CRÓNICA - Envelhecimento Mental
É uma constatação óbvia nas últimas décadas, do crescimento da população com mais de 60 anos, principalmente nos países desenvolvidos. Entre 1970 e 2025, é esperado um aumento significativo de pessoas nessa faixa etária em todo o mundo e estima-se que em 2050 haverá dois bilhões de pessoas idosas, com 80% delas vivendo nos países mais ricos. No entanto, o envelhecimento da população não é mais uma característica apenas dos países endinheirados. A expectativa de vida das pessoas vem aumentando rapidamente também em países em desenvolvimento como o Brasil. Sendo assim, a revolução da longevidade, requer políticas sólidas e acções urgentes para que o envelhecimento das pessoas seja bem sucedido.
Diremos que o envelhecimento ativo e saudável é definido
como o processo de optimização das oportunidades para a saúde, participação e
segurança, para a melhoria da qualidade de vida à medida que as pessoas
envelhecem bem como o processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade
funcional, que contribui para o bem-estar das pessoas idosas, sendo a
capacidade funcional o resultado da interação das capacidades intrínsecas da
pessoa (físicas e mentais) com o meio.
E nesta lógica, cada vez mais, emerge o valor da saúde
mental e o bem-estar da população como um recurso fundamental para a saúde,
aprendizagem, produtividade e inclusão social. Existe, pois, a necessidade de
combater os níveis crescentes de problemas de saúde mental e, ao mesmo tempo,
habilitar e capacitar os mais velhos para lidar com estes problemas e desfrutarem
de uma vida independente. Mas afinal, como podemos explicar o envelhecimento
mental? Com o envelhecimento mental, surge a lentificação de processos mentais(
menores sensações e percepções; menores respostas motoras; menor rapidez de
decisão; menor capacidade de resolver problemas; menor capacidade de
aprendizagem de novas aptidões); há diminuição da memória recente e manutenção
da memória remota; existe menor capacidade
de atenção e concentração; existe menor inteligência fluída e manutenção da
inteligência cristalizada e há menor pensamento abstracto e manutenção do
pensamento concreto e rigidez conceptual.
De acordo com alguns autores (Benedetti et al.2008), as
perturbações mentais comprometem 20 % da população idosa, entre as quais se
destacam a demência e a depressão com a maior prevalência, incapacitando idosos
em todo o mundo, por levarem à perda da independência e quase inevitavelmente
da autonomia.
No que se refere à ocorrência de sintomas depressivos nos
nossos mais velhos, muitos estudos apontam para a existência de muitos casos de
depressão geriátrica não identificados e explicam este facto pela dificuldade
dos idosos em acederem a cuidados de saúde e por alguma relutância em pedirem
ajuda, bem como pela dificuldade na identificação dos sinais de depressão. Em
2007, Gonçalves e Martin sugerem que esta situação leva a uma ausência de
intervenção na sintomatologia depressiva e a um agravamento dos quadros de
morbilidade, bem como a uma diminuição da qualidade de vida e morte precoce.
No que diz respeito à demência, tem-se demonstrado que esta
ocupa um lugar central enquanto condição de morbilidade na população idosa, com
um aumento significativo à medida que a idade avança. Vários autores referem
que as síndromes demenciais constituem uma das causas mais comuns de
incapacidade. Em 2002, Small menciona
que com o avançar da idade surge a probabilidade de perda de
memória bem como dificuldades de orientação e estados confusionais.
É sabido que os estudos relativamente ao desempenho
intelectual demonstraram que as aptidões cognitivas atingem o seu pico pelos 30
anos, continuam estáveis até aos 50, 60 anos e, a partir daí começam a
diminuir, sendo que a partir dos 70 anos, o declínio acentua-se. Assim, Paúl (2007)
sugere que a adaptação aos desafios do envelhecimento é uma tarefa crucial para
as pessoas idosas, podendo a experiência do envelhecimento ser reajustada e
orientada em função dos objectivos e das condições de vida de cada pessoa, no
seu processo de relação com o mundo.
Na verdade, na saúde mental da pessoa idosa, é importante a
aplicação de estratégias que favoreçam a prevenção de transtornos mentais, a
descoberta precoce, o tratamento dessas doenças, com inclusão de procedimentos
de diagnósticos, medicação adequada, psicoterapia e capacitação de
profissionais para esta área.
É fundamental a existência de acções que eduquem e consciencializem a
população para o alcance de uma velhice com saúde física e mental bem como o
fortalecimento de uma rede de cuidados e apoio aos mais velhos com o
envolvimento da família, voluntários e comunidade.
Todos sabemos que o envelhecimento dito “normal” é marcado
pela presença de défices cognitivos e, portanto, para que haja níveis de
satisfação e bem-estar à semelhança de outros estádios da vida, urge avaliar os
défices, perceber a sua gravidade e impedir a sua evolução sempre que possível,
para quadros graves, entre os quais a demência. E por hoje é tudo, termino esta
crónica com o poema “Idoso” de Heloísa Abranhão
Idoso
Toda família tem alguém
Com um brilho especial nos olhos.
Nos lábios sábios conselhos.
Na voz a soma da cultura acumulada,
Muitas vezes desprezada.
Toda família tem alguém que conspira
Com o universo,
orações pelos que ama.
Têm braços de
músculos cansados, mas...
Que não negam o conforto de um longo abraço.
Têm os ombros
cansados, mas...
Não negam um carinho e mais um fardo.
Têm os ossos frágeis, mas... Não negam um colo.
Precisam de atenção, de amor e compreensão.
E estão atentos a
tudo, amam como ninguém,
Sempre tentando
compreender os filhos e netos.
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