COVID 19 - Coimbra geriu pandemia através de uma resposta diferenciada no Hospital dos Covões
Em Coimbra, o
serviço de urgência do Hospital dos Covões (Hospital Geral), remodelado em
2006, foi o epicentro do combate à pandemia da covid-19, num processo com
algumas dificuldades iniciais, mas que os responsáveis consideram uma aposta
ganha.
Na sexta-feira, a urgência
e a enfermaria de cuidados intermédios eram espaços relativamente tranquilos,
confirmando a redução da procura que se tem verificado nas últimas semanas,
depois de um pico de afluência, em abril, que não chegou a lotar a capacidade
instalada.
Numa visita à urgência dos
Covões, na qual os procedimentos de atendimento e circuitos estão muito bem
definidos, o médico João Gonçalves disse à equipa de reportagem da agência Lusa
que a "transformação" daquele serviço exclusivamente para doentes de
covid-19 foi fundamental para que o combate à pandemia "desse frutos".
Na resposta à pandemia, o
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) adaptou a urgência e o
bloco central do Hospital dos Covões para tratamento da covid-19, alargando
também o horário para atendimento 24 horas.
"No fundo, conseguimos que os doentes não se misturassem e, portanto,
que houvesse menor risco para profissionais e para doentes que ocorriam à
Urgência e, nesse sentido, foi uma aposta ganha", sublinhou João
Gonçalves.
Mas, no início, nem tudo
foi fácil na preparação e organização da área dedicada para a covid-19 e na
integração de outros profissionais que vieram reforçar as equipas de medicina e
de enfermagem.
"Primeiro, houve dificuldade na organização, de perceber qual a melhor
forma de criar circuitos que permitissem ter zonas limpas, zonas sujas, e isso
veio revolucionar a forma de trabalhar na Urgência, disposição das salas e de
áreas de trabalho".
Depois, continuou João
Gonçalves, "teve-se de integrar enfermeiros auxiliares, que vieram de
outros serviços que, entretanto, foram desativados, e teve-se de fazer essa
integração, que foi outro momento de dificuldade e de desafio".
A equipa médica, que
funcionava com especialistas de Medicina Interna, foi também reforçada com
médicos internistas, pneumologistas e infeciologistas.
Para João Gonçalves,
"tudo isto foi um desafio acrescido superado nestes dois últimos
meses".
"Temos uma equipa que envolveu enfermeiros, auxiliares, médicos,
funcionários da limpeza, seguranças, técnicos de radiologia, o laboratório,
secretariado, toda a equipa funcionou de forma muito sólida, os procedimentos
foram ficando cada vez mais oleados e foi cada vez mais fácil trabalhar na
Urgência e o resultado é muito gratificante", sublinhou.
No piso -1 do Hospital dos
Covões, dois cima da urgência, foi instalada a enfermaria F, uma unidade de
cuidados intermédios, que trata os doentes que já passaram pelos cuidados
intensivos ou que precisam de outros cuidados.
João Rua, responsável pela
unidade, explicou à agência Lusa que "as
condições não são as que se encontram habitualmente numa unidade de Intermédios".
Naquela enfermaria, existe
um espaço aberto "em que se pode ver todos os doentes, o que motiva uma
vigilância um bocadinho diferente, complementada com outro tipo de
monitorização vídeo, além da monitorização contínua dos sinais vitais".
O responsável destacou
ainda a necessidade de "adaptação do pessoal a uma doença nova que ninguém
conhecia" e a evolução nos cuidados médicos prestados ao longo do tempo.
A enfermaria tem uma
capacidade máxima de 16 pessoas, mas na sexta-feira tinha apenas sete pessoas
internadas, ainda positivas para a covid-19, mas já em situação estável,
naquele que é o número mais baixo desde 22 de março.
Quando surgiram os
primeiros casos na região de Coimbra, o serviço de Doenças Infectocontagiosas
do polo principal do CHUC (Hospitais da Universidade de Coimbra) constituiu a
linha da frente de combate à infeção pelo novo coronavírus Sars-Cov2.
"Numa fase inicial, o serviço entrou apenas com cinco quartos de
isolamento, quando ainda tínhamos poucos doentes, mas rapidamente esta
capacidade esgotou e tivemos que alocar todo o serviço ao seguimento destes
doentes", revelou à agência Lusa o diretor da unidade, Saraiva Cunha.
A entrada em funcionamento
da urgência e do bloco central do Hospital dos Covões só para covid-19 acabou
por libertar a pressão nos HUC e no serviço de doenças infectocontagiosas.
Neste momento, segundo
Saraiva Cunha, o serviço recebe fundamentalmente doentes "que ainda são identificados esporadicamente
no serviço de urgência e também doentes que são identificados já depois de
estarem internados na enfermaria deste hospital, quando fazem os testes de
rastreio e são identificados como positivos".
O serviço de doenças
infectocontagiosas é uma unidade de retaguarda para o Hospital dos Covões, mas
está na linha da frente dos HUC, "porque os doentes que são identificados
neste polo são internados no nosso serviço".
"Agora são bastante menos do que em determinada altura. Já chegámos a
ter o serviço totalmente lotado com doentes, mas naturalmente que a abertura do
Hospital dos Covões para esta patologia aliviou muito a pressão e, neste
momento, temos oito doentes internados", sublinhou.
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