Penacova à luz da vela e a utilizar água da fonte
Bombeiros acudiram a mais de 200
pedidos de ajuda, desde sábado, Ontem a grande preocupação eram as populações
que continuavam às escuras
O centro da vila é um deserto. Os
bancos não abriram e os multibancos não funcionam. Dentro das lojas está
escuro, apesar de estarem de portas abertas. Nos cafés e pastelarias, não se
servem “bicas”. Não há luz, nem sequer água. Há quem tenha amassado o pão «à
mão, à moda antiga» só para não falhar aos clientes. Na maioria dos lugares do
concelho falta linha telefónica e, mesmo que haja rede, os telemóveis já estão
sem bateria e sem electricidade para a carregar.
O povo diz que “Depois da tempestade
vem a bonança”, mas em Penacova, ontem, três dias depois do temporal que deixou
um rastro de destruição um pouco por todo o distrito o que restava da
tempestade eram ainda muitas queixas, transtornos, prejuízos e um concelho
completamente parado à espera de energia eléctrica e água na torneira, para voltar
à vida normal que não existe desde sábado, em quase todo o concelho.
Penacova era ontem um dos concelhos
que mais sofria com os cortes de energia e de abastecimento de água provocados pela
tempestade. De acordo com Humberto Oliveira, presidente da autarquia, cerca de 11
mil pessoas ficaram afectadas pelos cortes. A luz voltou durante a manhã em
alguns lugares do concelho, mas a grande maioria das casas estava, ontem à
tarde, às escuras e sem água com cada um a remediar-se como pode. «Voltámos ao
antigamente. À luz da vela e água da fonte», desabafa uma moradora.
Por volta das 14h00, no centro da
vila, acenderam-se as luzes e houve uma esperança, mas não durou mais de 45
minutos. A água nem chegou a correr nas torneiras, como confirmou Luís Menezes,
do Café Beirão, mesmo em frente à câmara. «Percebemos que tudo isto é por causa
de um grande temporal, mas devia haver mais prevenção. Continuamos a achar que
vivemos no “cantinho do céu” e depois é isto», desabafa quem está, desde sábado,
sem luz, sem telefone e sem rede de telemóvel. Juntando a falta de água, «Mais
um dia assim e será complicado», continua.
Marina e Paula Costa eram o rosto
do desespero. As proprietárias da Padaria O Largo nem queriam pensar nos dois mil
pães, que ficaram no frio de sábado para domingo e que foram para o lixo, ou
nos cafés que não serviram.
Sem luz, com um fio de água na
torneira, sem rede de telemóvel e sem telefones, queriam que tudo voltasse ao
normal, para «recuperar o tempo perdido» depois de três dias onde tudo foi
prejuízo…
Viver sem água e sem luz durante
vários dias é no transtorno sentido por todos, nos vários lugares do concelho, Mas
em casa, em quase todas as casas, tal como em todos os cafés ou mercearias, a grande preocupação
são os recheios das arcas e a certeza de que, tantos dias sem luz, significam comida
estragada.
Benvindo Nogueira, morador na
Mata Maxial, no limite de Penacova, perto de Coimbra, é apenas um exemplo. O que
tinha dentro de uma arca conseguiu «mandar para casa de familiares», mas o que
tem nas outras duas «vai-se estragar e quero ver quem paga», desabafou.
Escolas não abriram portas e alguns serviços encerrados
As crianças e jovens de Penacova
tiveram direito a fim-de-semana prolongado. Praticamente todos os
estabelecimentos de ensino do concelho, desde as escolas do primeiro ciclo à
escola secundária, não abriram portas, por um lado devido aos prejuízos causados pelo mau tempo, por outro
por não estar restabelecida, ainda a energia eléctrica e também o abastecimento
de água.
Um das situações mais
preocupantes, ontem, no concelho foi a queda de uma árvore de grande porte no
depósito de gás da Escola Secundária de Penacova, perto do centro da vila, o
que obrigou atenção da autarquia e dos bombeiros, que procederam ao corte da
árvore.
Durante o dia, uma equipa especializada
esteve no local para avaliar as consequências do incidente Apesar dos danos materiais - a
árvore destruiu completamente, a estrutura em ferro e arame que protegia o
depósito de gás - ficou a garantia dos técnicos que estiveram no local que o
mesmo não tinha ficado danificado, não havendo, portanto, qualquer perigo de
rebentamento.
Para além das escolas, também
bancos e outros serviços do concelho se mantiveram encerrados durante o dia de ontem
em Penacova. Apesar
de a câmara estar portas abertas, houve serviços municipais que não funcionaram
devido à falta de luz.
Funcionários da autarquia e sapadores limpam vias
Desde sábado até ao início da
tarde de ontem, os Bombeiros Voluntários de Penacova receberam e acudiram a
mais de duas centenas de pedidos de ajuda um pouco por todo o concelho, que
incluem quedas de árvore, pequenas derrocadas, desobstrução de vias, pequenas
inundações e danos em estruturas e habitações.
«Felizmente, sem danos humanos»,
adiantou António Simões, comandante dos bombeiros de Penacova, que chegava ao
centro da vila, após ter ido fazer uma «volta de verificação por todo o
concelho para fazer o ponto de situação dos estragos».
Também os bombeiros sofreram com
as consequências do temporal. Ficaram sem electricidade e sem telefone fixo e funcionaram,
durante o fimde-semana, com a ajuda de um gerador. Ontem, continuavam a
trabalhar nas consequências do temporal, um pouco por todo o concelho.
Para além dos bombeiros, uma
equipa com cerca de 25 funcionários da autarquia e os sapadores florestais
circulou por todo o concelho a proceder a limpeza de vias, nas estradas onde
houve, durante o fim-de-semana, queda de árvores e derrocadas, como adiantou ao
Diário de Coimbra, Humberto Oliveira, presidente da Câmara Municipal de
Penacova que, durante os últimos dias, acompanhou de perto todos os trabalhos.
Edição impressa do Diário de Coimbra de 22.02.2013 - Jornalista Ana Margalho
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