DEFESA da FLORESTA - Árvores autóctones serão solução para os incêndios
O
reavivar dos baldios e a aposta em árvores autóctones foram algumas das
soluções apontadas no último Encontro de
Povos da Serra da Lousã, onde se deixou o conselho de ampliar aquilo que a
natureza já diz.
Especialistas
e habitantes dos concelhos que integram a Serra da Lousã reuniram-se no passado mês de julho, no Santo
António das Neves, em Castanheira de Pera, para debater a necessidade de se
repensar o território, após os trágicos incêndios que assolaram o Pinhal
Interior, provocando 64 mortos e mais de 200 feridos.
Durante
a conversa, apontou-se para o turismo, para a necessidade de se criar mais
riqueza com a floresta e para a aposta em folhosas mais resistentes às chamas,
num debate onde também marcou presença a problemática do eucalipto.
«São precisas grandes soluções para que
daqui a 10 anos a situação não se repita», defendeu o engenheiro florestal
e editor da “Foge Comigo!”, Armando
Carvalho, um dos oradores do debate, que decorreu ao ar livre.
O
engenheiro florestal recordou que uma área de sobreiros conseguiu abrandar a
propagação do incêndio numa aldeia de xisto no concelho de Penela, sublinhando
que é necessário «ampliar aquilo que a
natureza está a dizer».
O
argumento foi corroborado pelo biólogo penacovense Carlos Fonseca, utilizando o exemplo dos
medronheiros, que conseguem «actuar
quase como um contrafogo natural».
Além
de ser uma planta mais resistente, «dá mais dinheiro, no mesmo espaço de tempo,
do que o eucalipto», constatou Carlos Fonseca, investigador da Universidade de
Aveiro, que para a semana vai assumir funções na Comissão Técnica Independente
de análise aos incêndios de Pedrógão Grande.
«Este momento zero é uma oportunidade de
fazermos diferente daquilo que fizemos durante décadas», salientou.
Já
Aires Henriques, antigo técnico do Ministério da Agricultura e investigador da
História de Pedrógão Grande, defendeu o ordenamento e parcelamento da floresta
- «sempre falados mas nunca aplicados»
- e a necessidade de se apoiar os proprietários florestais afetados, que são «gente descapitalizada», a maioria com
60 ou 70 anos, que está «na penúria e sem condições para recuperar a área
perdida».
«Há que reavivar a propriedade comunitária»,
defendeu a investigadora da Universidade de Coimbra Rita Serra, lembrando que «há meio milhão de hectares que são posse de
comunidades locais», os baldios, que poderão assumir uma função de
controlo, gestão e também «de
distribuição do valor».
«Temos que pensar o que podemos fazer na
terra não apenas hoje, para nós, mas pensar no que fica para os nossos filhos e
os nossos netos», defendeu ainda José Pais, engenheiro florestal e
administrador da Praia das Rocas, na Castanheira de Pêra.