CIÊNCIA VIVA - O céu de Outubro de 2017
O dia 5 de Outubro, dia histórico para a República
Portuguesa, é também um dia interessante a nível astronómico este ano. Logo ao
amanhecer, há uma conjunção Marte/Vénus, com os dois planetas a estarem
separados por menos de 1/4 de grau. Mas enquanto Marte voltou a ser visível e
se está a afastar do Sol, até à oposição de 27 de julho do próximo ano, Vénus
está a aproximar-se cada vez mais do Sol.
Estes dois planetas desaparecem com o amanhecer, mas não são
os únicos. A nossa Lua está cheia, fase em que está diametralmente oposta ao
Sol. Assim, a Lua põe-se ao nascer do Sol e nasce ao pôr-do-Sol, estando
visível exclusivamente durante a noite de 5 para 6.
Entre os dias 7 e 8, ocorre o máximo da “chuva de estrelas”
das Dracónidas. Esta chuva de meteoros não é das mais intensas, mas é dada a
surtos de intensidade que podem valer a pena (em 2011 chegaram aos 600 meteoros
por hora). Além disso, esta é das poucas chuvas em que o radiante (ponto de
onde parecem emanar os meteoros), está praticamente por cima das nossas cabeças
logo ao anoitecer, por isso, desde o anoitecer e até que a Lua quase cheia
nasça, pode valer a pena gastar uma hora “de papo para o ar”.
Dia 12 a
Lua alcança o quarto minguante. E nos dias 17 e 18, um finíssimo minguante da
Lua passa, respetivamente, a 2 graus de Marte e a 3 graus de Vénus, ao
amanhecer. No dia seguinte, o nosso satélite atinge mesmo a lua nova.
Isso são boas notícias para a chuva de meteoros das
Oriónidas, cujo máximo ocorre no dia 21. Este ano estão previstos apenas 20
meteoros por hora, mas parece ter sido detetado um ciclo de intensidade de 12
anos, com o máximo menos intenso a ter ocorrido entre 2014 e 2016. Assim, nos
próximos anos espera-se que esta chuva aumente cada vez mais de intensidade.
Dia 27 a
Lua está em quarto crescente e dia 29 muda a hora, com os relógios a atrasarem
uma hora às 2h00 no Continente e na Madeira (passa a ser 1h00), e à 1h00 nos
Açores (volta a ser meia-noite).
Durante este mês teremos, alta no céu e virada a
Nordeste ao início da noite, a constelação de Cassiopeia. Esta rainha, mãe de
Andrómeda, ficou tão convencida da sua beleza, que anunciou ser ainda mais bela
que os deuses. Isto ofendeu Poseidon, o deus dos mares, que achava as suas
Ninfas as mais belas criaturas do Universo. Irado, criou o monstro marinho
Cetus (a constelação da baleia), para arrasar barcos e aldeias costeiras. Para
apaziguar Poseidon, a princesa Andrómeda foi sacrificada ao monstro, mas
felizmente foi salva pelo herói Perseu.
Como castigo pela sua vaidade, Zeus colocou Cassiopeia
no céu, mas na humilhante posição de estar de cabeça para baixo, durante o
outono, altura do ano em que a constelação se vê melhor.
Esta constelação, que parece desenhar um “W” no céu,
pode ser usada como método alternativo para encontrar a estrela polar, bastando
para isso traçar a bissetriz do “V” mais largo.
Boas observações.
Ricardo Cardoso Reis
(Planetário do Porto e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço)