PENACOVENSES PELO MUNDO - Começar do zero e ajudar o país a crescer pela literatura
Quando se pergunta a João Fonseca porque é que saiu de
Portugal e rumou, com a esposa, a um país desconhecido ele responde com a
necessidade de «começar tudo do zero».
Começar do zero a partir de Cabo Verde, um país onde não conhecia ninguém, um
lugar onde não tinha sequer qualquer tipo de contacto. «Em plena juventude decidimos abalar com as malas às costas para um país
desconhecido», recorda. Foi em Março de 2014 e a experiência têm-se revelado
à altura das expectativas de um casal que queria combater um modelo de vida «consumista», «individualizado» e «cada vez
mais estupidificado» e, ao mesmo tempo, «viver novos desafios e procurar novas culturas e modos de vida».
«Até este momento
tem sido um percurso do qual nos orgulhamos imenso», resume João Fonseca,
professor de História e HPG no Colégio Português.
O percurso do casal João e Inês (de Penacova, filha de
Fernando Alvarinhas) já os levou a viajar por quase todas as ilhas de Cabo
Verde e a viver em duas delas S. Vicente e Santiago.
Começaram os dois, passaram a três com a chegada do pequeno
Benjamim actualmente a fazer quase três anos e em breve passarão a quatro
elementos (Inês está grávida). «Temos
tido experiências muito produtivas», refere, assumindo mesmo que o filho
Benjamim «é fruto do que chamaríamos "viver
uma vida perfeita"».
Projecto
literário leva leitura às escolas
Quando o filho chegou ao mundo, João Fonseca decidiu
escrever-lhe uma história em cada aniversário - em vez de lhe dar um presente -
e na altura nem sonhava no rumo que a história do Benjamim iria tomar. Fez
nascer o projecto "Estórias do meu
país inventado" e a primeira dessas histórias foi "As tartarugas também choram".
«Este projecto nasceu da necessidade de escrever estórias para o meu filho sobre a realidade de Cabo Verde e nasceu também da necessidade de querer dar ao Benjamim coisas vindas do meu amor pela literatura e por ele», explica.
«Este projecto nasceu da necessidade de escrever estórias para o meu filho sobre a realidade de Cabo Verde e nasceu também da necessidade de querer dar ao Benjamim coisas vindas do meu amor pela literatura e por ele», explica.
Mas depressa deixou de ser uma coisa de “família" para assumir contornos de
projecto literário com forte índole social. A história passou a livro e as
ilustrações são da autoria de Sabino Gomes, um artista da Comunidade dos Rabelados
de Espinho Branco. «Estes artistas da
comunidade não são escolarizados, não dominam a língua portuguesa e repartem o
seu quotidiano entre a agricultura, a pecuária e a construção civil», esclarece.
Este primeiro livro foi lançado há poucos dias e foi apresentado
pela actual primeira-dama de Cabo Verde, Lígia Fonseca. Segue-se agora todo um
esforço de João Fonseca e da equipa com que se rodeou para fazer chegar "As tartarugas também choram" às escolas
do ensino pré-escolar e básico do país, através de sessões em que se conta a
história. «Quando demos conta já estávamos
com um projecto criado e com uma dimensão cultural e educativa bastante
significativa», conta, satisfeito com a iniciativa que cresceu «passo a passo» e que actualmente «é fruto do trabalho de vários elementos».
A par das aulas no Colégio Português e de uma vida longe do
"rebuliço" das sociedades europeias, João Fonseca dedica-se, pelo
projecto literário, que é para crianças e adultos, a fazer progredir um país
que, pelo menos na sua vertente social e educativa, ainda precisa de fazer
caminho. Mas, assegura, «existe em Cabo Verde
uma vontade imensa de aprender com os outros países do mundo para se fazer e se
tornar um país melhor».
"Estamos e queremos estar aqui"
"Estamos e queremos estar aqui"
Em cada regresso às origens João e Inês desfrutam dos
amigos, da família, da casa e da aldeia e vila de onde são oriundos em Portugal.
O regresso definitivo não está excluído, até por questões relativas a «estudos das crianças e estabilidade»,
mas para já a vida é vivida em Cabo Verde. «Estamos e queremos estar aqui», afirma João Fonseca, sobre um país
que tem um «cultura fantástica e artistas
fantásticos desse as artes plásticas à música» e que «apesar das dificuldades, tem sempre presente o seu amor à liberdade e
ao viver a vida».
Margarida Alvarinhas – Diário de Coimbra
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