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OPINIÃO - A economia está a crescer. E agora?

A Comissão Europeia recomendou ao Conselho Europeu o encerramento do Processo por Défice Excessivo a Portugal, uma notícia há muito esperada e que surge no seguimento de um bom desempenho da economia nacional, como comprovam a taxa de crescimento de 2,8% e a queda das taxas de juro da dívida a longo prazo. O momento tem sido assinalado pelas habituais declarações dos líderes partidários: o governo reafirma que isto é resultado da sua política de devolução de rendimentos em contraste com a anterior política de austeridade; a oposição diz que estes resultados só são possíveis devido às reformas postas em prática pelo executivo anterior.

É evidente que a ausência de um discurso coerente da parte da oposição facilita um pouco a tarefa ao governo. Os que hoje clamam louros pelos bons resultados são os mesmos que, numa evidente contradição, apontaram dedos ao governo quando o crescimento económico esteve abaixo das expectativas no primeiro semestre do primeiro ano da Geringonça e quando as taxas de juro estavam acima dos 4%.

O que também facilita a tarefa ao governo é a envolvente externa. Depois de meses de desconfiança e cepticismo, os “mercados” parecem estar finalmente em paz com a existência de um governo de esquerda capaz de cumprir as metas orçamentais estipuladas.

Isto é o que dizem os políticos e as instituições. Mas e o povo? Afinal, o que pensam as pessoas acerca de todo este clima de bonança? Existem entre os portugueses aqueles que olham para a política com um certo distanciamento, desinteresse ou até nojo. Pouco lhes interessa quem está no “poleiro”, uma vez que “são todos iguais”. Interessa-lhes sim ter mais dinheiro na carteira no fim do mês.

Ora, perante tamanho optimismo e perspectivas de crescimento, é natural que se crie uma expectativa de melhoria imediata das condições laborais desajustada daquilo que é a realidade. E a realidade diz-nos que Portugal, que já estava atrasado relativamente aos seus companheiros europeus, agravou esses atrasos durante o governo anterior e que a recuperação é lenta; que o poder de compra dos portugueses só agora voltou aos níveis de 2008; e que apesar dos bons resultados do governo naquilo que efectivamente lhe diz respeito – as finanças públicas – a situação económica do país continua muitíssimo dependente de factores externos.

A evolução é evidente em muitos casos: na função pública, nas pensões, no salário mínimo nacional, na redução da taxa de desemprego (que ainda na semana passada baixou para níveis de 2009), etc. Mas ainda não são extensíveis a todos os portugueses. Daí a importância do encerramento do Processo por Défice Excessivo: só quando esse encerramento for formalizado poderá o governo prosseguir a implementação de reformas mais ambiciosas, com vista a um crescimento económico sustentável e inclusivo.

E ainda há tanto por fazer…

Rui Sancho