Temporal surpreende população - “Isto parecia cenário de guerra... "
Vendaval deixou casas sem luz e água, telefones mudos e escolas sem funcionarem. Populações improvisavam dia a dia
Água? ‘Andei a apanhar dos beirais para me lavar!”. Dois dias depois da ventania destruidora, encontrámos Celso Oliveira, de 37 anos, a improvisar o funcionamento da balança eletrónica do talho onde trabalha graças à ligação que fez à à bateria de um automóvel estacionado à porta. A água chega do céu, já nos contou Celso, porque a rede pública não funciona.
Penacova, concelho com 3200 habitantes. Telefones mudos,
telemóveis em desalinho de redes. Dois sons rasgam a pacatez da vila: o som de
motosserras a cortar lenha e dos geradores que alimentam alguns comércios, os
lares de idosos e o quartel dos bombeiros. As escolas fecharam ontem. O
tribunal também. “Isto de sábado para domingo parecia um cenário de guerra”,
resume o comandante dos Voluntários, António Simões, cicerone do DN por
estradas cheias de destroços florestais. Acudiu-se a mais de 200 ocorrências
(cortes de árvores, inundações, telhas levantadas).
Combustíveis? “O meu marido teve de ir buscar gasóleo a Vila
Nova de Poiares, relata Helena Carvalho, em voz alta sempre abafada pelo
gerador que fornece energia ao seu talho e a outros dois outros comércios no
mercado municipal. Helena aquece uma sopa no fogão de campismo. A improvisação
resolve parte dos problemas mas o proprietário de um dos mais emblemáticos
restaurantes da vila, cuja especialidade são as afamadas lampreias, estava ontem
na rua de mãos a abanar. “Tive de pôr as lampreias no riacho, porque estamos
sem abastecimento de água e os bichos precisam de oxigénio”, especifica Jorge
Côta. “Não sei se o seguro multirriscos me servirá neste caso. O restaurante
está fechado desde sábado, o prejuízo é grande e lamento que ninguém apareça
para dar a cara, nem os da luz nem da água, desde sexta-feira à noite, estamos
no caos...”, critica.
Dinheiro? Bancos encerrados, ontem. ATM inativos desde o
‘apagão’ de sábado. Sem cartões mas com muitas complicações, muitos clientes
deslocaram - se a Coimbra para levantar os euros necessários para os próximos
dias. “Tenho umas moedas...” desabafa uma funcionária municipal, enquanto
beberica uma cevada no café turismo mesmo ao lado da câmara. Em nome do
município, o vice-presidente, Ernesto Coelho, diz que há muitas equipas a
tentar repôr a normalidade. Certo é que, ao fim da tarde, permaneciam postes
tombados na estrada e até uma torre de média tensão, vergada pelo vento, na
aldeia de Miro, estava à espera dos especialistas.
Eletricidade? “Candeeiro a petróleo, à antiga. Com um pano de
seda fiz uma torcida e...tive luz”, revela Henrique Barreirinhas, de 52 anos. E
um dos cinco habitantes de Hospital, o mais pequeno povoado de Penacova. Vila
onde por estes dias as notícias chegaram pelos jornais e rádios a pilhas.
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