EMPATIA, o programa que pretende promover o bem-estar dos estudantes-atletas pré-universitários
Em Portugal, as práticas rígidas implementadas nas
escolas do ensino básico e secundário podem constituir um obstáculo à prática
desportiva de alta competição dos seus estudantes. A conclusão é de um estudo
realizado por investigadores da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação
Física da Universidade de Coimbra (FCDEF-UC) no âmbito do projeto europeu
EMPATIA, acrónimo de Education Model for
Parents of Athletes in Academics.
Carlos Gonçalves investigador da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra |
Financiado pelo programa Erasmus+ - programa europeu que
apoia a educação, a formação, a juventude e o desporto -, o EMPATIA pretende
contribuir para a melhoria do bem-estar dos estudantes pré-universitários que
estão envolvidos no desporto de elite, propondo um programa educacional para os
pais e encarregados de educação desses atletas.
Além da equipa de Coimbra, o projeto envolve investigadores
das universidades de Roma (Itália), Limerick (Irlanda) e Liubliana (Eslovénia),
e tem como parceiros o Instituto Nacional do Desporto de França, o Comité
Olímpico Nacional de Itália, a Associação Europeia do Desporto Universitário
(EUSA) e o Ginásio Clube Figueirense (Figueira da Foz).
Para desenvolver este programa educacional, cada país
participante realizou um estudo junto de pais e encarregados de educação, de
modo a efetuar um diagnóstico da situação dos estudantes-atletas
pré-universitários na Europa, isto é, identificar os entraves à prática desportiva
e as medidas que podem ser adotadas para melhor conciliar o estudo com o
desporto de elite, promovendo o sucesso na relação família-estudo-desporto.
Em Portugal, com o apoio do Ginásio Clube Figueirense, o
estudo envolveu 101 pais e encarregados
de educação de atletas de várias modalidades desportivas de alta competição.
De um modo geral, «os pais relataram que
o maior entrave à prática desportiva de elite é a própria escola, que não
compreende as necessidades específicas dos estudantes-atletas. Certas práticas
escolares desvalorizam de alguma forma a participação de estudantes em
programas de desporto de alta competição», descreve um dos investigadores
do estudo português, Carlos Gonçalves.
Apesar de Portugal «ter
uma legislação bastante avançada em comparação com os outros países
participantes no projeto (Eslovénia, Irlanda e Itália), falha na sua aplicação
efetiva. Portugal poderia ser um país modelo nesta matéria se a legislação
passasse para uma prática social», salienta.
Quando questionados sobre as medidas que consideravam
cruciais para o desenvolvimento dos seus filhos e filhas como estudantes e como
atletas de elite, «os pais referiram
essencialmente a necessidade de informação, porque, muitas vezes, desconhecem
os seus direitos», afirma o docente e investigador da FCDEF.
A partir da informação coligida em cada um dos países
envolvidos no estudo, foi possível avançar para a elaboração de um programa de
formação e informação para pais e encarregados de educação de
estudantes-atletas do ensino básico e secundário. «Estamos a trabalhar diferentes conteúdos que permitam auxiliar os pais
a lidar melhor com as várias dimensões da questão, porque a prática desportiva
é extremamente disruptiva para a vida familiar a vários níveis: para o casal,
para os irmãos mais velhos ou mais novos que são afetados pela vida do atleta -
horários de refeições, horários de treino, transportes, gastos financeiros,
etc.», exemplifica Carlos Gonçalves.
Fundamentalmente, acrescenta o investigador, este
programa educacional «propõe uma
abordagem holística para o desenvolvimento e bem-estar do estudante-atleta,
integrando conteúdos que permitem conhecer os riscos psicossociais envolvidos
na prática desportiva de elite e formas de os minorar. É um programa que
ajudará os pais, mas também professores, treinadores e mesmo decisores
políticos, a entender e a gerir de forma adequada a vida dos estudantes-atletas».
O EMPATIA está em fase de conclusão e deverá começar a
ser testado no próximo mês de fevereiro com grupos de pais e encarregados de educação
de Portugal, Eslovénia, Irlanda e Itália. Depois será traduzido para várias línguas,
incluindo português, e disponibilizado gratuitamente numa plataforma Online.
Estima-se que, atualmente, mais de 15 mil estudantes
portugueses do ensino básico e secundário estejam envolvidos em programas de
desporto de especialização visando a elite. Em média, estes estudantes-atletas
despendem 30 horas por semana na prática desportiva.
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