mantinha, como local aglutinador de todas as atividades
de Penacova. Ainda assim foi palco para a atuação de algumas das melhores bandas músicas do
país (os GNR e os Sitiados passaram por lá) e só não foi palco da 1ª edição do
Festival “Pénacova Rock”, porque nesse dia choveu e aquele embrião de festival transitou, de emergência, para o salão do Mocidade Futebol Clube e talvez por
isso, por ter chovido, não se voltou a realizar.
O Ténis, passou assim, a ser definitivamente o Parque
Municipal. Equipado com parque infantil, com vários baloiços e escorregadas,
totalmente construídos nas oficinas da Câmara Municipal, à revelia das atuais e rigorosas
normas de segurança, porque não existiam (nem as normas nem a consciência da sua
necessidade), que exibiam as arestas pontiagudas e sem que, mesmo assim,
tivesse sido notícia algum corte ou ferimento provocado por alguma delas, até
porque isso não era acontecimento, não era notícia, ou não servia para ser notícia.
Também tinha o restaurante bar explorado pela família do Sr. Augusto, do
Parque, os flippers que davam bónus sem fim, sabendo-lhe o truque para evitar o
“tilt”, claro, e os matraquilhos juntamente com os “sumóis”, as minis, os pipis
e os caracóis. Foi assim o Parque Municipal, até encerrar, durante anos, muitos
e demasiados.
Agora, passados todos esses dias de abandono e de imbróglios
de irresolução aparente, mas desembrulhados por autarcas expeditos e resolutos, o
Parque Municipal, o Ténis (para sempre), vai voltar a brilhar. Não como
outrora, mas com outro brilho. Um brilho novo, quão novos forem os equipamentos
e as infraestruturas lá colocados e quão arejadas forem as mentes que os irão
gerir.
Penacova “Arista” merece esta nova lufada de ar. Os turistas
(aristas) agradecem, e o Povo sente que, finalmente, se fez justiça àquele
local que em tempos orgulhosamente se reviu e que, agora, em complemento com
tantos outros que hoje temos, se vai tornar a rever.
Por fim, deixo uma palavra de agradecimento aos autarcas,
pela coragem e pela vontade com que “abraçaram este projeto”, e quero deixar uma
palavra de especial agradecimento ao atual presidente da junta de freguesia de
Penacova, Vasco Viseu, pois sem o seu amor à terra que o viu nascer, sem a sua
persistência, e sem a sua irredutível convicção na necessidade para a nossa
vila deste novo “ténis”, a que pessoalmente assisti, não seria tão fácil a concretização
desta tão emblemática obra, que com certeza irá servir todos os penacovenses, com a qualidade esperada e por muitos e bons anos.
Pedro Viseu
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